O Governo não vai impedir a Caixa Geral de Depósitos de analisar e ponderar aquisições de outros bancos, como é o caso do Novo Banco, atualmente a preparar o seu processo de venda, segundo confirmou esta sexta-feira o ministro das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento.
“Nós respeitamos a autonomia de gestão da CGD. A CGD fará a avaliação que entender daquilo que são as condições de mercado e desenvolvimentos futuros de mercado. Se entender fazer a avaliação, o Governo tomará decisões com base nessa avaliação”, afirmou o ministro das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento, no ISEG, esta sexta-feira, 31 de janeiro, em declarações veiculadas pela CNN Portugal.
O Jornal Económico noticia esta sexta-feira que o Governo é favorável a uma solução nacional para o futuro do Novo Banco, atualmente em processo de venda por parte dos seus acionistas Lone Star, Fundo de Resolução e a própria Direção-Geral do Tesouro e Finanças, que tem uma posição de 11%.
Ou seja, na prática, a CGD e o Novo Banco têm, neste momento, um acionista em comum: um detido a 100% pelo Estado, o outro a 11%.
Os planos que o Governo conhece, segundo disse Miranda Sarmento, é para a venda de entre 20% a 30% do capital do Novo Banco em bolsa, não a sua totalidade. Mas o Expresso já noticiou que são vários os cenários em cima da mesa, inclusive até uma conjugação entre uma venda direta a um investidor e a colocação de capital em bolsa. Mas seja como for, é uma movimentação com um operador capaz de mexer com o ranking de maiores bancos nacionais, que a Caixa Geral de Depósitos lidera.
A gestão de Paulo Macedo tem vindo a dizer que não tem interesse em aquisições, mas que, havendo movimentações no sector que coloquem em risco a sua liderança, irá atuar.
Na Caixa, sabe o Expresso, também há a perspetiva de que o Governo nunca permitiria que mais de 50% do mercado ficasse nas mãos de grupos espanhóis, tendo em conta o poder que hoje em dia o Santander e o Banco BPI (detido pelo CaixaBank) já têm. Macedo foi convidado por Miranda Sarmento para permanecer à frente do banco público.
CGD ganhou músculo financeiro
A CGD recebeu 3,9 mil milhões de euros do Estado em 2016, no âmbito de um plano de capitalização que limpou o banco das perdas registadas na década anterior. Desses, 2,5 mil milhões foram injetados diretamente pelo Estado (montante que o banco já devolveu através de dividendos nos últimos anos), os restantes foram colocados através do não pagamento de dívida e da integração de uma empresa pública.
Com lucros recorde, o banco público tem vindo a reforçar os seus rácios de solidez, dando-lhe maior músculo para uma operação do género. E o Governo confirmou hoje que isso é mesmo algo que pode acontecer.
Interesses e negas
O Jornal Económico noticia que Caixa, BCP e CaixaBank têm já equipas a olhar para o dossiê Novo Banco, sendo que nenhum dos bancos se exclui até agora desta transação, ainda que nenhum mostre grande entusiasmo. Ainda ontem, e embora o plano estratégico do CaixaBank não conte com aquisições, o líder do BPI lembrou que o grupo catalão tem experiência na consolidação.
Mas com um banco com uma presença forte no crédito a empresas à venda, com mais de 4000 trabalhadores, todos os bancos têm de olhar para perceber qual o risco e qual a oportunidade.
Entretanto, de Espanha, e com os dados que estão em cima da mesa, já houve negas. O Bankinter disse que está mais virado para crescimento orgânico; o Abanca, depois de adquirido o EuroBic, disse estar fora de mais aquisições este ano.
Ministro chamado ao Parlamento
Pouco tempo depois de Miranda Sarmento admitir uma operação de consolidação com o Novo Banco, ao colocar a decisão nas mãos da gestão da Caixa Geral de Depósitos, o Bloco de Esquerda chamou-o ao Parlamento.
“No passado, o PSD teve a tentação de privatizar a CGD. É importante garantir que, à boleia deste negócio, desta intenção de comprar o Novo Banco, não vem qualquer intenção de privatização total ou parcial escondida”, comentou Mariana Mortágua em declarações aos jornalistas, no Parlamento.
Sendo o banco líder e o único que pertence ao Estado, a coordenadora do Bloco defende que é “muito importante que estas decisões possam ser transparentes e escrutinadas”.