Sistema financeiro

Mudanças no Banco Europeu de Investimento: Espanha ganha presidente, Portugal perde vice-presidente 

Ricardo Mourinho Félix abandonou no fim de 2023 a vice-presidência do BEI, que ocupou três anos antes. A espanhola Nádia Calviño ficará agora seis anos à frente do BEI, uma escolha que teve o apoio de Portugal

Ricardo Mourinho Félix, deixou a vice-presidente do BEI e regressou ao Banco de Portugal
NUNO BOTELHO

A espanhola Nadia Calviño já assumiu funções como a nova presidente do Banco Europeu de Investimento (BEI), um cargo que passou a ocupar praticamente ao mesmo tempo que o português Ricardo Mourinho Félix deixou a vice-presidência. Serão seis anos de mandato, contra os três do antigo secretário de Estado das Finanças português.

A indicação da saída de Mourinho Félix, que integrava o BEI desde 2020, depois de deixar o Governo de António Costa, já havia sido noticiada pelo Expresso e foi agora confirmada pelo próprio numa nota deixada na rede social LinkedIn. “Os últimos três anos estão entre os mais desafiantes e os mais recompensadores da minha vida profissional”, escreveu.

Ricardo Mourinho Félix é quadro do Banco de Portugal, de onde saíra em 2015 para integrar o Ministério das Finanças, então liderado por Mário Centeno. Em 2020, Centeno transitou para governador do Banco de Portugal e Mourinho Félix saiu da Secretaria de Estado das Finanças, não tendo integrado a equipa do sucessor, João Leão. No final de 2020 passou para o BEI, sendo que pelo meio tinha estado uns meses no Banco de Portugal como economista. Agora, prepara-se para regressar à autoridade bancária. Não foi possível obter resposta de Mourinho Félix sobre a nova fase da vida profissional.

Mourinho Félix era um dos vice-presidentes do BEI na presidência do alemão Werner Hoyer. Agora, entra a antiga ministra espanhola Nádia Calviño para aquela função (é a oitava ocupante do cargo, mas a primeira mulher). Saiu vencedora da corrida em que defrontava, sobretudo, a dinamarquesa que é vice-presidente da Comissão Europeia, Margrethe Vestager, mas também alguns dos vice-presidentes do BEI que agora vai liderar.

Foram os ministros das Finanças da União Europeia que determinaram a escolha (são eles que votam) e Portugal, através de Fernando Medina, aprovava a candidatura de Calviño, mas a escolha demorou mais do que o esperado.

Nadia Calviño
Reuters

Aliás, Portugal e Espanha costumam dividir um lugar na instituição (Mourinho Félix entrou após a saída de uma espanhola), mas o mandato de Calviño será de presidente por seis anos, enquanto o do português se limitou a três anos. No passado, Carlos Costa, antes de ser governador do Banco de Portugal, e José Oliveira Costa, que dirigiu o nacionalizado Banco Português de Negócios, ocuparam a vice-presidência ibérica. Agora, Portugal abdica de uma vice-presidência, e os dois países estão representados apenas na presidência.

Os atuais vice-presidentes, que têm mandatos desencontrados (não começam todos ao mesmo tempo), são do Luxemburgo, Suécia, Polónia, Bélgica, Itália, Chipre e Alemanha. Há ainda uma vaga sobrante para esta instituição de promoção financeira da União Europeia, a maior instituição financeira multilateral que financia e dinamiza projetos dentro e fora da região. O BEI é visto como uma instituição com um papel central na mobilização de verbas para financiamentos verdes (transição climática) e digitais, sendo que no período de Mourinho Félix estava centrado no investimento para compensar o impacto da pandemia de covid-19.

Em 2022, o BEI investiu 1,7 mil milhões de euros em Portugal, que foi o sexto maior beneficiário da UE, em valores que Mourinho Félix acreditava que se iriam repetir em 2023. Um dos últimos contratos celebrados foi um financiamento de 115 milhões à portuguesa Navigator, para construir e operar uma caldeira.