Hafize Gaye Erkan, governadora do Banco Central da Turquia desde junho de 2023 até ao início de fevereiro, dizia que a vida estava cara. Tão cara que teve de se mudar para casa dos pais. Ao diário turco “Hürriyet”, citada pela Lusa, a gestora de 44 anos, com uma carreira no setor financeiro norte-americano, lamentou o estado do mercado imobiliário da cidade do Bósforo: "Não conseguimos encontrar uma casa em Istambul. Tudo é muito caro. Mudámo-nos para casa da minha mãe". E interrogava-se: "Como é possível que Istambul seja mais cara do que Manhattan?".
As palavras de uma governadora de um banco central que diz que teve de voltar ao ninho parental devido à inflação dos preços do imobiliário espalharam-se rapidamente pelo mundo. Não há registo, que se saiba, de governadores em dificuldades financeiras. E não passou despercebida a ironia de uma líder de uma autoridade monetária a queixar-se do descontrolo da inflação, a principal responsabilidade dos bancos centrais deste planeta.
Erkan demitir-se-ia no dia 2 de fevereiro alegando uma campanha negra contra si. “Como é do conhecimento do público, foi recentemente organizada contra mim uma grande campanha de assassinato de carácter. Para evitar que a minha família e o meu filho inocente, que não tem nem um ano e meio de idade, sejam ainda mais afetados por este processo, pedi” a demissão, disse na rede social X, o antigo Twitter. Contudo, horas mais tarde, um decreto presidencial apresentava a governadora como tendo sido demitida pelo líder turco Recep Tayyip Erdoğan.
A história era mais complexa e mostra as “costuras” de um banco central com discordâncias internas e demasiado perto do poder político para ser verdadeiramente independente.