Transportes

Gestor da TAP não vê problemas na venda à Iberia, porque o que interessa são os slots

Ramiro Sequeira acionou seguro para levar advogado para a audição parlamentar

Antonio Pedro Ferreira

O gestor executivo da TAP, que foi já seu presidente executivo, Ramiro Sequeira, não vê problemas na venda da companhia aérea à Iberia (onde trabalhou). Embora comentando apenas “conceptualmente”, essa é a conclusão que é possível tirar da sua consideração sobre a privatização da empresa, processo em curso, que deixou na Comissão Parlamentar de Inquérito à TAP esta quarta-feira, 10 de maio.

Respondendo às críticas que são feitas pela possível venda da TAP à Iberia, com centro de operações e voos (hub) em Madrid, como a assumida por Humberto Pedrosa na terça-feira, o atual gestor da companhia aérea contestou: “Eu não vejo tão linear assim”.

Assumindo o seu passado na empresa, quis apenas falar de forma “conceptual” e aplicando-o a “diferentes empresas e situações: o maior valor nestas andanças, um dos maiores assets [ativos], são os slots. Aviões compram-se, alugam-se, mas os slots são uma coisa muito específica. Que diz que tenho o histórico que vou de Lisboa para o Rio e aquele é o horário que mais procura tem. Se respeitar continuamente aquele horário, não se consegue tirar este slot à companhia A ou B”, declarou.

Por isso, continuou o gestor que esteve na Vuellng e na Iberia, se há um investimento numa companhia aérea, não tem incentivo para “desviar a capacidade para outro aeroporto”: “estaria a danificar o investimento”. “Não vejo tão lógico a questão do aeroporto A ou B, ou da companhia A ou B de serem canibalizados”, continuou Ramiro Sequeira.

Antonio Pedro Ferreira

Seguro acionado

Esta foi uma audição que, pese embora esteja na empresa desde 2018, não se prolongou por muito tempo, depois de um início com a mudança de presidência (António Lacerda Sales a substituir Jorge Seguro Sanches).

Ramiro Sequeira – que acionou o seguro para gestores para ser acompanhado por advogado pessoal para a audição, bem como pela diretora jurídica da TAP, Manuela Simões – foi-se afastando de dar opiniões, e também foi dizendo que pouco sabia sobre vários assuntos.

Aliás, um deles foram os próprios resultados trimestrais da TAP, prejuízos de 57 milhões de euros, que não soube comentar. Também da própria privatização não fez comentários, já que disse que estava muito centralizada na anterior presidente executiva e o administrador financeiro, Gonçalo Pires.

Antonio Pedro Ferreira

Auditoria para detetar prémios irregulares por conhecer

Em relação aos prémios e indemnizações a antigos gestores, como a pré-reforma de 1,3 milhões a um antigo administrador, Maximilian Otto Urbahn, Ramiro Sequeira pouco comentou. Disse que a Comissão Executiva foi informada do caso já anos depois da sua execução e que só aí é que foram levantadas dúvidas. E esse pagamento passou a ser contestado pela TAP.

Mas a empresa decidiu fazer uma “auditoria a prémios e indemnizações”, precisamente por conta do caso desse administrador: “foi o motivo para perceber se havia mais casos a serem identificados”. Mas, por agora, pelo menos do que seja do conhecimento de Sequeira, nada há de novo.

Sobre o passado, Ramiro Sequeira também considerou que não viu divergências tão grandes entre Alexandra Reis e a presidente executiva, Christine Ourmières-Widener, que fizessem suspeitar da saída da gestora. Além disso, também referiu que a empresa funcionava normalmente apesar das divergências que a ex-CEO considerou inultrapassáveis: “A meu ver, nunca foram deixadas de ser tomadas decisões para o bom funcionamento da empresa por qualquer tipo de divergência entre estas duas pessoas ou qualquer outra pessoa".