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Sistema financeiro

Bruxelas quer obrigar comerciantes a aceitar pagamentos em euro digital (e em dinheiro vivo)

Comissão Europeia e Banco Central Europeu avançam na criação do euro digital. Para gerar mais concorrência, dar mais alternativas e liberdade de escolha aos europeus mas também por razões geoestratégicas: para a área do euro não ficar atrás de outros bancos centrais e não deixar que os grandes grupos internacionais dominem os meios de pagamento

Peter Kovalev/Getty

A Comissão Europeia apresentou esta quarta-feira um conjunto de propostas legislativas que dão o pontapé de partida para a criação de um euro digital e que, ao mesmo tempo, reforçam os direitos de pagamento em numerário no espaço monetário europeu. Caso a legislação avance, em termos práticos, os cidadãos passarão a ter acesso a uma carteira digital e a poder fazer pagamentos quer estejam ligados ou desligados da internet. Os comerciantes serão obrigados a instalar os equipamentos para o euro digital, e, para garantir igualdade com o numerário, também não poderão recusar pagamentos em dinheiro vivo (salvo algumas exceções).

Foi com pezinhos de lã e muitas ressalvas que os comissários europeus Valdis Dombrovskis e Paolo Gentiloni explicaram na conferência de imprensa o pacote legislativo que pretende começar a dar corpo ao euro digital.

A Comissão Europeia não quer desafiar o negócio dos bancos nem dos privados, mas não pode deixar o euro para trás na concorrência com outras moedas e com grandes multinacionais privadas de fora do velho continente. E não quer tirar espaço ao dinheiro em numerário, um estatuto caro ao Banco Central Europeu, mas também não pode deixar que a soberania monetária do euro fique ameaçada perdendo terreno no meio digital. Por isso, frases como “o euro digital complementa, não substitui o cash”, “não queremos roubar depósitos aos bancos” ou “é uma decisão complexa” foram mensagens várias vezes repetidas na apresentação desta quarta-feira.