Turismo

“Lisboa precisa de um novo aeroporto provisório até termos Alcochete a funcionar”, defende o dono do Altis

Prevendo-se que o novo aeroporto Luis de Camões demore pelo menos 10 anos a concretizar, Raul Martins sustenta que, até lá, a Portela deve ser complementada com uma infraestrutura existente, sem obrigar a investimentos pesados, considerando que Beja é a melhor solução

Raul Martins, dono dos hotéis Altis, destaca o aumento de oferta em Lisboa e "a oportunidade de ter mais hotéis no Porto, onde a capacidade aérea ainda pode crescer"
Ana Baiao

A decisão sobre o novo aeroporto em Alcochete, designado Luís de Camões, foi aplaudida pelo sector hoteleiro, com a advertência para os inevitáveis constrangimentos de procura que, até lá, irá gerar nas chegadas de turistas a Lisboa e na sua distribuição para outras regiões do país, tendo em conta que se trata de uma solução que, conforme anunciado pelo Governo, poderá vir a ser implementada em 2034, num cenário de previsões otimistas.

“Lisboa precisa de um aeroporto provisório até termos Alcochete a funcionar, prevendo-se que esta infraestrutura demore mais de uma década a concretizar”, defende Raul Martins,dono do grupo Altis, ex-presidente da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP), e atualmente presidente do seu conselho geral..

“Até lá, a solução deve passar pela criação de um aeroporto provisório em complemento da operação na Portela, a partir das bases militares próximas de Lisboa, designadamente no Montijo, ou no aeroporto existente em Beja”, explicita Raul Martins.

Beja seria a melhor solução para o “aeroporto provisório” a servir Lisboa até se concretizar a solução de Alcochete, uma vez que “o Montijo obrigaria a maiores investimentos em obras”, como realça o vice-presidente da associação hoteleira.

“Até chegar o aeroporto, os hotéis em Lisboa vão viver tempos difíceis”

Nesta perspetiva, o aeroporto de Beja funcionaria, em complemento da Portela, “como hub para voos intercontinentais, onde se verifica que mais de 30% dos passageiros não ficam em Lisboa e seguem para outros destinos”, detalha Raul Martins, frisando que tal solução envolveria “colocar uma taxa de aeroporto inferior para tornar a situação comercialmente interessante, pois a taxa aeroportuária em Beja não pode ser igual à de Lisboa”.

“Até chegar o aeroporto, a hotelaria em Lisboa vai ficar numa situação difícil”, adverte o responsável da AHP, lembrando que a oferta de hotéis na cidade está a crescer a uma média de 4% ao ano. “Se o aeroporto demorar dez anos a ser implementado, de acordo com as previsões avançadas, haverá nessa altura mais 40% de oferta na cidade, e sendo a ocupação média de 80% de momento, podemos vir a baixar as ocupações para 50% face aos valores atuais”, quantifica.

“O alerta é que há que tomar medidas de compensação em relação a isto”, frisa Raul Martins, defendendo a necessidade de “aumentar rapidamente a capacidade da gare do aeroporto da Portela”. As obras que se afiguram necessárias no aeroporto Humberto Delgado também foram enfatizadas pelo Governo ao anunciar a decisão de construção da infraestrutura em Alcochete.

Os “constrangimentos" que já se colocam à procura devido ao ponto de saturação atingido no aeroporto da Portela têm sido enfatizados pelo atual presidente da Associação da Holelaria de Portugal, Bernardo Trindade, realçando este responsável que, de acordo com dados da ANA. o aeroporto de Lisboa “recusou no ano passado voos que corresponderam a um milhão e 300 mil lugares de avião, por incapacidade de resposta”. Os voos rejeitados no aeroporto de Lisboa, mencionados pelo presidente da AHP, incluiram reforços de rotas para os EUA planeados pela TAP ou a SATA, a par de expansão de companhias como a Saudi Airlines ou a Qatar Airways, "que não puderam ter expressão para nós por o aeroporto de Lisboa não ter capacidade”.

Obras na Portela: “Se afinal é possível, porque não se fez antes?”, questiona CTP

A Confederação do Turismo de Portugal (CTP) saudou a decisão anunciada pelo Governo de avançar com a construção de um novo aeroporto em Alcochete, a par de obras com vista à expansão do atual aeroporto Humberto Delgado.

“Só espero que esta seja uma solução definitiva, e que não venha a ser colocada em causa por outros Governos, algo a que infelizmente assistimos nos últimos anos”, considerou Francisco Calheiros, presidente da confederação do turismo, em comunicado - lembrando que “a construção de um novo aeroporto na região de Lisboa tem sido uma exigência da CTP nos últimos anos, pelo que nos congratulamos pela decisão finalmente anunciada”.

Frisando que “tudo aponta que Portugal ainda tenha de esperar mais do que uma década para ter um novo aeroporto a funcionar em pleno”, o presidente da CTP realça ainda que a confederação do turismo “necessita de ter mais detalhes” sobre a “revelação” do Governo no sentido de avançar obras no Aeroporto Humberto Delgado para aumentar a sua capacidade, referindo que “sempre se afirmou que não era possível aumentar a capacidade do atual aeroporto de Lisboa”.

“Se afinal tal é possível, porque não se fez antes?”, questiona Francisco Calheiros, enfatizando que "nesta altura já poderíamos ter aumentado os slots disponíveis e o movimento de passageiros no aeroporto Humberto Delgado, bem como receita entretanto perdida”.

Turismo do Centro lamenta não se ter optado por Santarém

O Turismo Centro de Portugal também reagiu à decisão anunciada pelo Governo em construir o novo aeroporto em Alcochete, considerando que “todos os que vivem nesta região – a maior do país – têm razões legítimas para se sentirem apreensivos”.

“Um aeroporto que, além de Lisboa, servisse os interesses do resto do país, como era a opção Santarém, teria sido mais adequado para a coesão territorial. Assim, o Centro de Portugal vai continuar a ser a única região do país que não é servida por um aeroporto”, destacou, em comunicado, a Entidade Regional de Turismo do Centro de Portugal.

“Não tendo sido possível, então que os decisores políticos olhem com atenção redobrada para a necessidade de investir nas acessibilidades do Centro de Portugal e que desenvolvam, já a partir de hoje, um plano de mobilidade que sirva de forma adequada todo o território”, apelou a região de turismo, garantindo “total disponibilidade” para discutir esta matéria com o Governo.

Lembrando que o Centro de Portugal “tem 100 municípios, e grande parte deles no interior, é uma região mal servida por ferrovia, as obras da Linha da Beira Alta, que se eternizaram, são um exemplo paradigmático desta realidade incontornável”, a entidade regional de turismo detalha que “na rede viária, é prioritário avançar com a transformação do IP3 em autoestrada, assim como executar o prometido IC31, entre a A23 e Espanha, via Monfortinho, entre outras obras que fazem falta”.

“Não menos fundamental, é expandir as infraestruturas de carregamento para veículos elétricos (o Centro é, mais uma vez, muito deficitário na mobilidade elétrica, em especial no interior) e aumentar a oferta de transporte público na região”, sustenta ainda a região de turismo.

Apesar de não subcrever a solução de Alcochete, o Turismo do Centro considera que “é de saudar que, mais de 50 anos depois, haja finalmente uma solução para uma questão que causava graves prejuízos ao país” - sem deixar de reiterar que “o Centro de Portugal tem múltiplas razões de queixa a nível das acessibilidades”, e que a região carece de “investimentos prioritários que o país precisa de realizar, sob pena de as assimetrias regionais se agravarem”.