O ministro das Finanças, Fernando Medina, convidou Alexandra Reis para ser sua secretária de Estado do Tesouro, e, na conversa que então mantiveram, em novembro de 2022, não houve qualquer discussão sobre a sua saída da TAP, nem sequer sobre o processo de privatização da companhia aérea.
“Fui administradora da TAP e da NAV quando tive a conversa com o sr. ministro das Finanças. Não falámos nem de uma, nem de outra. Não falámos do processo de privatização da TAP. Não tenho memória de termos falado sobre isso na conversa”, disse aos deputados a ex-administradora que saiu da TAP em janeiro de 2022, que seguiu para a NAV em julho de 2022 e que em dezembro seguiu para secretária de Estado do Tesouro.
E repetiu: “Na conversa com o ministro das Finanças, confirmo que não falei do meu processo de saída da TAP, nem sobre a indemnização. Esse tema não foi abordado”, continuou a antiga gestora, que saiu da companhia aérea “empurrada” pela presidente executiva e com uma indemnização de 500 mil euros.
A privatização da TAP já estava em cima da mesa quando Alexandra Reis foi para o Governo, em dezembro de 2022, mas o governante não a questionou sobre a companhia onde tinha estado durante cinco anos, dois deles enquanto administradora. Alexandra Reis diz que, como governante, não iria ter a tutela da privatização, que ficariam exclusivamente no colega das Finanças, João Nuno Mendes.
Em relação à indemnização, o ministro das Finanças já declarou que só tomou conhecimento do tema quando foi noticiada, já era Alexandra Reis secretária de Estado do Tesouro, nos 25 dias em que esteve em funções até se demitir.
Relações profissionais com a mulher de Medina
Na TAP, Alexandra Reis trabalhou com a mulher do ministro das Finanças, Stephanie Sá Silva, que era a diretora dos serviços jurídicos. Questionada sobre se foi ela que a recomendou ao ministro, a ex-gestora disse nem sequer ter pensado nesse assunto.
“Tinha uma relação pessoal com ela muito boa, mas estritamente profissional, e não falávamos da minha vida pessoal, nem da vida pessoal dela”, sublinhou. Também era “estritamente profissional” a relação com o ministro das Finanças.
Alexandra e Stephanie encontraram-se pessoalmente fora da TAP quatro vezes, duas delas em 2022, após sair da transportadora. "Recordo-me de dois almoços com a dra. Stefanie Sá e Silva. Um deles porque tínhamos estado fora da empresa em trabalho, e decidimos almoçar. E não foi um almoço a dois", conta. Afirma depois que falaram duas vezes em 2022, já após a saída de funções: “Tomámos um pequeno almoço e tivemos um almoço. Acontece com as pessoas com quem trabalhei fora da empresa, por vezes encontrar-me com elas”, avança. “São conversas normais que tenho com antigos colegas, de empresas por onde passei”, atestou.
A ida para a NAV
O convite para a presidência da NAV, onde ficou cinco meses antes de ir para secretaria de Estado do Tesouro, partiu do Governo em março, mês e meio após abandonar a TAP. Quando ingressou, falou com advogados por conta da necessidade de entregar as declarações do Tribunal de Contas e por conta da elaboração de um contrato de gestão, exigido aos gestores públicos para ali serem indicados os seus objetivos para até poderem ser pagos prémios.
Apesar dessas preocupações, não houve igual entendimento em relação à indemnização que havia recebida da TAP. O Estatuto do Gestor Público prevê que deva entregar a indemnização (ou a diferença face à remuneração a receber), mas essa questão não foi por si levantada, nem pela sociedade de advogados SRS, com quem trabalhou.
A remuneração auferida na NAV era pouco mais de 8 mil euros, que está tabelado para as principais empresas do sector empresarial do Estado, disse ao depurado Bruno Dias do PCP.