A decisão dos municípios do Algarve em recuar no objetivo de aumentar a fatura da água já a partir de março foi “uma boa notícia” para os hoteleiros, coincidindo com o congresso da Associação da Hotelaria de Portugal, no Funchal.
“Decisões unilaterais, quer de aumentos de preço, ou de fortes racionamentos, são apenas pensos rápidos num tema de vital importância para toda a população que vive e visita o Algarve”, enfatizou Bernardo Trindade, presidente da AHP, no congresso do Funchal, realçando que os hotéis no Algarve já têm vindo a adotar nos últimos anos uma série de medidas neste campo, como adotar redutores de caudal nas torneiras ou ao nível da reutilização de águas de rega. .
"Temos caminho feito, queremos ser parte da solução, há uma disponibilidade total da AHP para trabalharmos e atuarmos em conjunto com as diversas entidades, adotando medidas que façam uma melhor gestão deste recurso fundamental”, sublinhou Bernardo Trindade.
Os municípios algarvios ficaram obrigados a reduzir os consumos de água em 15% em 2024, sob pena de terem cortes de fornecimento desta ordem no próximo ano, na sequência das medidas decretadas pelo Governo para fazer face ao problema da seca no Algarve. Esta obrigação envolve todos os sectores empresariais, incluindo a hotelaria, além do consumo doméstico.
Os hotéis assumem-se “comprometidos” em respeitar a sua quota parte, reduzindo já este ano os consumos de água em 15%, reconhecendo ser um objetivo “crítico”, face à previsão de procura elevada de turistas, em particular no verão.
A solução proposta pelos hotéis é avançar com um plano contendo 60 medidas para poupança de água, dos quais cada unidade tem de implementar 10 no imediato, de forma a atingir reduções de 15% nos consumos de água - documento que está na reta final para poder ser aprovado.
O plano de medidas de contingência na hotelaria inclui a criação de um “selo de eficiência hídrica”, designado ‘Save Water’ (à semelhança do selo ‘Clean & Safe’ durante a pandemia de covid), certificando que os hotéis que ostentam este selo estão a implementar medidas de poupança de água.
Exemplos das medidas que constam no plano - algumas das quais já estão a ser implementadas pelos hotéis algarvios - incluem adotar redutores de caudal nas torneiras (que no caso,dos duches deverá ser inferior a 9 litros por minuto, em vez dos habituais 12 litros), assegurar que nas piscinas a renovação diária de água não vai além de 3% do seu volume, ou manter níveis de rega mínimos nos espaços verdes, suspendendo o processo em fontes ornamentais que não tenham recirculação de água. O plano inclui medidas mais "estruturais" e difíceis de implementar no imediato pelos hotéis, que defendem o seu prosseguimento em 2025.
“Temos um compromisso para reduzir 15% de água, e estamos empenhados em dar esse contributo”, garante João Soares, hoteleiro que representa a AHP no Algarve, adiantando que o plano de contenção de água apresentado pelos hoteleiros deverá ser aprovado nos próximos dias, com vista a poder ser implementado a partir de março.
“A hotelaria espera que nunca haja por parte dos municípios racionamentos ou cortes de água, que podem afetar gravemente o turismo”, destaca João Soares, aplaudindo o recuo das câmaras do Algarve em aumentar a fatura da água para o sector em 15%, elevando ainda mais os seus encargos. “Não faria sentido aumentar os preços numa altura em que a operação para o ano já foi acordada”.
Grupos hoteleiros estudam instalação de dessalinizadoras
São cada vez mais os grupos hoteleiros que nesta fase estão a estudar a instalação de estações de dessalinização para os seus hotéis - destacando-se o caso do grupo Pestana, que jfoi pioneiro no Algarve a instalar esta solução.
O grupo Porto Bay é um dos que está a analisar “alternativas para uma maior redução de consumos de água, que podem passar pela dessalinização” para o seu hotel Porto Bay Falésia, em Albufeira, com 330 quartos, tendo já implementado uma série de medidas neste campo.
“É fundamental haver uma política nacional de racionalização de consumos de água, mas também haver políticas concertadas de base regional com medidas entendíveis pelo sector”, sustenta António Trindade, presidente do grupo Porto Bay.
Também o grupo Vila Galé diz estar já a estudar a instalação de dessalinizadoras para os seus hotéis do Algarve, numa solução que permite regas de jardins, manutenção de piscinas e “tudo o que não seja água para consumo humano”a partir do recurso à água do mar tratada.
Outro exemplo neste campo é o grupo Memmo Hotels, que tem um hotel em Sagres (Memmo Baleeira). “Estamos a considerar ter um sistema próprio de dessalinização, só para o hotel”, adianta Paulo Duarte, diretor de operações do grupo. “Se bem que é um investimento considerável e requer maiores consumos energéticos”.
O hotel em Sagres investiu no final do ano num" sistema inteligente de rega, ligado em wifi, que permite uma economia de água que esperamos que seja considerável, da ordem dos 10 a 15%", refere o responsável.
“Os hotéis necessáriamente têm de fazer investimentos na gestão da água, senão qualquer dia não há mais água. É um assunto de crescente importância para o Algarve, que continua a sofrer um período de seca”, enfatiza o diretor de operações do grupo Memmo.
“O problema da seca no Algarve é extremamente grave", concorda o hoteleiro João Soares, lembrando que “vem de há vários anos, nunca nada foi feito e chegámos ao limite”. As soluções públicas poderiam ter passado por transvases, “levando água do Alqueva para o Algarve”, mas mesmo que fossem implementadas agora, não dariam resposta no imediato”.
“Do lado da hotelaria, já estamos a adotar muitas medidas para economias de água, e vamos fazer tudo para cumprirmos os objetivos de redução de 15%”, resume João Soares. “Temos perfeita noção que o recurso é cada vez mais escasso no Algarve. E a maior esperança que podemos ter é esperar que chova”.