A transferência de dinheiro por parte do World Opportunity Fund para proceder ao pagamento dos salários de dezembro que estão em falta na Global Media ainda não foi feita, o que levará a administração a falhar o prazo que tinha indicado na semana passada.
Segundo apurou o Expresso, José Paulo Fafe, presidente executivo do grupo detentor do Jornal de Notícias, Diário de Notícias, TSF e O Jogo disse a alguns trabalhadores esperar que o pagamento dos salários ocorra “no máximo até quarta ou quinta-feira”, mas assumiu que esse era um seu “desejo”, por estar dependente da transferência do fundo de investimento que passou a controlar o grupo a partir de setembro.
Na semana passada Fafe tinha dito que tinha tido “uma reunião com o fundo” na qual este tinha feito a “promessa” de até ao início desta semana “fazer uma transferência que pague os salários em atraso”.
“Também tive a promessa do fundo de analisar a hipótese de fazer um pacote de ajuda extraordinária à Global Media”, adiantou Fafe durante a sua audição no Parlamento, para depois dizer que “quem conhece o mundo financeiro sabe que um fundo não investe propriamente em salários e sim em reestruturações”.
O Expresso voltou a contactar a Global Media que tem recusado fazer comentários sobre o pagamento dos salários e também não diz quantos trabalhadores aceitaram a proposta de rescisão voluntária, cujo prazo terminou na quarta-feira.
Sindicato de Jornalistas “perplexo”
Também esta segunda-feira o Sindicato dos Jornalistas mostrou-se “perplexo com a postura da comissão executiva” do grupo, referindo que “a 15 de janeiro, os trabalhadores continuam sem receber o salário de dezembro, esperam pelo subsídio de Natal e uma explicação da administração, que parece incapaz de encontrar soluções para os problemas do grupo”.
Neste momento os salários estão em falta na empresa Global Notícias, que abarca a área de imprensa do grupo (Jornal de Notícias, Diário de Notícias e O Jogo), lembra o sindicato, referindo que os trabalhadores de outras empresas do grupo – Rádio Notícias (TSF), Rádio Comercial Açores, Açoriano Oriental, a gráfica Naveprinter e a Notícias Direct – “receberam o salário de dezembro entre a primeira e a segunda semana deste mês, marcado por uma greve mobilizadora, na empresa e na classe, a 10 de janeiro”.
Está também por pagar o trabalho suplementar assim como os vencimentos de novembro aos recibos verdes, “que por norma recebem a 50 dias e já lá vão 55”.
“Enquanto esta comissão executiva se mostra incapaz de resolver os problemas da empresa, aparecem propostas de compra, mas a administração de José Paulo Fafe não dá sinais de responder aos proponentes e mantém a empresa e os trabalhadores na incerteza e na angústia e até fez questão de dizer, na Assembleia da República, que recusou a proposta que tinha”. De acordo com o Jornal Económico são já seis as propostas ou manifestações de interesse para a compra do grupo, sendo que na semana passada Fafe fez saber que não havia interesse na proposta avançada por Marco Galinha, que tem 17,59% do capital e ocupa o cargo de presidente do conselho de administração da Global Media.
Em face da situação que o grupo está a viver, o sindicato anunciou que “vai propor uma intervenção de urgência da Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT) no grupo, para tentar perceber por que razão a empresa não paga os salários, uma vez que continua a trabalhar, a vender jornais, a cobrar publicidade. Certamente entra dinheiro todos os dias, mas não chega aos trabalhadores”.
No comunicado, o sindicato critica também a decisão da administração de acabar com os serviços de segurança nas suas instalações de Lisboa e do Porto. Se em Lisboa esse facto poderá não ser problemático porque o próprio edifício onde o grupo se encontra – as Torres de Lisboa – tem segurança durante 24 horas, no Porto a situação gera insegurança nos trabalhadores do Jornal de Notícias e de O Jogo, uma vez que as instalações se situam “numa zona algo isolada e que até à mudança destes dois títulos para o local estava conotada com o tráfico e consumo de droga”.
(Notícia corrigida às 20h50: a administração não fez nenhum comunicado indicando o atraso, apenas o comunicou informalmente)