Transportes

Reunião entre CP e sindicato dos revisores inconclusiva: para já a greve mantém-se

Proposta apresentada pela CP recebeu aval do sindicato dos revisores mas terá agora de ser aprovada pelo Governo e passada a escrito com vista a pôr fim a uma greve que ameaça o transporte ferroviário na semana da Jornada Mundial da Juventude

José Fernandes

A reunião entre a CP e o Sindicato Ferroviário da Revisão Comercial Itinerante (SFRCI) que estava prevista para esta quinta-feira à tarde terminou sem acordo mas com uma perspetiva de entendimento, segundo disse ao Expresso o presidente deste sindicato, Luís Bravo. Para já a greve convocada até 6 de agosto vai manter-se, enquanto não há um entendimento final.

“Foi uma reunião inconclusiva em que foram discutidas soluções às quais o sindicato deu aval, aguardando-se a sua validação por parte das tutelas da CP e concretização”, disse o presidente do SFRCI ao Expresso. Nesse sentido, a greve não foi desconvocada pois “a proposta foi discutida verbalmente, não há nada escrito, a empresa ainda precisará de validar junto do governo”, adiantou Luís Bravo.

Este novo período de greve teve início a 6 de julho e vai até 6 de agosto mas nesta fase a greve incide apenas ao trabalho em período de descanso, ou seja, neste momento os trabalhadores “gozam o seu período de descanso normal como qualquer outro trabalhador”, apenas se recusando a trabalhar nos dias em que estão a descansar, explicou Luís Bravo. Nesse sentido - e tirando a greve da Infraestruturas de Portugal que esta sexta-feira vai suprimir a grande maioria dos comboios em todo o país - o serviço ferroviário só voltará a ser perturbado com intensidade a partir de 21 de julho e em especial na primeira semana de agosto com greve ao trabalho nos comboios especiais e ao aumento da oferta que a CP pretendia ter por causa da Jornada Mundial da Juventude, evento católico que trará o Papa Francisco e cerca de um milhão de jovens a Lisboa. Nessa semana haverá também greve ao serviço regular, o que fará reduzir a oferta habitual de comboios. Ou seja, a manter-se a greve não só não haverá comboios especiais como haverá menos comboios do que é habitual quando o serviço funciona sem falhas.

O ministro das Infraestruturas, João Galamba, declarou-se otimista na terça-feira quanto a um acordo para chegar à paz social na CP, apesar de ter reafirmado que no conflito que opõe o sindicato dos revisores à administração da empresa, quem tem razão é a administração da empresa. A validação do acordo terá de ser feita não só pelo ministério das Infraestruturas como também pelo das Finanças. Qualquer solução terá de ser equilibrada e a margem é muito curta, com ameaças veladas por parte de outros sindicatos de que se houver cedências significativas aos revisores, poderão abrir-se novos frentes de luta dentro da CP, nomeadamente com os maquinistas.

Luís Bravo não explica em que consistem as soluções que diz terem sido discutidas na reunião com a CP: “As negociações continuam”, apenas adiantou, aguardando-se agora uma resposta da CP. Não ficou definida nenhuma data para novo encontro mas “há urgência de ambas as partes na conclusão deste processo”, afirmou.

O SFRCI tem exigido a igualdade de tratamento salarial na CP que diz ter sido posta em causa com o acordo assinado com os maquinistas que levou ao fim das greves desta classe profissional, assim como quer condições que garantam a segurança na circulação dos comboios. Aqui está em causa a exigência de que todos os comboios, incluindo os que não têm passageiros e fazem deslocações para as oficinas, por exemplo, tenham dois trabalhadores, o maquinista e um agente de acompanhamento, papel desempenhado normalmente pelos revisores.

Sobre este último ponto já foi alvo de uma crítica pública por parte do Sindicato dos Maquinistas (SMAQ), que mostra que há uma rutura entre as duas classes profissionais. Disse o SMAQ a 7 de julho: “causa-nos alguma estranheza a alegação sobre falta de segurança emitida por algumas entidades, particularmente quando relacionadas com práticas operacionais consolidadas com mais de 20 anos de exercício diário e continuado e, mais particularmente ainda, por entidades de quem não conhecemos uma única posição, pensamento, ou matéria publicada consistente sobre este assunto, tendo agora subitamente despertado para o assunto e já pretenderem dar lições de cátedra a quem desde sempre se preocupa, empenha e nunca descurou as questões de segurança, que são o cerne da sua profissão”.