Sistema financeiro

BCP lucrou €651 milhões até setembro: é mais do que a soma dos resultados dos quatro anos anteriores

Operação em Portugal continua a justificar resultados do BCP. Banco multiplica lucros por mais de sete vezes em relação ao mesmo período do ano passado

NUNO BOTELHO

O BCP obteve lucros de 650,7 milhões de euros nos primeiros nove meses de 2023. É mais de sete vezes o resultado do mesmo período do ano passado. A maior parte destes resultados foi obtida com a operação em Portugal. Este ganho é superior à soma dos lucros obtidos pelo BCP no mesmo período (de janeiro a setembro) dos quatro anos anteriores, que alcançava os 573 milhões de euros.

Na história recente não há números idênticos: é preciso recuar a 2006, ainda na era Jardim Gonçalves, para encontrar um resultado líquido dos primeiros nove meses superior a 500 milhões de euros. Naquele ano o lucro fixou-se nos 523 milhões até setembro, e, até 2023, nunca houve nada deste género, até porque alguns anos foram até marcados pelos prejuízos.

Este lucro, apresentado esta segunda-feira na sede do banco, no Taguspark, em Oeiras, mostra mais um banco a apresentar resultados melhores do que nos anos anteriores, por conta do enquadramento de taxas de juro mais favorável: encareceram os créditos, aumentando as receitas dos bancos, que não aumentaram logo a remuneração dos depósitos.

“São uns bons resultados, é um bom trimestre, que vem materializar o trabalho feito ao longo de vários anos”, afirmou o presidente executivo do BCP, Miguel Maya, em conferência de imprensa, dizendo que o resultado operacional “core” (diferença de proveitos e custos sem efeitos extraordinários) é adequado no atual “contexto de política monetária normalizada”.

Frankfurt alivia impacto dos francos suíços

Segundo o comunicado de resultados, a margem financeira do BCP cresceu 37% para 2,1 mil milhões de euros, a beneficiar dos juros dos créditos a subir mais do que os juros pagos nos depósitos. Miguel Maya acredita que o pico deste auxílio vindo da margem terá sido atingido no terceiro trimestre.

A ajuda dada pelos juros foi tão elevada que conseguiu ofuscar o “montante muito alto” de imparidades e provisões que o BCP teve de registar para se precaver de problemas judiciais devido aos créditos à habitação com francos suíços na sua operação na Polónia.

O banco, que conta com a Fosun e a Sonangol como principais acionistas, teve imparidades de 814 milhões de euros entre janeiro e setembro deste ano, quando no período homólogo não chegava aos 800 milhões. Mais de metade são, então, dos riscos legais na Polónia. Já em Portugal a imparidade de crédito (para créditos arriscados) deslizou 12%, totalizando 211 milhões de euros - com Miguel Maya a congratular-se pela diminuição dos ativos não produtivos como crédito malparado.

De qualquer forma, o próprio CEO lembra que, apesar desta imparização significativa na Polónia, o banco polaco apresenta há quatro trimestres resultados positivos.

As contas destes nove meses beneficiam ainda da venda de 80% da seguradora que o BCP tinha na Polónia, que rendeu 127 milhões de euros, e houve uma subida ligeira, de 0,8%, do contributo das comissões bancárias.

Em sentido contrário, e impedindo maiores lucros, os custos operacionais, com pessoal e administrativos, somaram 8,5% em relação ao ano passado. O banco tem, em Portugal, 6275 trabalhadores (mais 18) em 400 agências (menos 8).

Recursos de clientes

O BCP conseguiu, até setembro, aumentar os recursos de clientes, mas foi graças às operações internacionais. Em Portugal, houve uma quebra de 2,3% para 65,6 mil milhões de euros, com quebras nos depósitos à ordem, a prazo e ainda nos produtos fora de balanço (como seguros ou fundos de investimento).

A nível de carteira de crédito, houve uma quebra homóloga de 3,3% para 56,7 mil milhões de euros a nível consolidado, com um deslize mais expressivo na operação nacional do que na internacional.

Notícia atualizada às 17h35 com mais informações