O presidente executivo do Banco Montepio em entrevista ao jornal de Negócios e Antena 1 não tem dúvidas de que uma compra do Novo Banco por parte de um dos maiores bancos a operar em Portugal iria criar uma instituição que à luz da concorrência poderá não ser viável.
“Uma venda do Novo Banco a um banco em operação em Portugal alterava de forma significativa a dinâmica competitiva”, diz Pedro Leitão, ao Negócios e à Antena 1.
Também o presidente do Santander Portugal disse algo semelhante na sexta-feira, durante a conferência de apresentação de resultados anuais. “Não deixa de ser estranho um panorama em que o banco público, que é o maior banco, comprar outro banco e ficar com mais de um terço do mercado”. E prosseguiu dizendo que não lhe cabe a ele analisar, mas sim “às autoridades nacionais, e europeias, pronunciarem-se se isso assim acontecer, e aos portugueses, se devem ter mais de um terço do mercado financeiro português nas mãos de um banco público”, concluiu Pedro Castro e Almeida.
Pedro Leitão, sublinha no mesmo sentido: “Não sei mesmo, do ponto de vista da Autoridade de Concorrência, quais seriam os remédios a aplicar uma operação dessa natureza”, diz, explicando que “o Novo Banco tem 14% a 15% de quota de mercado, os top players à volta dos 20%, 20 e pouco”. “Estaríamos a falar de um player que podia chegar facilmente a 35 ou 40 por cento”.
E na entrevista diz mesmo ter “algumas dúvidas que, do ponto de vista de concorrência, isto fosse viável, portanto, haveria sempre cenários de remédios”, o que “não sei se seria o mais benéfico”.
Pedro Leitão foi mais além do que Pedro Castro Almeida, defendendo que o contexto mais favorável para o sistema bancário nacional como um todo é uma Oferta Pública Inicial (IPO, na sigla inglesa), já que Portugal tem apenas um banco cotado, o BCP.
“O Novo Banco está num caminho de tentar fazer um IPO. Nós termos apenas um banco com ações cotadas, isso é que é preocupante. O Novo Banco engrossar essa fileira, acho que é bom”, remata Pedro Leitão num excerto da entrevista este domingo publicada.
Montante da garantia pública no Montepio é curto, diz CEO
Pedro Leitão diz não entender por que razão foi apenas atribuído ao Banco Montepio um montante de 5 milhões de euros ao abrigado da garantia para jovens entre os 18 e os 35 anos comprarem a primeira habitação.
Assume estar dececionado com a atribuição, afirma que os números são “dececionantes” e que “se dependesse só desse número para ajudar os jovens a ter crédito à habitação, estava tramado”, desabafa.
“Ficámos muito surpreendidos, os números são dececionantes. A garantia vale 1.200 milhões de euros. O que veio a público é que terá sido distribuída tendo em linha de conta fatores como a quota de mercado, o que indicia que podem ter sido considerados outros. Mas se fosse só a quota de mercado, a nossa indiciaria que a garantia deveria estar mais próxima dos 60 ou 70 milhões do que dos 5 milhões”, adverte Pedro Leitão. Reclamando uma quota idêntica à que foi atribuída à sucursal do espanhol Bankinter.
E vai mais longe referindo ainda ao jornal de Negócios e Antena 1 que "não é com esse número que vamos conseguir. Se dependesse só desse número para ajudar os jovens a ter crédito à habitação, estava tramado. 35% do crédito que concedemos no ano passado foi a jovens até aos 35 anos".
Mas segundo foi transmitido pelo ministério das Finanças, os montantes atribuídos podem ser reforçados se for necessário. Ou seja, se o banco esgotar o montante atribuído e tiver pedidos para jovens entre os 18 e os 35 anos que sejam elegiveis.
Pedro Leitão acaba por dizer que no Banco Montepio, até agora a procura não é grande. "Fizemos cerca de 2 mil simulações nas primeiras semanas. Em propostas concretas e entradas para análise está um pouco abaixo da centena", revela.
O que comparado com o que os restantes bancos já revelaram ao mercado é efetivamente modesto.
No Santander Portugal foram recebidos 2500 pedidos até ao momento, e destes já foram escriturados cerca de 40 milhões de euros neste segmento, o que corresponde a cerca de 6 milhões em garantia do Estado, disse o administrador do pelouro do Santander Miguel Carvalho, durante a apresentação de resultados anuais.
Do total dos 1,2 mil milhões de garantia, o Santander Portugal conta com 259,2 milhões.
Já o BPI recebeu 750 pedidos e um montante envolvido de 140 milhões de euros para créditos ao abrigo da garantia pública, o que equivale a 6 milhões de dinheiro da garantia pública (atendendo a que o montante de dinheiro publico é 15% do total concedido). Recorde-se que ao BPI foram atribuídos 149,5 milhões de euros ao abrigo da garantia pública.
O montante distribuído pelo governo até ao final de 2026, podendo ser reforçado, ascende a 1,2 mil milhões de euros e envolve 18 bancos que aderiram.
O Banco Montepio apresentou contas relativas a 2024, a 3 de fevereiro, e os lucros foram os mais altos de sempre: 109,9 milhões de euros, o que compara com 28,4 milhões em 2023.