A Inteligência Artificial (IA) desempenha hoje o papel que a máquina a vapor teve no século XVIII, então a alavanca da primeira revolução industrial. A IA é atualmente a força motriz do que o Fórum Económico Mundial (World Economic Forum) e o seu fundador Klaus Schwab baptizaram como “quarta revolução industrial”. Num tom otimista, no primeiro painel desta terça-feira do evento em Davos, Julie Sweet, presidente da Accenture, Arvind Krishna, presidente da IBM, e o brasileiro Cristiano Amon, presidente da Qualcomm (semicondutores), juntaram a voz ao senador Republicano norte-americano Mike Rounds e ao ministro da Inteligência Artificial (o primeiro com este título) dos Emirados Árabes Unidos, Omar Al Olama, para concordarem com esta bandeira de Schwab desde 2016.
O Fórum em Davos transformou a IA, a par da turbulência geopolitica e dos desastres climáticos, num dos temas principais do encontro de mais de 2800 participantes de 120 países e três centenas de figuras públicas de todo o mundo.
O ministro dos Emirados deu o tom ao debate ironizando que “se usarmos a IA ficamos completos, mas se não a usarmos estamos acabados”. Omar Al Olama destacou-se recentemente na abertura da COP 28, no Dubai, a 28ª Conferência das Nações Unidas sobre a mudança climática, envolta em polémica, mas o seu papel como ministro da Inteligência Artificial, da Economia Digital e para as Aplicações de Trabalho Remoto - na designação oficial completa do cargo - levanta o véu sobre a ambição dos Emirados em estarem entre os primeiros na revolução da IA.
Os Emirados avançaram com uma estratégia nacional nesta área até 2031 e já estão em 10º lugar no índice dos países mais preparados para esta transformação, liderada por Singapura, Estados Unidos e Dinamarca. O Dubai conta com uma universidade criada propositadamente para a Inteligência Artificial e já avançou com um modelo generativo bilingue (inglês e árabe), o jais-chat. Mas foi o presidente da IBM que colocou um número em cima da mesa: a IA vai gerar um ganho anual de 4 biliões de dólares (3,7 biliões de euros) em produtividade antes do final da década.
IA vai invadir tudo
A líder da Accenture avisou: “Não existe nenhuma área, não existe nenhuma indústria, que não sofra o impacto da Inteligência Artificial. Nos últimos 30 anos, não consigo lembrar-me de uma outra tecnologia em que eu pudesse estar em frente de um CEO e mostrar-lhe, com tanta credibilidade, um impacto material. Isto é muito diferente”. Mas como está ainda “muito, muito no início”, as empresas podem apanhar a vaga.
A velocidade no uso das tecnologias nos últimos 25 anos acelerou dramaticamente. Estudos comparativos do Fórum apontam que a chegada aos 100 milhões de utilizadores da Google demorou 78 meses (mais de seis anos), enquanto que no Tik-Tok levou nove meses e no ChatGPT (uma das plataformas atuais de IA mais usada) apenas … dois meses.
O desafio para todos é ser “criativo”, acentuou, por seu lado, Cristiano Amon. Krishna, da IBM, foi claro: “Se abraçar a IA, vai poder tornar-se mais produtivo, mas se não o fizer, então, provavelmente.. pode ficar até sem emprego”.
Para avaliar o impacto no mundo laboral, os economistas do Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgaram antes do arranque de Davos um estudo em que os números provocam um choque para quem esteja desatento: 40% dos empregos à escala mundial estão expostos aos impacto da IA e, no caso da economias desenvolvidas, a ameaça é ainda maior: 60%.
Mas nessa vasta massa de “expostos”, metade pode beneficiar do impacto, sobretudo os jovens com maior literacia tecnológica do que os restantes, e a outra metade pode ficar sem emprego ou obrigada a trabalhos com forte redução do salário.
O FMI avançou com um índice de “preparação” para a IA, em que os 10 primeiros lugares estão ocupados por Singapura, EUA, Dinamarca, Japão, Reino Unido, Austrália, França, Espanha, Chipre e Emirados Árabes Unidos.