A partir da próxima sexta-feira, 1 dezembro, a Área Metropolitana do Porto (AMP) tem um novo serviço comum de transportes públicos rodoviários. A UNIR será a marca única sob a qual opera a nova rede de autocarros, que cobre todos os municípios da região (à exceção do Porto) e retira destas localidades as várias empresas que até ao final da próxima semana ainda prestam serviços de autocarro.
A nova operação, semelhante à da Carris Metropolitana na Grande Lisboa, acaba com um modelo de concessões linha a linha herdado de 1948, até agora coberto por cerca de 30 empresas privadas — como a AV Feirense, Transdev, UT Carvalhos, Gondomarense, Maré, Valpi, MGC ou Espírito Santo, entre várias outras. Serão a partir de dezembro substituídas por outras, vencedoras do concurso lançado em 2020 pela AMP para servir estas localidades e que aceitaram a concessão.
Os novos transportes do Grande Porto vêm servir a região depois de múltiplas manifestações de desagrado, ao longo dos últimos anos, por parte dos utilizadores para com os serviços de transporte na região.
Apesar do arranque marcado para 1 de dezembro, as concessionárias estarão ainda a receber veículos que renovam a frota existente na AMP e há ainda atrasos na disponibilização de horários nas paragens de autocarro. A AMP alerta para esta fase transitória, para a qual pede “a compreensão de todos”.
Horários e linhas cobrem todos os que já existem
A UNIR abrange, ao todo, 439 linhas, espalhadas por 17 municípios. Os horários, que começaram a ser lançados por região — e que pode consultar aqui, no site da nova rede de autocarros — cobrem toda a operação já realizada anteriormente por todos os operadores privados rodoviários que a nova empresa substitui.
“Tranquilizando as pessoas, todos aqueles [horários] que existiam mantêm-se, e são acrescentados uns tantos”, referiu Eduardo Vítor Rodrigues, presidente da AMP (e da Câmara Municipal de Gaia), garantindo que não haverá “nenhuma desregulação” desses horários.
O presidente da AMP diz, citado pela Lusa, reconhecer “uma grande inquietação, sobretudo de alguns públicos que têm mais dificuldade em olhar e manipular o site [da UNIR] na busca de informação”. Inicialmente, as escalas serão apenas disponibilizadas na internet, mas, “a partir da próxima semana”, surgirão nas paragens de toda a rede postaletes com a identificação das linhas.
Praticamente todas as paragens existentes e que já são utilizadas pelos cidadãos continuarão ativas, algumas com novos nomes, mas, segundo a operadora, várias foram relocalizadas “para maior conforto e segurança dos passageiros”. Foram também adicionados novos pontos de paragem, em locais onde anteriormente não havia serviço de transporte público.
Todas as paragens terão identificação da zona, código e nome da paragem, número das linhas que por lá passam e respetivos destinos.
Está ainda previsto que os horários e a localização exata e em tempo real dos autocarros possam ser consultados através das aplicações de transporte público já usadas na cidade, como a “Move-me”.
O que muda com a UNIR?
Os autocarros da UNIR vão apresentar uma imagem comum em todo o território: azuis e brancos, com elementos coloridos. Alguns têm já sido avistados nas ruas da região, em fase de testes.
A frota, que aproveita vários dos veículos já utilizados, foi renovada com 200 novos autocarros. A empresa diz que 80% dos seus veículos cumprem com as atuais normas ambientais.
A rede incorpora o título Andante (passe ou cartões pré-carregados), mas será possível comprar um título único a bordo.
O território da AMP foi dividido em cinco lotes, cada um atribuído por concurso público a uma empresa ou consórcio. De fora fica o Porto (tirando no início e fim de linhas), onde a Sociedade de Transportes Coletivos do Porto (STCP) continua a deter a exclusividade da operação dentro do município.
A divisão por lotes é a seguinte, abrangendo estes municípios:
- Norte Nascente: Santo Tirso, Valongo, Paredes, Gondomar - operado pela Nex Continental Holdings/Alsa
- Norte Centro: Maia, Matosinhos, Trofa - operado pela Vianorbus (consórcio Barraqueiro e Resende)
- Norte Poente: Póvoa de Varzim, Vila do Conde - operado pela Porto Mobilidade (consórcio Transdev, Auto Viação do Minho e Litoral Norte)
- Sul Nascente: Santa Maria da Feira, São João da Madeira, Arouca, Oliveira de Azeméis, Vale de Cambra - operado pela Xerbus (Xerpa Mobility e Monbus)
- Sul Poente - Vila Nova de Gaia, Espinho - operado pela Transportes Beira Douro (da Auto Viação Feirense)
Os autocarros passarão a estar todos identificados com numeração comum, com números das linhas a ter quatro dígitos (ao contrário dos três da STCP), seguindo uma lógica de atribuição por concelho.
Apesar do acrescento de um dígito, os municípios servidos pela STCP (que o continuarão a ser) mantêm o mesmo inicial das suas linhas, já que em Matosinhos se mantém o 5, na Maia o 6, em Valongo o 7, em Gondomar o 8 e em Vila Nova de Gaia o 9.
