Dois dias depois da intervenção que ditou a integração do Credit Suisse no conterrâneo UBS, a preocupação está a virar-se para o despedimento de funcionários. O Financial Times fala em dezenas de milhares de postos de trabalho. Admite que os cortes possam chegar aos 40 mil trabalhadores, quase tantos como aqueles que a banca comercial emprega em Portugal. A agência de rating DBRS também dá como certo que haverá milhares de trabalhadores a ficar sem emprego com a operação.
Desde domingo que se sabe que esta operação, que juntou dois gigantes da banca suíça para salvar um deles e impedir o alastrar da turbulência para o sector europeu e mundial, iria ter repercussões a nível laboral. Colm Kelleher, presidente do UBS, tinha na conferência de imprensa anunciado a intenção de reduzir o braço de banca de investimento do Credit Suisse, dizendo que o UBS já tem um modelo deste negócio que é o que os seus “acionistas querem”. Além da área da banca de investimento, também o próprio negócio doméstico - na Suíça - sofrerá, dadas as duplicações.
Na conferência com analistas de domingo, o presidente executivo do UBS quantificou em 8 mil milhões de francos suíços (8 mil milhões de euros) o corte de custos anual, em que a gestão admitiu que se incluía a parcela relativa ao pessoal. Os ainda responsáveis do Credit Suisse enviaram uma mensagem aos trabalhadores, também citada pelo FT, em que disseram que ainda estão a trabalhar para perceber quais os empregos que serão impactados.
“A fusão dos dois bancos vai muito provavelmente resultar em perdas de riqueza e de postos de trabalho, já que o Credit Suisse emprega 16 mil profissionais na Suíça, e haverá efeitos secundários. O impacto nas contas públicas deverá ser gerível, mas vai depender do desfecho e sucesso do plano de fusão”, escreve a agência de rating DBRS. A Moody’s e a Standard & Poor’s também referiram os desafios da junção dos dois bancos.
Qual o período para uma integração total, com a incorporação de todos os custos, é ainda uma incerteza. Segundo a DBRS, os “esforços de reestruturação deverão levar vários anos até terminarem”. A gestão apontou para quatro anos.
Até 40 mil trabalhadores?
Ouvindo fontes não identificadas, o Financial Times escreve, esta terça-feira, 21 de março, que há o risco de se chegar até aos 40 mil postos de trabalho – um terço dos 120 mil profissionais que o UBS e o Credit Suisse têm em conjunto. Em Portugal, a banca comercial que integra a Associação Portuguesa de Bancos emprega cerca de 43 mil funcionários.
Tendo em conta a inevitabilidade que todos dão como certa, a associação de trabalhadores da banca e os principais sindicatos da Suíça juntaram-se para pedir que não haja cortes de postos de trabalho até ao fim do ano, para poder haver estudos sobre duplicações de funções.
Numa conferência de imprensa, citada pelo FT, a associação de trabalhadores da banca suíça referiu que “a operação ameaça os postos de trabalho numa escala que o mercado de trabalho no sector bancário não absorve”. “O resgate do banco deve significar, também, o resgate dos trabalhadores”, indica a associação, que já em outubro tinha pedido ao Credit Suisse – há anos a viver sob turbulência devido a sucessivos escândalos – para proteger os postos de trabalho.
Outros desafios
A tendência no sector tem sido de perdas de postos de trabalho, mesmo sem qualquer tipo de fusão, dados os novos comportamentos dos clientes (que vão menos aos balcões, exigindo-se menos presença física), o que é agravado quando há duplicações.
E haverá duplicações de postos de trabalho, mas também de clientes, que podem ser dos dois bancos e que, com a junção, poderão querer mudar uma das contas para outra instituição, como avisa a Moody’s. Isso soma-se ao habitual desafio em períodos de turbulência de segurar os profissionais-chave, como lembra a agência.
Porém, é ainda cedo para ter certezas sobre a real dimensão do impacto nos postos de trabalho, como, aliás, é incerto em grande medida o efeito nos mercados financeiros.
As autoridades bancárias – tanto o Banco Central Europeu como o Banco de Inglaterra – têm vindo a garantir que a ordem seguida para a imposição de perdas nesta operação na Suíça não será aplicada em eventuais intervenções nas regiões: acionistas sofrerão sempre antes dos obrigacionistas, ao contrário do que aconteceu no Credit Suisse, em que os acionistas continuam a ter ações nas mãos com algum valor, com as quais vão conseguir trocar por ações do UBS, mas os obrigacionistas com títulos de dívida híbridos (Additional Tier 1) perderam tudo. O trabalho de contenção nos mercados é o passo que tem sido dado.
Para já, também já se alinham quais os investidores que mais perderam. A Bloomberg refere que as grandes gestoras de ativos internacionais estão na linha da frente com os títulos AT1 que vão ser amortizados: Pimco, BlackRock e Invesco estão entre os afetados pelas perdas no Credit Suisse. E estão a ser preparados processos judiciais, avança a Reuters.
Em Portugal, como noticiou o Jornal de Negócios, o Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social tem uma exposição ao Credit Suisse, onde perdeu 2,6 milhões de euros, mas não aos títulos que agora valem zero.