Transportes

Revisores da CP anunciam novas greves para a semana da Jornada Mundial da Juventude

Há novas greves parciais convocadas para o período entre 21 de julho e 6 de agosto. Sindicato dos revisores e trabalhadores de bilheteira da CP tinha ameaçado levar a contestação até à semana que trará o Papa Francisco a Lisboa e vai cumprir

José Fernandes

O Sindicato Ferroviário da Revisão e Comercial Itinerante (SFRCI) avançou esta quarta-feira com novo pré-aviso de greve para o período entre 21 de julho e 6 agosto a nível nacional. Serão greves parciais, à semelhança das que decorrem desde 5 de junho, e que coincidem com a realização da Jornada Mundial da Juventude, o evento católico que trará muitos milhares de jovens de todo o mundo a Lisboa – há estimativas a apontar para entre 1 milhão e 1,2 milhões de pessoas a afluir nessa altura ao país.

Numa reunião realizada na terça-feira, o sindicato decidiu endurecer as formas de luta perante o que considera ser a falta de resposta às suas reivindicações, que, basicamente, se resumem a dois pontos: a melhoria das condições salariais de forma a corrigir o que dizem ser a ‘discriminação salarial’ praticada pela CP e a garantia de condições de trabalho e de segurança na circulação de todos os comboios do país, incluindo os que vão vazios para as oficinas, por exemplo, onde apenas é necessária a presença do maquinista – exigem também nestes casos a presença de um agente de acompanhamento por questões de segurança.

Luís Bravo, líder do SFRCI, diz ao Expresso que este novo pré-aviso de greve é o resultado do “impasse negocial” a que se chegou com o Governo e com a CP. “Apresentámos propostas que não tiveram resposta e perante esta situação de desigualdade salarial, extinções de postos de trabalho e condições de trabalho mais degradadas tomámos esta decisão”, acrescenta.

O sindicato já tinha anunciado greve aos comboios especiais que a CP pretende fazer para levar peregrinos de todo o país até Lisboa, assim como comboios com reforço de carruagens para o mesmo efeito, mas agora estende a paralisação na própria semana do evento, não só na região de Lisboa como em todo o país, consumando assim a ameaça que já tinha deixado a meio de junho.

Será o prolongar das greves parciais que desde 5 de junho têm estado a ‘rodar’ por todo o país, o que causa a supressão de vários comboios por dia. A primeira dessas greves ocorreu precisamente em Lisboa entre 5 e 12 de junho. E nesse período a área metropolitana de Lisboa teve quase 800 comboios suprimidos.

A manter-se a situação, a greve não só inviabilizará as intenções da CP de reforço do serviço na área metropolitana de Lisboa durante a primeira semana de agosto e os comboios especiais de diversas cidades do país para Lisboa, de forma a responder à procura de viagens para a Jornada Mundial da Juventude, como também poderá prejudicar fortemente o serviço regular de transporte ferroviário nesse período em que algumas das linhas sofrem um aumento da pressão por causa do turismo.

Na sequência de uma reunião com o secretário de Estado das Infraestruturas, Frederico Francisco, a 29 de junho, o sindicato apresentou propostas que seriam alvo de análise mas a rutura tornou-se evidente a 30 de junho, quando o ministro das Infraestruturas, João Galamba, acusou Luís Bravo de ter feito “afirmações falsas” sobre o processo de negociações com a CP e sobre o tema da discriminação salarial.

"O Governo chegou a acordo com 15 dos 16 sindicatos da CP, já fez um apelo para o fim dessa greve do décimo sexto sindicato”, o SFRCI, disse Galamba. “Consideramos que foram feitas afirmações falsas e que o líder sindical desse sindicato não tem razão, porque a CP já fez aquilo que lhe competia", referiu o ministro.

Em resposta ao ministro, Luís Bravo disse que Galamba estava a ser “mal informado” pela CP e aconselhou-o, em declarações à TSF, a "solicitar à CP as tabelas indiciárias, onde constam o salário base e a atribuição variável" dos trabalhadores, com "o antes e com o depois", para que "todas as dúvidas sejam dissipadas".