A numeração passa a assumir a seguinte lógica (exceto Porto):
- Arouca: 10XX
- Oliveira de Azeméis:123X, 124X (linhas urbanas) e 12XX
- São João da Madeira: 14XX
- Vale de Cambra: 16XX
- Santa Maria da Feira: 20XX e 21XX (rede urbana)
- Póvoa de Varzim: 30XX e 33XX (rede urbana)
- Vila do Conde: 35XX
- Matosinhos: 50XX e 51XX (rede noturna)
- Maia: 60XX
- Trofa: 63XX
- Santo Tirso: 66XX
- Valongo: 70XX
- Paredes: 73XX
- Gondomar: 80XX
- Vila Nova de Gaia: 90XX
- Espinho: 95XX
Saiba aqui a que novas linhas correspondem as antigas.
Várias linhas deixam de passar pela Avenida da República, em Gaia…
Com o arranque da nova rede, muitas linhas provenientes do sul de Gaia e da AMP vão deixar de percorrer a totalidade da Avenida da República, zona por onde passa um grande número de operadores que depois rumam a outros concelhos.
Passarão a fazer conexão com o metro em Santo Ovídio e D. João II: a maior parte das linhas terminam mesmo no terminal de D. João II e outras seguirão para o Porto (terminal das Camélias), pela Avenida da República e Ponte do Infante.
A retirada dos autocarros da Avenida da República, de forma a retirar tráfego destas vias largamente consgestionadas e promover o uso do metro para deslocações nesta zona, está em curso, mas será um “processo gradual”. “Não podemos retirá-las todas, porque isso também seria um transtorno para as pessoas”, considerou Eduardo Vítor Rodrigues.
… e, no Porto, a UNIR só poderá parar nos locais designados
Rui Moreira, presidente da Câmara do Porto, reforçou que todos os veículos que não sejam da STCP só poderão parar nos terminais que lhes são destinados. O autarca criticou a “falta de planeamento” da AMP no arranque de operações da UNIR, “prejudicando o município do Porto”, uma preocupação subscrita pelos vereadores da Câmara.
Justificando a decisão de se manter a STCP como operador exclusivo no município, a autarquia quer deixar claro: “a STCP nada tem que ver com a rede UNIR”.
O Executivo de Rui Moreira negou, ainda, uma nova isenção da taxa de ‘toque’ (tomada e largada de passageiros) nos terminais rodoviários aos futuros operadores de autocarros da rede metropolitana. Os operadores privados da AMP terão de pagar, nos terminais de Campanhã e Camélias, 15 cêntimos por toque e 12 por cada minuto que o ultrapasse, indica o regulamento. Nos últimos meses, várias das empresas privadas de transportes na AMP deixaram de ir até este terminal no Porto devido à necessidade do pagamento desta taxa.
A Câmara do Porto vai impedir a paragem em qualquer outro local que não os terminais designados: os operadores privados da UNIR “vão ter que se conformar com a utilização dos terminais municipais”, diz Rui Moreira, nomeadamente Hospital São João, Campanhã, Bom Sucesso, Casa da Música, Viso e Camélias.
Nova rede de transportes (que demorou mais do que o esperado) custa €312 milhões
De acordo com os dados publicados no portal de contratação pública Base, no total os cinco lotes vão custar 311,6 milhões de euros à AMP durante o período de vigência dos contratos de concessão do serviço público, que é de sete anos.
O preço base do concurso público era de 394 milhões de euros, pelo que a AMP pagará um preço de 82,4 milhões de euros abaixo do previsto aquando do lançamento do procedimento, em janeiro de 2020.
O processo de concurso e implementação dos novos lotes na AMP foi-se arrastando ao longo dos últimos anos devido a múltiplos entraves judiciais e económicos, causados, além da pandemia e a contestação de alguns autarcas, pelas empresas que até agora servem a região, para impugnar o processo, quer pelas empresas que assumem a nova operação, que pretendiam um acelerar do processo.
Resolvidas essas questões, as demoras mais recentes prenderam-se com a divulgação de horários e um adiamento do arranque da operação de novembro para dezembro. O presidente da AMP justificou a demora na divulgação dos horários com a “ausência dos autocarros para o cumprimento de tudo o que está estipulado”.
“Para ter, neste momento, os horários todos disponíveis, nós precisamos, à data de hoje, de ter cerca de 160 motoristas que vieram do estrangeiro, e que estão neste momento em fase de formação, e quase 200 novos autocarros que foram adquiridos pelas várias empresas”, salientou.
A AMP foi “acusada de atirar dezenas de motoristas para o desemprego”, mas Eduardo Vítor Rodrigues contrapõe e constata que “os motoristas que existiam não são são suficientes para a operação”, já que “uma grande percentagem deles ficaram nas empresas de origem” sem transitar para os novos operadores, daí a necessidade de contratar fora.