As exportações, nomeadamente por via do turismo, e os fundos do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) serão os grandes fatores responsáveis pelo dinamismo da economia portuguesa em 2024, a não ser que o mundo lá fora se complique, que os fundos europeus não sejam executados, e que a estabilidade das contas públicas seja posta em causa. O Banco de Portugal assim o diz: a instituição reviu em alta as previsões de crescimento para 2024 e para os anos seguintes, antecipando agora um crescimento de 2% em 2024 e de 2,3% em 2025, acima da média da zona euro.
Estas previsões representam uma mudança após vários meses de revisões mais pessimistas das previsões económicas por parte do banco central português. No Boletim de dezembro, o Banco de Portugal voltava a calibrar em baixa as suas perspetivas para 2024, antecipando um crescimento económico de 1,2% Meses antes, em junho, calculava que a economia nacional crescesse 2,4%.
O que motivou esta melhoria das perspetivas? No Boletim Económico de março, publicado esta sexta-feira, 22 de março, o Banco de Portugal aponta o investimento e as exportações como principais vetores de crescimento. Mas há riscos que podem pôr em causa esta melhoria das perspetivas. Além do agravamento das condições externas (com as guerras em curso e as reconfigurações do mapa geopolítico a serem a maior preocupação), o Banco de Portugal alerta que a fraca execução dos fundos do PRR e um relaxamento da política de “contas certas” poderão ser fatores negativos para a economia nacional.
“Mantêm-se os riscos de origem interna associados a um cenário de incerteza na condução da política económica e a atrasos na execução dos fundos europeus”, alerta a instituição. A redução do endividamento, e não só o público, fez com que a economia portuguesa operasse com “maior resiliência num contexto de taxas de juro mais elevadas do que as observadas nos anos pré-pandemia”, explica o BdP. "O crescimento económico em Portugal deverá continuar a ser consistente com a manutenção dos equilíbrios macroeconómicos fundamentais em termos de contas públicas e de contas externas", segundo o Banco de Portugal.
Entretanto, o surto inflacionista parece já ser um fantasma do passado: deverá diminuir para uma média de 2,4% em 2024, “apesar de efeitos temporários sobre os preços dos bens alimentares e energéticos ao longo do ano. Em 2025, a inflação situa-se em 2%, e no ano seguinte, em 1,9%”, segundo a instituição, resultado de “menores pressões externas e os efeitos das decisões passadas de política monetária”.
No emprego, o crescimento deverá continuar: 0,7% em 2024 e 0,5% em 2025-26, em paralelo com os salários reais; e a taxa de desemprego deverá estabilizar nos 6,5%.
Investimento impulsiona
O regresso da procura global, a descida já perspetivada das taxas de juro pelos bancos centrais e o caudal de fundos europeus do PRR deverão provocar um aumento do investimento (formação bruta de capital fixo), tanto público como privado, na ordem dos 3,6% em 2024, acelerando nos anos seguintes.
As empresas, penalizadas pelo agravamento das condições financeiras, deverão investir mais do que o previsto nos próximos anos motivadas pela necessidade de modernização; e o nível de investimento empresarial deverá atingir valores altos.
“O crescimento anual projetado para esta componente ― 3% em 2024 e 5%, em média, em 2025–26 ― reflete as necessidades de investimento em capital físico e tecnológico para fazer face à transição energética e digital, bem como à reconfiguração das cadeias de fornecimento globais. No horizonte de projeção, o peso do investimento empresarial no PIB deverá atingir valores historicamente elevados e superiores aos da área do euro", refere o BdP.
O Banco de Portugal sublinha que “este é um fator crucial para assegurar a convergência em termos de produtividade, rendimento per capita e bem-estar face a economias mais avançadas”.
Mas o maior “salto” deverá caber ao investimento público, que, prevê-se, irá crescer “em torno de 11% em 2024–25 e 2,5% em 2026”, com os fundos do PRR a servirem de motor.
Turismo com maior peso
As exportações deverão crescer, em 2024, 3,5%, mais do que o previsto em dezembro. A procura externa deverá continuar a aumentar, com o turismo a servir de grande motor.
“Em 2023, o crescimento de 4,2% das exportações totais foi sustentado pela componente de serviços, refletindo o impacto da recuperação pós-pandemia do turismo mundial, enquanto a componente de bens estagnou”, explica a instituição liderada por Mário Centeno.
“Projeta-se um crescimento anual da componente de serviços de 4% em 2024–25 e de 3,3% em 2026. Em 2024, o turismo deverá manter um dinamismo superior ao do total das exportações. As perspetivas para o setor a nível mundial mantêm-se favoráveis e, num contexto de elevados riscos geopolíticos, as exportações de serviços deverão continuar a beneficiar da perceção de Portugal como destino turístico seguro”.
Apesar da estagnação nas exportações de bens de 2023, estas “deverão recuperar, crescendo 3,2% em 2024 e 3,7%, em média, nos anos seguintes”, segundo o Banco.