Transportes

Divergências entre Christine e Alexandra Reis não punham em causa o funcionamento da TAP

Ramiro Sequeira, gestor da TAP que chegou a ser presidente interino, não sabe se as divergências que separavam as colegas da liderança da TAP eram irreconciliáveis, mas é certo que a empresa continuava a sua vida. Aliás, foi surpreendido pela saída de Alexandra Reis, da qual não foi informado

Antonio Pedro Ferreira

A TAP pagou meio milhão de euros – até esteve em cima da mesa 1,5 milhões – para afastar Alexandra Reis da sua administração executiva. Os trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) à TAP já deram a entender que foi a presidente executiva, Christine Ourmières-Widener, que quis demitir aquela gestora, por divergências que classificou como “irreconciliáveis”. Porém, o também gestor executivo da TAP Ramiro Sequeira não se apercebeu de qualquer problema que colocasse a empresa em causa: “A meu ver, nunca foram deixadas de ser tomadas decisões para o bom funcionamento da empresa por qualquer tipo de divergência entre estas duas pessoas ou qualquer outra pessoa”, declarou Ramiro Sequeira aos deputados na audição desta quarta-feira, 10 de maio, da CPI à TAP, que salvaguardou ser difícil “definir divergências” por ser “relativa” quanto a cada pessoa.

Não consigo avaliar o nível de divergências que ambas tinham, porque eu presenciava os momentos que tínhamos em comissão executiva. Não tenho capacidade para fazer essa avaliação, para avaliar se eram inultrapassáveis”, declarou. “É certo que em qualquer comissão executiva havia momentos em que havia opiniões divergentes”, continuou Ramiro Sequeira, que chegou à administração em 2018.

Alexandra Reis saiu em fevereiro de 2022 da TAP, cinco anos depois de entrar na empresa, com uma indemnização de 500 mil euros que foi considerada ilegal por desrespeitar o Estatuto do Gestor Público. Ramiro Sequeira, que foi seu colega, disse não ter tido “conhecimento prévio” da intenção da CEO de afastar a sua colega. “Tive conhecimento quando foi formalizado”, disse.

Aliás, Ramiro Sequeira “não antecipava” que a saída de Alexandra Reis estava iminente. Sabe-se que Christine Ourmières-Widener liderou o processo, e que Manuel Beja, presidente da administração, foi sendo informado e que também assinou a sua saída, daí que ambos tenham sido afastados pelo Governo da companhia aérea. O administrador financeiro, Gonçalo Pires, negou qualquer conhecimento prévio, mas os deputados têm na sua posse documentos que mostram que tinha sido informado mais cedo.

O gestor da TAP, que chegou a ser presidente interino entre 2020 e 2021 quando se deu a saída de David Neeleman da estrutura acionista, declarou que conhecia que a TAP se enquadrava no Estatuto de Gestor Público, mas também ressalvou que não se recordava que as implicações da transição de uma empresa privada para pública tenham sido transmitidas de forma “exaustiva”.

TAP esteve em causa” noutra altura

Sobre o período em que foi presidente interino, Ramiro Sequeira assumiu que, nesse momento, sim, “a sobrevivência da TAP esteve em causa”.

“Sinceramente, na altura em que fui convidado para conduzir a TAP num momento muito crítico, não pude deixar de assumir que existiram vários fatores que fariam com que o desafio pudesse não correr bem, quer para a TAP, quer para mim. Estarmos aqui hoje pode levar a crer que algo não correu bem. Mas a TAP sobreviveu, manteve-se praticamente intacta a nível de dimensão e trabalhadores e ainda assim conseguiu atingir resultados positivos”, declarou.

Perante os deputados (já sob a presidência de António Lacerda Sales), e quando terminou a sua intervenção inicial, Ramiro Sequeira terminou com uma citação que disse ser de um filósofo: “O papel de um rei é praticar o bem e saber receber censuras”.