Sistema financeiro

Lucros da Caixa disparam para €1,3 mil milhões: banco paga 525 milhões em dividendos ao Estado

Banco público seguiu o comportamento do sector e viu os lucros dispararem. Resultado líquido foi de 1291 milhões de euros, um crescimento de 49%. Dividendo a pagar supera o previsto por Medina

RODRIGO ANTUNES/Lusa

Os lucros da Caixa Geral de Depósitos atingiram os 1291 milhões de euros em 2023, o mais alto montante alguma vez alcançado. O número compara com os 843 milhões reportados em 2022, o que corresponde a um aumento de 53%.

As contas do banco público seguiram aquilo que ocorreu em todos os congéneres privados, beneficiando da subida das taxas de juro determinadas pelo Banco Central Europeu (BCE). Um lucro recorde apresentado por Paulo Macedo a 15 de março, duas semanas mais tarde do que há um ano, evitando assim a apresentação de contas durante o período de campanha eleitoral.

Como o Expresso deu conta, este lucro junta-se aos resultados obtidos desde 2017 (4500 milhões de euros) que mais do que compensam os prejuízos registados de 2011 a 2016 (3838 milhões de euros).

Dividendo de 525 milhões

Na conferência de imprensa desta sexta-feira, em Lisboa, Paulo Macedo anunciou o pagamento de 525 milhões de euros em dividendos, mais 64 milhões do que os 461 milhões que estavam previstos no Orçamento do Estado.

A política de dividendos da Caixa prevê o pagamento de cerca de 40% do lucro ao Estado. Com lucros acima do estimado, também os dividendos superam o previsto, ajudando as contas do próximo Governo, previsivelmente da Aliança Democrática.

Com o valor agora anunciado, a CGD acumula 2200 milhões de euros em dividendos ao Estado desde a capitalização, faltando apenas 300 milhões de euros para os 2500 milhões injetados em dinheiro fresco em 2017 (faltando ainda bastante mais face aos 3,9 mil milhões de dinheiro estatal envolvido - mas a gestão retira das contas os CoCos emitidos em anos anteriores e naquele ano dados como perdidos).

Segundo disse o presidente executivo, o resultado nas operações internacionais é “o maior de sempre”, mesmo que hoje haja menos instituições no estrangeiro (e ainda ontem o Governo selecionou o comprador do Banco Comercial Atlântico, em Cabo Verde): foram 206 milhões de euros. Mesmo assim, a atividade nacional rendeu, sozinha, mais de 1000 milhões, algo inédito.

Margem com juros mais do que duplica

A beneficiar os resultados do banco público esteve sobretudo a subida dos juros do BCE, que impôs juros mais altos aos clientes bancários.

A margem financeira (que resulta da diferença entre os juros recebidos em créditos de clientes e juros pagos em depósitos aos clientes) mais do que duplicou em relação ao ano anterior, aproximando-se dos 2,9 mil milhões de euros em 2023, quando pouco passava dos 1,4 mil milhões em 2022.

A nível das comissões, houve um ligeiro recuo, de 7%, para 565 milhões de euros, que Paulo Macedo defende ser da decisão de não agravar o preçário no ano passado, tendo anunciado que fará o mesmo este ano: “Em 2024 não iremos agravar o preçário das comissões”. Uma política que o banco pode ter, tendo em conta os ganhos significativos que registou na margem de juros.

Custos caem 15%

A soma de todas as rubricas de proveitos atingiu os 3,6 mil milhões de euros, mais 56% em termos homólogos. No campo dos custos, houve uma diminuição de 15% dos custos para os mil milhões de euros.

A descida é registada, em especial, nos custos com pessoal, tendo em conta que a transferência do fundo de pensões, feita em 2022, tinha-os inflacionado. A Caixa registou uma quebra de 4% do quadro de pessoal, totalizando 6243 trabalhadores.

O banco defende que em termos recorrentes houve um aumento de custos na ordem dos 3%.

Imparidades disparam quase €700 milhões e limitam lucro ainda maior

A rubrica de provisões e imparidades disparou quase 700 milhões de euros, o que mostra que o banco decidiu aproveitar ganhos extraordinários com a subida de juros para construir almofadas para eventualidades (e, pelo caminho, o lucro recorde é menos sólido).

Deste montante, “206 milhões de euros dizem respeito a riscos de crédito, com o objetivo de fazer face à incerteza económica”, sendo que a Caixa também justifica as provisões com o reforço para a reestruturação e a alienação de carteira de ativos, entre outros.

A contribuir para as contas, houve ainda alguns fatores adicionais que ajudaram as contas da Caixa: a venda de ativos que tinham ficado no banco depois da venda do fundo de pensões ao Estado; a mais-valia da venda da sede, de 82 milhões de euros. Tendo em conta os resultados, a CGD pagou impostos de 623 milhões, face aos 271 milhões em 2022.

Menos créditos, menos depósitos, mais capital

No ano passado, a CGD deu menos 0,7% do crédito, com quedas em Portugal e no estrangeiro, registando também um recuo de 3,2% dos recursos de clientes (depósitos, sobretudo, mas também fundos e seguros, fora de balanço).

Mesmo após a distribuição de dividendos, o principal rácio de capital do banco ficou em 20,3%, face aos 18,7% do período homólogo.

Notícia em atualização; corrigido lucro inicialmente avançado, com erro na casa das dezenas