Transportes

ANA aponta o controlo de fronteiras como um "problema sério" no aeroporto de Lisboa

Atravessar a fronteira no Aeroporto Humberto Delgado está a demorar em média uma hora, e para a ANA este é um dos problemas mais difíceis de gerir nos aeroportos portugueses. A prejudicar a qualidade de serviço estão também os atrasos provocados pelo planeamento dos voos pela TAP e a gestão do espaço aéreo pela NAV

Ricardo Mussa

Em defesa da concessionária ANA - Aeroportos de Portugal, os presidentes executivo e do conselho de administração, respetivamente Thierry Ligonnière e José Luís Arnaut, vieram apelar aos deputados, na audição desta terça-feira no Parlamento, para que ajudem a resolver os problemas que se estão a sentir no Aeroporto Humberto Delgado (AHD), em Lisboa, no espaço de fronteira, onde se chegam a acumular filas que podem demorar uma a duas horas a passar.

A situação agravou-se com a extinção do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), decidida no governo anterior de António Costa, com a substituição deste serviço pela AIMA e a PSP.

“A Assembleia da República devia preocupar-se com a qualidade de serviços públicos e perguntar-se o que se está a passar com os serviços de fronteiras [no AHD]. Não existem os meios necessários e isto é um problema sério, que não depende de nós”, alertou José Luís Arnaut na Comissão de Economia, Obras Públicas e Habitação, na sequência de um requerimento do PCP sobre a privatização da ANA (concretizada em dezembro de 2012) e os últimos dez anos de gestão.

Arnaut salientou que esta problema está a afetar a qualidade dos serviços prestados no principal aeroporto do país, e que “mata” o turismo que chega a Portugal fora do espaço Schengen. Os tempos de espera, adiantou, podem chegar às duas horas, mas rondam em média atualmente uma hora.

Thierry Ligionnère concorda com o alerta deixado por Arnaut. “Uma das maiores dificuldades que temos de enfrentar é o controlo de fronteiras, a que se acrescenta o dos atrasos nos voos”, aponta o gestor francês. Os responsáveis da ANA avançam que as deficiências no controlo de fronteiras resultam de falta de meios, falam em equipamento de leitura eletrónica por funcionar e balcões de atendimento fechados.

No Aeroporto Francisco Sá Carneiro, no Porto, “não há problemas de controlo de fronteiras, nem de atrasos”, o que faz com que o aeroporto esteja muito bem qualificado em matéria de qualidade de serviço, avançou Thierry Ligonnière.

Thierry Ligonnière lamentou que a NAV não consiga entregar a capacidade de navegação de espaço aéreo declarada, e explicou que neste momento o aeroporto de Lisboa está com 26 saídas por hora, sendo essa a principal causa dos atrasos de Lisboa. Mas o gestor salientou os investimentos que a NAV tem feito e explicou que está a começar a trabalhar-se para que se possa vir a entregar 45 movimentos por hora, como pretende o Governo.

CEO critica atraso nos voos, mas elogia administração da TAP

Os atrasos em Lisboa estão a ser provocados também “por uma causa estrutural que tem a ver com a programação horária dos voos” da TAP, uma “questão que tem vindo a ser tratada pela atual administração”, liderada por Luis Rodrigues. “Temos uma boa relação com a TAP e acho que eles estão a fazer um bom trabalho”, comentou Thierry Ligonnière.

Sobre as críticas aos aumentos da taxas aeroportuárias, o CEO da ANA assegurou que estas “não têm impacto nos aeroportos portugueses”. E avançou que a concessionária tem trabalhado para atrair as companhias para os aeroportos nacionais. “É preciso dizer que damos incentivos às companhias para voarem para Portugal”, frisou.

E explicou, em resposta a uma pergunta de um deputado, que a Ryanair retirou um avião da Madeira não por causa das taxas cobradas pela ANA, mas porque está com falta de aviões, dados os atrasos nas entregas da Boeing. O gestor adiantou que o tráfego cresceu 3,1% na Madeira este ano.