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Três anos de pressões, impasses e irritações: a história do centro de dados que fez cair o Governo de Costa

Foi há três anos, em outubro de 2020, que o projeto da Start Campus, em Sines, foi apresentado ao Governo. Uns meses depois, o mega-investimento já tinha o selo PIN. Seguir-se-ia uma intensa campanha de lóbi para remover obstáculos no licenciamento, que culminou numa investigação do Ministério Público… e na demissão de António Costa. Eis a cronologia do que aconteceu

Projeção de como ficará o empreendimento Sines 4.0 quando estiver totalmente construído
D.R.

As buscas de 7 de novembro caíram com estrondo na história da governação de António Costa. Atingiram o primeiro-ministro no seu círculo próximo, com o chefe de gabinete, Vítor Escária, detido, vindo a descobrir-se que guardava mais de 75 mil euros em dinheiro vivo em São Bento. Igualmente detido ficou o consultor e amigo de longa data Diogo Lacerda Machado. Tal como o gestor Afonso Salema, que ao longo de três anos procurou, por via de Lacerda Machado, acelerar o desenvolvimento de um projeto de 3,5 mil milhões de euros, anunciado como uma promissora aposta de Portugal na economia dos dados.

A investigação do Ministério Público fez várias detenções e levantou suspeitas sobre o comportamento de alguns decisores políticos, incluindo o atual ministro das Infraestruturas, João Galamba, que, na ótica dos procuradores, terá atuado para favorecer os interesses da Start Campus.

As escutas analisadas pelo Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) mostram como durante os últimos três anos os responsáveis da Start Campus procuraram utilizar a influência de Diogo Lacerda Machado junto do gabinete do primeiro-ministro, para tentar forçar decisões, na área da energia, do ambiente e do planeamento urbanístico, que eram relevantes para a concretização do centro de dados.

A invocação do nome do primeiro-ministro em várias conversas levou em outubro o Ministério Público a encaminhar parte da investigação para o Supremo Tribunal de Justiça, que aí abriu um inquérito autónomo visando o primeiro-ministro. No dia das buscas em São Bento António Costa tomou prontamente a decisão de se demitir. Este sábado o primeiro-ministro voltou a comunicar ao país, enfatizando que a missão dos governos também passa pela atração de investimento direto estrangeiro e pelo levantamento de entraves burocráticos, conciliando os diferentes interesses atendíveis em cada projeto.

Para trás fica uma história de três anos de pressões, impasses e irritações, com reuniões em gabinetes ministeriais e almoços e jantares fora deles. Eis a cronologia do projeto que empurrou António Costa para fora de São Bento.