Desde o início do ano, o Santander em Portugal renegociou “cerca de 18 mil créditos à habitação”, segundo anunciou o seu presidente executivo, Pedro Castro e Almeida, em conferência de imprensa em Lisboa. Porém, o número não levanta grandes receios porque, até aqui, não há sinais de incumprimentos que façam soar os alarmes do banco.
“Renegociámos cerca de 18 mil créditos à habitação, 2 mil milhões de euros em termos de crédito”, contabilizou o presidente executivo do Santander Totta. “Grande parte das ajudas tem sido por iniciativa do banco”, disse, acrescentando que “têm sido muito poucos” os casos desencadeados por pedidos feitos pelos próprios clientes. Nessas renegociações, o objetivo é melhorar as condições dos empréstimos para não haver incumprimentos.
Aliás, sobre esse aspeto, Castro e Almeida não está preocupado, pelo menos por agora. “Se olhamos para a qualidade de crédito, o rácio de NPE [exposições não produtivas, como o crédito malparado] está em 2,1%, até reduziu. Não estamos a ter aqui um aumento do nosso incumprimento, isso é muito importante”, declarou o banqueiro.
Houve aumento de imparidades para crédito no semestre, de 35 milhões de euros, mas o banco diz que é pela sua política conservadora, não por verificar incumprimentos. “Não existe qualquer tipo de sinal de incremento de incumprimento”, garantiu Manuel Preto, o administrador financeiro, também na conferência de imprensa. Esse aumento de imparidades não impediu que o lucro do Santander disparasse 38% para os 334 milhões de euros.
Bonificação de 30 euros por mês
Em relação às medidas de auxílio ao crédito à habitação, o líder do Santander em Portugal (que em setembro passa também a acumular tal função com a chefia do negócio europeu do grupo) considerou que chegam a um reduzido número de clientes, referindo-se especificamente ao pagamento pelo Estado de parte do aumento dos juros (bonificação).
“Temos cerca de 6 mil contratos bonificados. Em média, a bonificação por cliente é de 30 euros por mês”, contabilizou Pedro Castro e Almeida. Mais especificamente, a assessoria do banco especificou que “é esperado que em Agosto, o número de contratos a ser bonificados passe dos 3.691 para cerca de 6.000 contratos”.
Só em 500 clientes é que a bonificação foi superior a 100 euros. “Não faz uma diferença muito grande em termos da carteira. É uma ajuda, mas não é uma diferença substancial”, disse.
Castro e Almeida não soube explicar a razão da diferença desse número com os 700 clientes com crédito bonificado do BCP - banco da mesma dimensão. “Podem ser 600, podem ser 7 mil, podem ser 10 mil, mas que é um número pequeno, é. Se dissesse que era 20 mil, mesmo o montante da bonificação, não está a fazer diferença”, acrescentou.
Novas medidas têm de ser repensadas
O Governo está a preparar o alargamento do regime da bonificação dos juros no crédito à habitação, com Fernando Medina a assumir facilidades no acesso, mas sem mudar os critérios. Ora, Pedro Castro e Almeida disse que o alargamento do âmbito deveria passar pelo “salário anual das famílias” (até agora o limite é até ao sexto escalão do IRS, de 38 mil euros).
Outra das medidas que o Governo pretende promover é referente à fixação da taxa do contrato de crédito por um determinado período de tempo. “Pode vir aí uma medida para incentivar a taxa mista, mas já está a ser feita”, constata Castro e Almeida, defendendo que já disponibiliza tais ofertas. Um convite do líder do banco privado a que o Ministério das Finanças repense a medida, depois de Miguel Maya, presidente do BCP, também ter deixado a mesma ideia na conferência de imprensa de quinta-feira.
Juros nos depósitos sobem mais em breve
Em relação aos depósitos, o líder do Santander desvalorizou o atraso na subida dos juros face à zona euro, que esta semana o Banco de Portugal concluiu ser inédito em pelo menos 20 anos, dizendo que haverá convergência na remuneração nos próximos meses.
“Se olharmos para os dados do Banco de Portugal, a taxa média já atingiu 1,26%, é muito abaixo da média da zona euro, mas, se forem ver, nos próximos meses vamos ter uma convergência muito grande”, disse o responsável pelo Santander em Portugal. Será em julho ou agosto, acredita.
Explicou o banqueiro que, na sua opinião, há justificações para esse atraso, rejeitando, portanto, que haja um aproveitamento da banca: por um lado, os portugueses têm uma maior parcela em depósitos que outros países do euro, que fazem aplicações de maior dimensão em fundos de pensões e em fundos de investimento ou obrigações; por outro, os portugueses optam por fazer depósitos com prazo inferior a um ano, porque “querem ter ali [o dinheiro] mais à mão”.
Além disso, a liquidez em Portugal é muito maior, porque há muito mais depósitos, pelo que há menos incentivo para captar mais aplicações e, a acrescer a isso, no lado do ativo também há muito mais taxa variável do que taxa fixa, o que também contraria o que ocorre nos outros mercados.
Pedro Castro e Almeida vai acumular a presidência do Santander em Portugal com a liderança europeia do negócio do grupo espanhol. “Vou assumir responsabilidades no dia 1 de setembro a nível europeu, não altera as responsabilidades que tenho como presidente da Comissão Executiva em Portugal. É um grupo muito grande. Portugal é um exemplo muito grande dentro do Santander”.
Notícia atualizada com informação mais pormenorizada sobre a bonificação pelas 11h57