Economia

Crise da dívida: situação da zona euro agrava-se

Apesar dos leilões de dívida em Portugal e na Alemanha terem sido considerados positivos, o risco de incumprimento agravou-se para sete países da zona euro e para a Hungria. No mercado secundário, os juros agravaram-se para Espanha, França, Áustria e Hungria

Jorge Nascimento Rodrigues (www.expresso.pt)

A probabilidade de incumprimento de sete países da zona euro agravou-se hoje, olhando aos dados da CMA DataVision.

Estiveram em destaque Portugal, Irlanda, Itália, Espanha, Bélgica, França e Áustria. Fora da zona euro, foi a Hungria, membro da União Europeia, que viu o seu risco de default aumentar quase três pontos percentuais ao longo do dia. A degradação da situação de crédito na Hungria repercutiu-se na Áustria.

As situações mais preocupantes centraram-se, hoje, nos casos de Itália e da Hungria.

A Hungria, que se encontra em 8º lugar no clube da bancarrota (TOP 10 dos países com maior probabilidade de incumprimento), esteve hoje sob os holofotes dos analistas. O risco chegou perto dos 40%. A situação política húngara está a gerar enorme nervosismo entre os investidores e as negociações do governo de Budapeste com o Fundo Monetário Internacional e a União Europeia estão paralisadas.

Por seu lado, a Itália voltou a níveis de risco acima de 36,5%, o que a aproxima do Egito, o país que está em 9º lugar no clube da bancarrota. Uma troca de posições poderá ocorrer, a manter-se a tendência. O custo dos seguros contra o risco de Itália entrar em incumprimento - conhecidos pela designação técnica de credit default swaps (cds) - subiu de 480 pontos base no fecho de ontem para 516 pontos base no fecho de hoje. O limiar dos 500 pontos base é considerado crítico.

Nem mesmo os leilões de dívida soberana que ocorreram em Portugal e na Alemanha - que foram concorridos e obtiveram os objetivos de financiamento a juros mais baixos do que nas operações anteriores similares - inverteram a tendência negativa que se observara logo pela manhã. De facto, a parte da manhã deixara logo uma indicação negativa: Portugal, Itália, Hungria, Espanha, França e Bélgica viram as suas probabilidades de incumprimento subir logo na abertura. E Itália regressou ao limiar crítico. À tarde juntou-se a Áustria. Como sublinhou a agência de informação financeira Markit, a banca austríaca tem uma enorme exposição à Hungria, o que fragiliza o país.

O dia fechou com as seguintes posições no referido "clube" por parte dos países membros da União Europeia: Grécia liderando com quase 94% de risco de incumprimento (para muitos analistas a situação vai arrastar-se provavelmente até 20 de março, quando Atenas terá de proceder a um refinanciamento de dívida soberana no montante de €14,5 mil milhões); Portugal, em 2º lugar, com 61,22%; Irlanda em 6º, com 46,24%; Hungria em 8º, com 39,92%; e Itália em 10º, com 36,51%. Os outros quatro países referidos não se encontram no "clube": Espanha fechou com um risco de 31,94%; Bélgica com 25,10%; França com 18,20%; e Áustria com 17,31%. Com estes níveis de risco é paradoxal que França e Áustria continuem a ter uma notação de crédito de triplo A.

No mercado secundário da dívida, as yields (juros) dos títulos de Espanha, França, Áustria e Hungria subiram em todas as maturidades. No caso da Hungria os juros estão acima de 10% nos prazos a 3, a 5 e a 10 anos; nestes dois últimos prazos aproximam-se dos 11%.

Apesar de traders alegarem que teria havido intervenção no mercado secundário por parte do Banco Central Europeu ao abrigo do seu programa SMP (de aquisição de títulos soberanos de países membros da moeda única), os juros dos títulos do Tesouro italiano a 10 anos, os mais escrutinados, continuaram a subir, ainda que se mantendo ligeiramente abaixo dos 7%. Fecharam em 6,94%; na terça-feira haviam fechado em 6,92%.

Os juros das obrigações do Tesouro português desceram na maioria dos prazos, tendo subido apenas na maturidade a 10 anos, cujo juro subiu de 13,37%, no fecho ontem, para 13,46%, no encerramento hoje do mercado.

No caso da Bélgica, os juros subiram nos prazos a 3, a 5 e a 10 anos, situação similar à da Grécia. A Irlanda apresentou uma situação "mista", com juros a subir nos prazos a 2 e a 5 anos, e a descer nos prazos a 3 e a 9 anos.