A Europa vai lançar um programa espacial ambicioso, com a assinatura de um contrato para a construção de uma rede de satélites avaliada em 10,6 mil milhões de euros. Esta iniciativa pretende rivalizar com o projeto Starlink, desenvolvido pela empresa americana SpaceX, fundada por Elon Musk.
Chama-se Iris² (siga em inglês que significa infraestrutura para resiliência, interconectividade e segurança por satélite) e é o terceiro grande projeto de infra-estruturas espaciais da Europa, depois do sistema de navegação Galileu e do sistema de observação terrestre Copernicus. O projeto já tinha sido anunciado há dois anos e foi concebido para “responder aos desafios prementes de longo prazo em matéria de segurança, proteção e resiliência”.
As negociações para o início do projeto não têm sido fáceis, dada a dimensão e o custo da iniciativa. Esta segunda-feira, a Comissão Europeia anunciou que 61% do financiamento vai ser garantido por fundos públicos, provenientes da própria União Europeia (UE) e da Agência Espacial Europeia e o restante será assegurado pelo consórcio industrial SpaceRISE, formado pelas operadoras Eutelsat, Hispasat e SES. De acordo com o Financial Times (FT), o custo do projeto estava inicialmente estimado em 6 mil milhões de euros.
Como funciona o Iris² e de que forma pode rivalizar com o Starlink, de Elon Musk?
Em setembro, a presidente da Comissão Federal de Comunicações, Jessica Rosenworcel, comentou que desejava ver mais competição para a Starlink, que lançou cerca de 7 mil satélites desde 2018, segundo escreveu a Reuters.
O projeto, criado pela empresa liderada por Elon Musk, consiste numa rede de Internet que depende de milhares de satélites que orbitam junto da superfície terrestre, a cerca de 550 quilómetros (km) e que procuram providenciar um sistema de Internet mais rápido para os utilizadores. “A maioria dos serviços de Internet via satélite provém de satélites geoestacionários únicos que orbitam o planeta a 35.786 km. Como resultado, a transmissão de dados entre o utilizador e o satélite é elevado, tornando-o quase impossível de suportar streaming, jogos online, videochamadas ou outras atividades”, escreve a Starlink, na sua página oficial.
Segundo Rosenworcel, a Starlink tem “quase dois terços dos satélites que estão no espaço neste momento e tem uma parte muito elevada do tráfego da Internet”. “A nossa economia não beneficia de monopólios. Por isso, temos que convidar muitos mais atores espaciais, muitas mais empresas que possam desenvolver constelações e inovações no espaço”, acrescentou.
A resposta europeia surge, então, com o Iris² que funciona de forma semelhante. O projeto da União Europeia consiste numa ‘constelação’ de 290 satélites de pequena dimensão que vão ser colocados em órbitas terrestres baixas (Low Earth) e médias (Medium Earth Orbit). Com este sistema, a UE tem também como objetivo providenciar o acesso à Internet a todas as zonas da União Europeia, mesmo as mais remotas.
Segundo a própria Comissão Europeia, o sistema vai ter uma grande variedade de aplicações governamentais, “principalmente nos domínios da vigilância”, “gestão de crises (por exemplo, ajuda humanitária), ligação e proteção de infraestruturas essenciais (por exemplo, comunicações seguras para as embaixadas da UE), bem como segurança e defesa (por exemplo, emergência marítima, destacamento de forças, ações extremas da UE, intervenções policiais)”.
O sistema vai também permitir uma série de aplicações a nível comercial, nomeadamente no setor dos transportes, na gestão de redes energéticas inteligentes, na banca, nas atividades industriais no mar, nos cuidados de saúde à distância e na conectividade rural.
Em linhas gerais, o objetivo do Iris² é, por um lado, fornecer serviços de comunicação seguros aos Estados-Membros da União Europeia e, ao mesmo tempo, revitalizar o sector espacial do bloco, segundo escreve o FT.
“A Iris² é a base da nossa autonomia estratégica e da nossa capacidade de defesa, promove a nossa competitividade e dinamiza a cooperação entre os sectores público e privado”, concluiu Timo Pesonen, Diretor-Geral da Defesa, Indústria e Espaço da Comissão Europeia, citado pelo jornal britânico.
O projeto deverá estar concluído até 2030.