Sistema financeiro

Descida do preço das casas e aumento do incumprimento, mas também crise política: os riscos da economia portuguesa

No seu mais recente relatório, divulgado esta quarta-feira, o Banco de Portugal vê mais riscos para a estabilidade financeira e o imobiliário continua a constar da lista de preocupações

Conferência de imprensa do relatório de estabilidade financeira com o governador do Banco de Portugal Mário Centeno e da Vice-Governadora Clara Raposo. © Nuno Fox
Nuno Fox

Uma eventual descida do preço das casas continua a ser um dos riscos que o Banco de Portugal (BdP) encontra na economia portuguesa, segundo descreve a instituição no Relatório de Estabilidade Financeira que foi publicado esta quarta-feira, 22 de novembro.

“Uma correção de preços no mercado imobiliário residencial” consta dos “principais riscos e vulnerabilidades” para a estabilidade financeira, e é, aliás, a razão para ter anunciado uma nova medida que obriga os bancos a pôr dinheiro de lado para precaver eventuais perdas nos preços das casas.

O Banco de Portugal tem dito que não vê problemas pela frente, mas assume que este é um risco - mesmo depois de no primeiro semestre os preços das casas terem continuado a subir. O risco com o imobiliário já constava do relatório anterior, sendo que se tem vindo a perpetuar como um alerta, mas sem concretização.

Todavia, a autoridade bancária vê fatores que limitam uma eventual correção: “a oferta limitada de habitação nova e a inexistência de um stock acumulado de casas disponíveis mitigam o impacto sobre os preços em caso de redução da procura”.

Ou seja, mesmo que haja uma descida da procura, os preços não deverão afundar, tendo em conta que não há novas casas construídas ou em construção.

Incumprimentos

No relatório, o supervisor olha para outros riscos para a estabilidade financeira, destacando também o “aumento do incumprimento das famílias mais vulneráveis”, que se materializaria com um efeito conjugado entre “uma subida adicional das taxas de juro de curto prazo e um agravamento da taxa de desemprego”.

O mercado de trabalho tem sido apontado como um elemento que tem servido de obstáculo para a subida do incumprimento de crédito à habitação, sendo que tem sido bastante referido também pelo governador.

Aliás, ainda ontem, na conferência da CNN, Mário Centeno falou sobre o assunto dizendo que a qualificação dos trabalhadores tem vindo a acontecer, mas pediu “paciência”, porque “leva tempo”, e sublinhou que é necessário “não colocar entraves à procura de trabalho”.

“A dificuldade das empresas em assegurar o serviço de dívida, em particular das mais vulneráveis, condicionadas pela persistência de taxas de juro elevadas, juntamente com expectativas de moderação do crescimento económico”, é outro dos pontos apontados pelo Banco de Portugal.

Na conferência de imprensa, Mário Centeno frisou o “sucesso” que o país tem tido de “isolar o sistema financeiro” das crises que têm existido na economia. “Perante um choque, devemos estar preparados e repartir o custo do ajustamento ao longo do tempo e protegendo os mais vulneráveis, foi exatamente o que fizemos”, defendeu o governador.

Crise política

Numa altura de crise política, o abrandamento da economia pode, também, colocar pressão sobre as contas públicas e esse é outro dos pontos elencados pela autoridade bancária.

“O recente quadro de incerteza política que o país vive é uma nova fonte de risco, apesar de mitigada pela expectável aprovação do Orçamento do Estado para 2024 proposto pelo atual governo”, diz também o Banco de Portugal.

Além do Orçamento do Estado, outra mitigante referida por Mário Centeno e pela vice-governadora, Clara Raposo, é a subida de classificação de risco da dívida de Portugal pela Moody’s, que hoje se refletiu também na melhoria do “rating” de seis bancos nacionais. “São excelentes notícias para o sistema financeiro português”, disse Centeno. Já Clara Raposo mostrou-se que estas subidas dão “alguma noção” sobre a “forma como a dívida portuguesa é avaliada” externamente, mesmo após as buscas judiciais na residência oficial do primeiro-ministro, a queda do Governo e marcação de eleições para 10 de março.

"Os riscos para a estabilidade financeira aumentaram, refletindo a restritividade da política monetária, o abrandamento da atividade económica e, mais recentemente, a incerteza política", resume o supervisor bancário.

(notícia atualizada às 11h30 com mais informações)