Tecnologia

Israel vai boicotar Web Summit, anuncia embaixador

Israel irá boicotar a próxima edição da Web Summit em Lisboa, que decorrerá de 13 a 16 de novembro, devido a declarações do fundador da conferência, Paddy Cosgrave, a criticar o país

Dor Shapira diante da bandeira de Israel, no seu gabinete na embaixada em Lisboa
NUNO BOTELHO

O embaixador de Israel em Portugal, Dor Shapira, anunciou esta segunda-feira na rede social X (antigo Twitter) que Israel irá boicotar a conferência de tecnologia Web Summit, depois de Paddy Cosgrave ter descrito as ações de Israel na faixa de Gaza como sendo “crimes de guerra”.

“Escrevi hoje ao Presidente da Câmara de Lisboa informando-o que Israel não participará na conferência Web Summit devido às declarações ultrajantes proferidas pelo diretor executivo da conferência, Paddy Cosgrave”, escreveu Shapira, em português, na rede social.

“Mesmo nestes tempos difíceis, ele é incapaz de pôr de lado as suas opiniões políticas extremistas e de denunciar as actividades terroristas do Hamas contra pessoas inocentes. Dezenas de empresas já cancelaram a sua participação nesta conferência, e encorajamos outras a fazê-lo. Devemos ter tolerância zero em relação aos actos terroristas e de terror!”, concluiu.

O embaixador de Israel alude a publicações de Cosgrave na mesma rede social, descrevendo, sem mencionar explicitamente Israel, como “crimes de guerra” as ações recentes do país na Faixa de Gaza.

“Estou chocado com o discurso e as ações de tantos líderes e governos ocidentais, com a excepção particular do governo da Irlanda, que por uma vez está a fazer a coisa certa. Crimes de guerra são crimes de guerra mesmo quando são cometidos por aliados, e devem ser chamados pelo que são”, escreveu Cosgrave, numa mensagem datada do dia 13 de outubro.

O primeiro-ministro irlandês, Leo Varadkar, disse recentemente que a solidariedade demonstrada após o ataque do Hamas “pode cair se Israel for demasiado longe no que toca às suas ações em Gaza”, disse em entrevista à televisão pública irlandesa RTÉ. Antes, a Irlanda tinha-se recusado a suspender a ajuda humanitária à Palestina, uma decisão elogiada pelo próprio Cosgrave no antigo Twitter.

Inicialmente a Comissão Europeia anunciara uma suspensão dos pagamentos, para logo a seguir se retratar e inclusive aumentar os fundos de apoio.

Esta não foi a primeira publicação de Cosgrave com críticas a Israel desde o atentado, tendo num dos mais recentes defendido que “Israel tem o direito de se defender, mas não tem, como já disse, o direito de infringir a lei internacional”.

Cosgrave reagiu e tentou pôr água na fervura esta segunda-feira com nova mensagem na rede X: “Estamos devastados com os assassínios terríveis e com o nível de vítimas civis inocentes em Israel e Gaza. Condenamos os ataques do Hamas e alargamos as nossas condolências a todos os que perderam entes queridos. Temos esperança numa reconciliação pacífica”.

A organização da Web Summit, contactada pelo Expresso, entretanto reagiu com um comunicado: “compreendemos que esta é uma altura muito sensível e dolorosa durante esta tragédia total que é a guerra. Queremos reiterar a nossa desolação pelas mortes de inocentes em Israel e Gaza. Condenamos fortemente os ataques do Hamas a israelitas”.

“A missão da Web Summit é a de ligar pessoas e ideias que estão a mudar o mundo, originárias de todo o planeta. Quanto mais vozes tivermos de todo o mundo, mais conseguiremos ajudar a mudar o mundo para melhor. Lamentamos que o embaixador israelita em Lisboa, Dor Shapira, já não vá participar na Web Summit. Lamentamos qualquer ofensa que possamos ter causado”, concluem.