A julgar pelos últimos dados do Banco de Portugal, divulgados ontem, a economia portuguesa terá batido no fundo entre Março e Maio. O indicador coincidente mensal, que mede a variação homóloga da actividade económica, voltou a recuperar em Julho. Embora continue negativo pelo décimo quarto mês consecutivo, está agora no nível mais alto desde Dezembro. O indicador do consumo privado também subiu e, pela primeira vez nos últimos sete meses, está em terreno positivo.
Tudo isto numa altura em que os indicadores de confiança dos agentes económicos estão também já a recuperar. Na Europa e nos EUA, há já inúmeros indicadores positivos que começam a dar forma a uma retoma económica. Nas bolsas, normalmente mais efusivas a reagir às notícias que vêm da economia real, desde o início do ano que se registam ganhos. Nos EUA, os índices Nasdaq e Dow Jones acumulam ganhos de 26,1% e 6,5% este ano, enquanto o português PSI-20 apresenta nesta altura uma valorização de 22,8% desde Janeiro.
Existe, contudo, como têm alertado diversos especialistas em todo o mundo, o risco de haver aquilo a que os economistas chamam um double dip (dupla queda), ou seja, uma ligeira retoma seguida de uma recaída. Nas bolsas, é também vulgar haver movimentos especulativos que tentam aproveitar o momento e que podem não ser exactamente um sintoma de uma verdadeira recuperação económica. Mas a realidade é que os dados que apontam para uma viragem na crise em Portugal foram confirmados na semana passada pelo Instituto Nacional de Estatística, que revelou uma subida ligeira (0,3%) do produto interno bruto (PIB) no segundo trimestre.
Deve, no entanto, ser olhado sem grandes euforias, já que o PIB conseguido nestes três meses está ainda muito abaixo (3,7%) do obtido no trimestre homólogo de 2008. Até porque o lado mais negro da crise está longe de ser ultrapassado: o desemprego afecta actualmente mais de meio milhão de portugueses (segundo o Instituto Nacional de Estatística), havendo 469.683 inscritos nos centros de emprego. Normalmente, existe um desfasamento de dois a três trimestres entre as variações na actividade económica e o desemprego, o que significa que qualquer retoma, a confirmar-se, só começará a fazer-se sentir no desemprego, na melhor das hipóteses, no final do ano.
O próprio primeiro-ministro reconheceu este facto quando comentou o "fim da recessão técnica". Um fechar de porta - por enquanto apenas estatístico - que chegou em simultâneo a países como a Alemanha ou a França e que tem motivado inúmeras reacções de optimismo.
Só que os estragos provocados pela crise financeira continuam a sentir-se. Os bancos continuam a ter receio de emprestar, as empresas preferem adiar muitos investimentos e as famílias só muito lentamente recomeçam a consumir.
O Estado português tem tentado intervir, à semelhança do que tem acontecido na maioria dos países, e está a pagar o preço nas contas públicas. Nos primeiros sete meses do ano, as receitas fiscais caíram quase 20%, o défice do subsector Estado cresceu mais de um vez e meia em relação a 2008 e o excedente da Segurança Social encolheu cerca de 60%, segundo dados da Direcção-Geral do Orçamento. Mesmo assim, o Governo garante que o défice de 5,9% do PIB previsto para o final do ano é para cumprir.
O Banco de Portugal (BdP) apresentou esta semana novas regras para os depósitos que obrigam os bancos a prestarem mais informação e vêm clarificar as aplicações que são, de facto, depósitos. O aviso do BdP, publicado na quinta-feira, prevê que as instituições financeiras tenham que apresentar aos clientes não apenas as taxas de juro bruto mas também o retorno líquido. Além disso, será adoptada uma ficha normalizada (igual para todos os bancos) com toda a informação dos depósitos que permita aos clientes comparar mais facilmente as alternativas. Sobre a definição do que é realmente um depósito, um dado importante para evitar confusões como as que têm acontecido no Banco Privado Português, o banco central explica que depósito são apenas as aplicações com capital garantido na maturidade ou na mobilização antecipada das verbas.
Texto publicado na edição do Expresso de 15 de Agosto de 2009