Sistema financeiro

Caixa duplica ganhos com juros e obtém lucro de €987 milhões

Margem com juros não superava os mil milhões de euros desde o terceiro trimestre de 2022. Entre janeiro e setembro deste ano já está acima dos 2 mil milhões. Lucro dispara mais de 40%

TIAGO MIRANDA

A Caixa Geral de Depósitos apresentou um lucro de 987 milhões de euros nos primeiros nove meses do ano, apenas a 13 milhões da barreira dos mil milhões de euros.

O resultado líquido corresponde a uma subida de 42% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo os números que foram divulgados à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) esta sexta-feira, 10 de novembro. Foram mais 300 milhões de euros gerados num ano do que no outro.

Já se antecipavam resultados generosos, tendo em conta que o próprio Orçamento do Estado prevê dividendos de 461 milhões de euros da Caixa Geral de Depósitos – e como o banco só paga 40% dos resultados em dividendos ao acionista, estes têm de superar os mil milhões em todo o exercício de 2023. E, a não ser que haja uma surpresa até ao fim do ano, isso vai mesmo acontecer, e de forma mais intensa. Paulo Macedo fez referência a este número orçamentado para os dividendos na conferência de imprensa que teve lugar na sede da CGD, em Lisboa.

Destes resultados, 837 milhões foram obtidos da atividade em Portugal, sendo que 150 milhões vieram das operações internacionais.

Margem com juros acima dos 2 mil milhões

De acordo com as contas apresentadas, foram gerados 4,1 mil milhões de euros em capital, o que “supera o investimento público no plano de recapitalização”. “Este resultado permite saldar os prejuízos que a Caixa teve no período de 2011 a 2016”, ressalvou, na conferência de imprensa, Paula Geada, a administradora com a responsabilidade no pelouro financeiro.

A margem financeira (que resulta da diferença entre juros cobrados em créditos e juros pagos em depósitos, na sua maioria) foi o grande motor dos resultados: fixou-se em 2 mil milhões de euros, quando no mesmo período de 2022 se situava em 911 milhões de euros. Têm sido os juros a dinamizar as contas da banca e a conduzi-la a resultados recorde – já está a acontecer no Santander e BCP, e a Caixa prepara-se também para encerrar 2023 com números nunca vistos.

Mais imparidades, mais custos, menos comissões

De resto, grande parte da demonstração de resultados do banco presidido por Paulo Macedo teve uma evolução homóloga negativa. As comissões recuaram quase 7% (“a Caixa não agravou o seu preçário”, lembrou a gestora Paula Geada) e os custos dispararam 11%, sobretudo os gastos gerais administrativos, que aumentaram 26%.

A pesar nas contas estiveram ainda as provisões e imparidades, o dinheiro colocado de lado para eventuais problemas futuros: entre janeiro e setembro de 2022, tinham dado um contributo positivo de 180 milhões de euros; entre janeiro e setembro de 2023, o peso foi negativo, tirando 510 milhões de euros às contas. E, mesmo assim, os resultados dispararam.

As imparidades têm subido na banca nacional, tendo em conta o receio de incumprimento nos créditos que possa vir a ocorrer, como ainda esta semana alertou o Fundo Monetário Internacional e o governador do Banco de Portugal.

Menos crédito, depósitos caem mas recuperam no trimestre

A nível de operação, o crédito total concedido pela CGD deslizou 0,5% para 53 mil milhões de euros, com queda de 1,8% nos particulares, em especial habitação, mas avançando 1,3% nas empresas. Para já, o efeito de incumprimento está a ser limitado: “O rácio de NPL atingiu 2,09%, valor que compara com os 2,43% observados em dezembro de 2022, influenciado pela redução da carteira de crédito”.

Do outro lado do balanço, os recursos de clientes caíram 5%, empurrados sobretudo pelos depósitos – com quedas mais significativas nas empresas e sector público, mas também nos particulares. “Os depósitos retomam o crescimento no terceiro trimestre”, disse Paula Geada.

Notícia atualizada com mais informação pelas 17h00