“Apenas 27% das nossas empresas dizem ter uma estratégia bem definida para a transição digital. Portanto, temos de ajudá-las na identificação deste caminho de evolução” alertou André de Aragão Azevedo, o secretário de Estado para a Transição Digital, no segundo de quatro debates que o Expresso está a dinamizar com a Deloitte sobre o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).
No evento decorrido a dia 25 de fevereiro, o governante identificou as micro, pequenas e médias empresas (PME) como um dos alvos prioritários deste extraordinário envelope de fundos europeus dirigidos à transformação digital da economia portuguesa.
Em causa estão €5.325 milhões, o equivalente a 38% do PRR, quando somados todos os investimentos direta ou indiretamente ligados à transição digital.
As cinco medidas mais emblemáticas destinam-se às Empresas 4.0, à Escola Digital, à qualidade e sustentabilidade das finanças públicas, à justiça económica e ambiente de negócios e, sobretudo, à capacitação, digitalização e interoperabilidade da administração pública.
Mas o governante rebateu as críticas quanto ao excesso de investimento do PRR na administração pública. “É preciso ter a noção de que este valor é, na prática, também um investimento com empresas. São as empresas que vão ajudar a transformar a própria administração pública e, portanto, não é verdade que este valor seja injetado na máquina da administração pública. O que estamos a falar é de injetar em projetos que pretendem eliminar custos de contexto em relação aos quais a administração pública é um dos atores mais relevantes”, explicou.
Quanto ao comércio, em particular, André de Aragão Azevedo avançou o objetivo de "criar condições para que 30 mil micro, pequenas e médias empresas (PME) se possam envolver neste conceito de aceleração de digitalização”. Trata-se de "responder precisamente ao desafio de só 27% das empresas saberem exatamente como devem evoluir em termos de transição digital. Ou seja, temos 73% que precisam de apoio e estes aceleradores pretendem apoiar precisamente isso”.
“Temos uma enorme oportunidade em termos de digitalização do nosso país e de reposicionar Portugal no centro desta segunda globalização. Depois de uma primeira que nós liderámos, enquanto país protagonista dos primeiros Descobrimentos, estamos agora como país que quer também afirmar-se como líder digital no centro desta segunda globalização”, conclui o secretário de Estado para a Transição Digital.
Oportunidades para empresas 4.0
Sérgio Oliveira, partner e ReStart Center for Business Leader da Deloitte, focou as atenções numa das principais oportunidades do PRR para os empresários apostados na recuperação do atraso face ao processo de transformação digital em curso: a componente das Empresas 4.0. que conta com €650 milhões em subvenções.
O objetivo é reforçar as competências digitais dos trabalhadores do setor empresarial e modernizar o modelo de negócio das empresas bem como os seus processos de produção, incluindo a desmaterialização dos fluxos de trabalho. Também passa por criar novos canais digitais de comercialização de produtos e serviços; incorporar tecnologias disruptivas nas propostas de valor das empresas e estimular o empreendedorismo de base digital.
Só para a capacitação digital das empresas, o PRR reservou €150 milhões. “Visa basicamente a criação de dois programas de formação interligados, que envolverão mais de 800 mil formandos, com abordagens inovadoras. Visa, no fundo, ultrapassar algumas lacunas digitais nos trabalhadores, incluindo os funcionários e os próprios empresários”, diz Sérgio Oliveira sobre os programas Academia Portugal Digital e Emprego + Digital 2025.
A dotação mais substancial é para a transição digital das empresas. “Estamos a falar de €400 milhões em subvenções para a transformação dos modelos de negócio das nossas PME e para a sua digitalização, visando uma maior competitividade e resiliência”, acrescenta Sérgio Oliveira sobre esta medida destinada a requalificar 36 mil trabalhadores e a apoiar 30 mil PME.
O consultor destaca ainda os €100 milhões previstos no PRR para a catalisação da transição digital das empresas. “No fundo, o que é que se pretende? Que sejam realizados projetos públicos de catalisação tecnológica, que visem reduzir a utilização de papel mediante a fatura eletrónica; criar um ambiente de negócios mais digital, mais seguro e, sobretudo, mais confiável, através de um conjunto de certificações; e reduzir os chamados custos de contexto, fomentando, obviamente, o desenvolvimento de estruturas que permitam a transferência de conhecimento”.
Sérgio Oliveira alerta que este investimento pretende envolver cerca de quatro mil empresas e atingir uma meta “interessante”: o envio de 1000 milhões de faturas eletrónicas.