Sistema financeiro

Caixa Geral de Depósitos lucra €889 milhões até junho

Banco público melhorou o resultado líquido no primeiro semestre em 46%, face ao período homólogo. Atividade em Portugal contribuiu com 791 milhões de euros

A Caixa Geral de Depósitos (CGD) obteve um lucro de 889 milhões de euros no primeiro semestre do ano, crescendo 46% em relação aos 608 milhões reportados no período homólogo, informou esta quarta-feira o banco público à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM),

Enquanto a operação em Portugal foi responsável por 791 milhões de euros, mais 56% comparativamente com junho do ano passado, a atividade internacional contribuiu com 99 milhões, o que traduz um decréscimo de cerca de 2%, provocado pelo efeito negativo de variações cambiais, particularmente em Angola.

Este resultado vai permitir à Caixa pagar ao Estado um dividendo adicional de 300 milhões de euros aos 525 milhões já pagos, reembolsando integralmente a recapitalização pública em dinheiro realizada em 2017, após o pagamento de 100% da componente de dívida privada. Em IRC, pagará um total de 840 milhões, dos quais 417 milhões referentes a 2024.

De salientar que, na primeira metade de 2024, os níveis de rendibilidade do banco seguiam em trajetória ascendente, com o ROE (rácio que mede a capacidade de retorno para o acionista) a melhorar 5,2 pontos percentuais, para 18,7%.

Lucros vão superar os de 2023?

Embora a previsão seja a de um segundo semestre mais fraco, Paulo Moita de Macedo, presidente executivo da CGD, confirmou, por ocasião da apresentação dos resultados, que ocorreu esta quarta-feira, na Culturgest, que é possível os lucros anuais superarem os de 2023, caso não haja “nenhuma atuação extraordinária” por parte do Banco Central Europeu.

Durante os primeiros seis meses de 2024, as taxas de juro tiveram uma redução mais lenta face ao que os banqueiros previam, mas nem por isso a margem financeira deixou de alavancar as contas. A diferença entre os juros pagos nos empréstimos e o valor pago nos depósitos permitiu ao banco encaixar 1426 milhões de euros, em termos consolidados, ou seja, mais 8% em termos homólogos.

Já as comissões renderam à Caixa um total de 289 milhões de euros, verificando-se uma estabilização, num contexto de alterações legislativas que proíbem os bancos de cobrar aos clientes por determinados serviços, nomeadamente no âmbito do crédito à habitação. A instituição financeira decidiu também pela manutenção dos preçários em 2023 e 2024.

Poupanças e empréstimos com evolução positiva

O balanço da Caixa Geral de Depósitos em Portugal revela que os depósitos de clientes se fixaram nos 72,9 mil milhões de euros, após um avanço de 6% relativamente à primeira metade do ano anterior - o motivo, explicou Macedo, está “nas taxas mais competitivas do mercado”. Contabilizando a atividade internacional, o montante subiu para 83,6 mil milhões.

Do outro lado, o crédito a clientes totalizou 46,1 mil milhões de euros, o que representa um crescimento de 1,7% face a junho de 2023. Houve crescimentos a registar em todos os segmentos: o financiamento às empresas subiu 2,5%, para 20,3 mil milhões; ao consumo aumentou 8,4%, para 1146 milhões; e habitação totalizou 24,6 mil milhões, mais 0,7%.

Em termos da qualidade dos ativos, o banco registou um rácio de NPL (malparado) consolidado de 1,66%, permanecendo o rácio de NPL líquido de imparidades totais em 0%.

"É preciso clarificar a garantia pública"

Sobre os empréstimos para compra de casa, o líder da CGD informou que a produção de novo crédito aumentou quase 40%, face ao semestre homólogo, com as operações a taxa fixa ou mista a assumirem-se uma preferência dos clientes. Acrescentou ainda que para essa evolução contribuíram a estabilidade do mercado de emprego e a diminuição das taxas de juro.

Fator “negativo” que também impulsionou a procura de crédito para comprar casa foi a “instabilidade do mercado de arrendamento. “Portugal deveria ter mais arrendamento, mas, infelizmente, não há porque não existe uma oferta estruturada”, lamentou o CEO do banco público.

Sobre o diploma da garantia pública para os jovens entre os 18 e os 35 anos que comprem a sua primeira habitação própria a permanente, Paulo Moita de Macedo disse que é preciso clarificar “como é que se joga com o financiamento a 100%”, tendo em conta critérios como a taxa de esforço e a maturidade do empréstimo. “Há conversas nesse sentido entre autoridades”, confirmou.

Indicando ser uma medida positiva, pelo lado da fiscalidade para os jovens, o presidente executivo rematou que a Caixa “cá estará para financiar esses imóveis a pessoas que tenham condições, ainda que sabendo que abrangerá apenas um grupo de jovens”.