O Banco BPI vai pagar 517 milhões de euros ao seu acionista único, o CaixaBank, sob a forma de dividendos, um número que corresponde a uma quase duplicação dos resultados face ao ano anterior, segundo informou a instituição à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM). É, aliás, o maior valor de sempre recebido pelo grupo espanhol desde que é o acionista único do banco português.
“O Banco BPI informa que o seu acionista único CaixaBank, S.A., por deliberação unânime por escrito, aprovou o Relatório de Gestão, as contas individuais e consolidadas e demais documentos de prestação de contas do Banco BPI relativos ao exercício de 2023, assim como a proposta apresentada pelo Conselho de Administração do Banco BPI para a distribuição de dividendos, referentes aos resultados de 2023, no montante de 516 991 601,00 euros”, segundo a nota.
Os dividendos são a parcela de lucros com que as empresas remuneram os acionistas e, tendo em conta os lucros recorde inflacionados pelos juros nos créditos, os dividendos também vão disparar. João Pedro Oliveira e Costa, presidente executivo, já tinha dito que haveria dividendos, mas um número que permitiria “manter um rácio de capital prudente e permitir o investimento em termos de renovação e transformação do banco”. A política de dividendos do banco prevê que o dividendo corresponda a 65% do resultado em Portugal, acrescido da totalidade dos dividendos recebidos dos bancos em Angola e Moçambique.
Em Portugal, o Banco BPI obteve um lucro de 444 milhões de euros (mais 86% do que no ano anterior). Já o lucro consolidado, que incorpora os resultados dos bancos em Angola e Moçambique, foi de 524 milhões de euros. Assim, o lucro corresponde a cerca de 99% do lucro consolidado.
O valor dos dividendos do BPI (banco que recentemente se viu envolvido numa polémica entre dois dos seus gestores) corresponde aos 284 milhões de euros distribuídos ao CaixaBank em 2022, que comparavam com os 194 milhões de 2021. Os responsáveis de bancos têm dito que o capital investido pelos acionistas não foi, até ao ano passado, compensado pelo retorno, e, no caso do BPI, sublinham que o retorno pago ao CaixaBank, depois, acaba por refletir-se na economia nacional, inclusivamente através da Fundação CaixaBank.
A remuneração acionista este ano é feita após os alertas do Banco de Portugal de que é preciso prudência, tendo em conta que os lucros recorde não se vão manter (as taxas de juro dos créditos pararam de subir e o intervalo face aos juros dos depósitos minguou). Aliás, este pagamento é feito tendo em conta que, em outubro, serão impostas novas almofadas de capital aos bancos nacionais devido à exposição ao crédito imobiliário residencial.
No fim do ano passado, também o Fundo Monetário Internacional tinha deixado um pedido de contenção à banca europeia: “É necessário que os bancos sejam capitalizados, inclusive os bancos portugueses, e estamos a sugerir que os bancos na fase atual aumentem os seus fundos próprios e as suas reservas de capital e que se abstenham, na medida do possível, de pagar todo o acréscimo dos lucros através de dividendos”.