Economia

Mais de 40% da Galp está nas mãos de anónimos

Depois dos italianos da ENI terem vendido mais 1% da Galp, o número dos acionistas sem participações qualificadas voltou a aumentar na petrolífera portuguesa, constituindo agora a maior fatia do seu capital social.

Refinaria de Sines da Petrogal

J. F. Palma-Ferreira

Depois da ENI ter vendido a quase totalidade das ações da Galp, quem ficou dono do capital da empresa? Além do reforço de Américo Amorim, associado aos angolanos da Sonangol e a Isabel dos Santos, entraram três fundos de investimento gigantes no capital da Galp Energia. No entanto, uma análise mais detalhada mostra que, a partir de 2012, quando os italianos da ENI começaram a vender a sua "minoria de bloqueio", relativa a 33,34% da Galp, houve um outro tipo de acionistas - indiferenciados, sem participações qualificadas - que começaram a ganhar peso na estrutura acionista do grupo de energia gerido por Manuel Ferreira de Oliveira.

Assim, a resposta mais correta confirma que atualmente os acionistas "anónimos" controlam a Galp. Ou, dito de forma mais precisa, a Galp é maioritariamente detida por investidores sem participações qualificadas. Efetivamente, 40,2% da Galp pertence a acionistas com menos de 2% do seu capital social.

Amorim controla 38,34%

Américo Amorim e as sociedades que controlam a holding holandesa Amorim Energia - onde a angolana Esperaza, liderada pela Sonangol, controla 45% da Amorim Energia -, detêm 38,34% da Galp, controlando 317.934.693 acções da Galp Energia. E estes 38,34% detidos pela Amorim Energia na Galp ficaram estabilizados desde 2012, quando a ENI reduziu pela primeira vez de 33,34% para 24,34% da Galp.

Na altura, a redução da participação da ENI permitiu o reforço da Amorim Energia, de 33,34% para os atuais 38,34%, mas também contribuiu para aumentar as participações "anónimas", que reforçaram o capital disperso, de 25,3% para 30,3%. A redução da participação da ENI em 2012 também foi acompanhada pela Caixa Geral de Depósitos, que vendeu a sua posição de 1% na Galp.

ENI vendeu mais 1% por €107 milhões

A estatal italiana ENI manteve uma participação de 24,34% até abril de 2013, reduzindo novamente o seu investimento para 16,34% e, em março de 2014 para 9% da Galp. Chegados a junho, a ENI vende mais 1% da Galp, através de vendas diárias em bolsa.

Este lote, de 1% do capital da Galp Energia, correspondia à posição residual sujeita ao direito de primeira oferta da Amorim Energia, que não foi exercido pela holding controlada por Américo Amorim.

Estas operações de venda em bolsa foram realizadas entre 5 de maio e 18 de junho, por um montante total de 107 milhões de euros.

Depois desta alienação, a ENI ainda detém 66.337.592 ações da Galp correspondentes a 8% do capital da Galp Energia, que mantém porque constituem o ativo subjacente às obrigações permutáveis - no montante de 1.028 milhões de euros - emitidas em 30 de Novembro de 2012 e com maturidade em 30 de Novembro de 2015.

"Anónimos" com 40,2%

Depois desta última venda da ENI, o capital disperso e "anónimo" da Galp Energia aumentou de 39,2% para 40,2%. Desde abril de 2013, a Galp só "conquistou" três investidores institucionais com participações qualificadas, portanto, superiores a 2% do seu capital.

Primeiro, em abril de 2013, a gestora de fundos de investimento Templeton Global, com 2,03% da Galp; logo a seguir, em março de 2014, um fundo do gigante BlackRock, com 2,45%; e em abril de 2014, outro fundo de investimento do Capital Research and Management, com 2,02% da Galp.

Quem são os três novos acionistas?

O gigante BlackRock, com 20.307.726 ações da Galp, é uma das maiores gestoras de investimentos a nível mundial, foi fundada em 1988, tem sede em Nova Iorque e está cotada na New York Stock Exchange (NYSE). Gere um montante total de ativos da ordem dos 4,3 biliões de dólares (triliões, na designação americana).

O fundo Templeton Global Advisors Limited, com 16.870.865 ações da Galp, pertence ao grupo Franklin Templeton Investments, fundado em 1947 em Nova Iorque, atualmente tem sede em San Mateo, na Califórnia, também está cotado na bolsa de Nova Iorque. Os fundos da Franklin Templeton estão cotados na New York Stock Exchange (NYSE) e gerem um volume total de ativos de 0,84 biliões de dólares.

Finalmente, o fundo Capital Research and Management, com 16.786.778 ações da Galp, pertence ao grupo de gestão de fundos Capital Group, fundado em 1931, com sede em Los Angeles, na Califórnia, que gere um volume total de ativos de 1,2 biliões de dólares (triliões, na designação americana).

Três gigantes que gerem 26,9 vezes o PIB nacional

A totalidade dos ativos geridos pelos grupos dos três novos acionistas da Galp ascende a 6,3 biliões de dólares (equivalente a 4,63 biliões de euros, o que, para se ter uma ideia da dimensão deste valor, corresponde a 26,9 vezes o valor do Produto Interno Bruto de Portugal, que ronda os 172 mil milhões de euros).

Todos os restantes fundos de investimento que entraram na Galp têm participações consideravelmente mais pequenas, como é o caso do Black Creek, com 0,46% da Galp, a seguradora Standard Life com 0,53%, o The Vanguard Group com 0,67%, o Bestinver Gestion com 0,94% e o Norges Bank com 0,97%.

Mesmo estas participações maiores estão sujeitas e negociações permanentes, porque apenas constituem investimentos financeiros.