O lucro do BCP atingiu os 423,2 milhões de euros no primeiro semestre deste ano, o que configura um número praticamente sete vezes acima do alcançado no mesmo período do exercício anterior. A atividade em Portugal representa a maior parte destes resultados, com 353,7 milhões de euros, com o banco a ser ainda “muito afetado” pela operação na Polónia, como admitiu o presidente executivo, Miguel Maya, na conferência de imprensa de apresentação de resultados que teve lugar esta quinta-feira, 27 de julho, em Oeiras.
Esta subida do lucro é relevante, sendo que o valor do primeiro semestre de 2022 foi reexpresso, para se adequar a novas normas contabilísticas e permitir a comparabilidade.
Os bancos têm vindo a beneficiar do endurecimento da política monetária, que, com a subida dos juros pelo Banco Central Europeu (BCE), tem vindo a agravar as prestações dos créditos concedidos. Tem sido isso a conduzir a um aumento da margem financeira que, por ser a principal rubrica de proveitos de uma instituição bancária, conduz a um disparo nos lucros.
O crescimento da margem foi de 40% no caso do BCP, alcançando os 1374 milhões de euros, quando no primeiro semestre de 2022 nem chegava aos 1000 milhões.
Venda na Polónia beneficia…
No que diz respeito aos proveitos, não só a margem ajudou, como também a venda de uma entidade seguradora na Polónia: “Nos primeiros seis meses de 2023, os resultados em operações financeiras ascenderam a 124,5 milhões de euros, apresentando um crescimento bastante expressivo face aos 42,2 milhões de euros alcançados no semestre homólogo do ano anterior. Esta evolução beneficiou maioritariamente dos ganhos reconhecidos com a venda de 80% das ações da Millennium Financial Services sp. z o.o. pelo Bank Millennium na Polónia”, indica o comunicado de resultados do BCP.
Na soma dos proveitos (margem, resultados de operações financeiras, comissões, etc), o produto bancário do banco de que a Fosun e a Sonangol são os principais acionistas ascendeu aos 1.844 milhões, mais 45% do que em igual período do ano anterior.
Já no campo dos custos, houve um agravamento de 8,8%, tanto os administrativos (+13,7%) como os gastos com pessoal (+8,4%). O peso dos custos nos proveitos (rácio conhecido como cost-to-income) fixou-se em 32%, um número mais saudável do que os 40% um ano antes.
…mas imparidades ainda elevadas
Mas a Polónia continua a pesar pela herança pesada de processos judiciais contra o banco pelos créditos hipotecários indexados ao franco suíço.
Nas imparidades e provisões, o BCP continua a ter de pôr dinheiro de lado em montante significativo – um valor “muito elevado”, como admitiu Miguel Maya. Nos primeiros seis meses do ano, foram 548,5 milhões de euros, pouco menos que no período homólogo: a maior parte está ligada à Polónia, na ordem dos 400 milhões, por conta dos riscos legais.
Ainda assim, na operação na Polónia, o Bank Millennium (de que tem 50,1%), houve lucros pelo terceiro trimestre consecutivo.
Crédito cede
No que diz respeito ao crédito do BCP, houve um recuo de 1,3% da carteira, que se verificou tanto em Portugal como na Polónia (só em Moçambique houve crescimento). Eram 57,9 mil milhões de euros no fim de junho. Num contexto de juros em alta, houve quebras no crédito à habitação e a empresas, com um aumento apenas no crédito pessoal. Os rácios de crédito em risco deslizaram.
No campo oposto, dos recursos aplicados pelos clientes, havia 92,4 mil milhões de euros em junho, mais 1,5% que em junho de 2022. Houve subida nos depósitos aplicados – mas, aqui, a força veio sobretudo da operação internacional.
A nível de solidez, o BCP conseguiu reforçar os seus rácios de capital (14% do rácio CET1, o mais exigente, face a 11,3% homólogo).
“Foi um primeiro semestre positivo, num contexto difícil, a beneficiar do trabalho feito de normalização do banco ao longo de muitos anos”, declarou Miguel Maya, lembrando os anos de reestruturação do banco, com grande foco no corte de custos.
(notícia atualizada às 17h32 com mais informações)