Sistema financeiro

BCE espera mais inflação e menos crescimento para 2023 e 2024: esperam-se "cinco trimestres de crescimento muito muito ténue"

Inflação fica em 5,6% este ano e desce para 3,2% no próximo, duas décimas acima do que o BCE esperava em junho. Economia vai expandir-se 0,7% este ano, e no próximo apenas 1%, quando se apontava para mais cinco décimas

Sede do BCE, em Frankfurt. Foto: Getty Images

O Banco Central Europeu reviu em baixa as suas projeções de inflação e de crescimento para os próximos dois anos, números que divulgou esta quinta-feira, 14 de setembro, ao mesmo tempo que subiu pela décima vez a taxa de juro diretora do euro. A inflação esperada para este ano é de 5,6%, mais duas décimas que o estimado em junho, o crescimento é de 0,7%, menos duas do que a anterior projeção.

“As projeções macroeconómicas de setembro da equipa do BCE para a Zona Euro apontam para uma inflação média de 5,6% em 2023, 3,2% em 2024 e 2,1% em 2025”, indica o comunicado divulgado pelo BCE.

Estes números configuram uma revisão em alta da inflação tanto neste como no próximo ano, que reflete, sobretudo, “preços energéticos mais caros”. A inflação subjacente “permanece elevada, apesar de a maior parte dos indicadores começarem a suavizar”.

Em junho, na atualização feita no verão, a inflação passaria para 5,4% em 2024, desceria a 3% em 2024 e depois para 2,2% em 2025, mesmo assim ainda acima da meta de 2% que o BCE definiu. Um caminho feito depois de em 2022 ter chegado a superar os 10% a nível mensal, e de ter terminado 2022 nos 8,4%.

Este agravamento entre junho e setembro das projeções para a inflação é o segundo, quando em março, na primavera, a projeção era de 5,3%. Até aqui, vinham sendo outros elementos, que não só a energia e a alimentação, a puxar pelo indicador; agora, a energia volta a pesar.

A meta de 2% do BCE é aquela que conduz a política monetária, e é para atingi-la que os governadores e a Comissão Executiva liderada por Christine Lagarde têm estado empenhadas, daí o agravamento das taxas de juro. Mas, até 2025, esse objetivo não será alcançado.

Crescimento mais tímido

A política monetária mais restritiva que tem vindo a ser posta em prática tem como objetivo descer a inflação, mas acaba por afetar a economia: é com esse arrefecimento que acredita que vai conseguir moderar o agravamento dos preços.

O crescimento tem efetivamente vindo a abrandar, e a Alemanha, o motor económico da região, já estima mesmo vir a contrair. O BCE acredita que a economia da região vai crescer 0,7% em 2023, 1% em 2024 e 1,5% em 2025.

É um crescimento tímido, e mais frágil do que previsto no verão. A expansão em 2023 estava projetada para 0,9% nos cálculos que foram divulgados em junho, o que já de si era uma diminuição face a 1% na primavera.

A expansão era de 1,5% em 2024 (menos uma décima que na primavera), sendo que para 2025 a estimativa era de um crescimento idêntico, na ordem de 1,6%. O corte de 2024 é, portanto, bastante significativo.

“Com o crescente impacto do aperto da procura doméstica e do mais fraco enquadramento comercial internacional, a equipa do BCE baixou significativamente as projeções de crescimento económico”, sublinhou.

Na conferência de imprensa que está a decorrer em Frankfurt, Christine Lagarde detalhou que a revisão dos dados de 2024 têm em conta um efeito ‘carry-over’, isto é, um efeito de arrastamento deste ano. Serão “cinco trimestres de crescimento muito muito ténue”, mas cerca de três quartos do efeito resulta da atividade económica este ano. Para 2024 o BCE espera uma recuperação.

O BCE era das instituições mais otimistas a nível de expansão do PIB este ano e no próximo, superado apenas pela Comissão Europeia que ainda esta semana também reviu em baixa as suas próprias estimativas: para 2023, passou de 1,1% para 0,8%, para 2024, de 1,6% para 1,3%.