A indústria portuguesa do calçado vai investir um valor recorde de 600 milhões de euros até 2030 em inovação, sustentabilidade, qualificação das empresas e trabalhadores e internacionalização, segundo a associação setorial APICCAPS.
"O grande investimento que estamos a fazer, o maior investimento da nossa vida nesta indústria até ao final da década, são 600 milhões de euros em quatro áreas distintas mas complementares", afirma o porta-voz da Associação Portuguesa dos Industriais do Calçado, Componentes, Artigos de Pele e Seus Sucedâneos (APICCAPS).
Segundo Paulo Gonçalves, o objetivo não é propriamente aumentar a produção, uma vez que o setor já produz anualmente 80 milhões de pares de calçado, mas, sobretudo, "otimizar processos e fazer da indústria portuguesa uma grande referência internacional no desenvolvimento de novos produtos".
Assim, os 600 milhões de euros de investimento previsto até 2030 incluem dois grandes projetos já em curso -- o BioShoes4All e o FAIST -- cuja conclusão está prevista até final de 2025 e que se focam nos temas da automação, digitalização e sustentabilidade.
O porta-voz da APICCAPS salienta que uma das vertentes centrais da estratégia do setor é o denominado "compromisso verde", no âmbito do qual a associação assinou no início de 2023 um protocolo com cerca de 150 empresas, nas quais estão a ser feitas auditorias com o objetivo de melhorar a eficiência energética, o uso de materiais ou o 'eco design'.
"Estamos a fazer estas auditorias às empresas para que efetivamente possamos, em primeira circunstância, alterar e otimizar os processos. Os novos produtos, a nova geração de produtos, vem de seguida", explica Paulo Gonçalves.
No total, são cerca de uma centena de parceiros, incluindo 14 universidades, atualmente a trabalhar com a indústria portuguesa de calçado para a colocar "na linha da frente".
Paralelamente, a indústria portuguesa de calçado está a criar uma "nova geração de produtos", onde se incluem biomateriais (como cascas de fruta), materiais naturais (como cortiça e madeira) e materiais reciclados, assim como a trabalhar no desenvolvimento de novas tecnologias e técnicas com a principal matéria-prima atual, o couro, cuja sustentabilidade também defende.
Isto porque, segundo o porta-voz da associação, o couro é um produto duradouro e um desperdício da indústria alimentar, que, ao ser usado no fabrico do calçado, contribui também para "o bem-estar do planeta".
Em simultâneo, o setor está ainda a trabalhar em domínios como a eficiência energética, a redução do consumo de água e o 'eco design'.
"Todos os anos são produzidos 24.000 milhões de pares de sapatos, cerca de 90% são feitos na Ásia, o que equivale a dizer que cada nove em 10 pessoas usam sapatos asiáticos. Não consideramos que seja sustentável, pelo contrário, entendemos que existe espaço no mercado para um pequeno 'player' como Portugal", sustenta Paulo Gonçalves.
"Estamos aqui para durar, independentemente dos ciclos conjunturais. A nossa maior prova de confiança é que estamos a fazer o maior investimento da nossa história. Entendemos que Portugal pode ser uma grande referência internacional ao nível de desenvolvimento de uma indústria sustentável, de uma indústria de futuro", acrescenta.
Calçado português mostra-se com 70 empresas em Milão
Cerca de 70 empresas portuguesas de calçado e artigos de pele participam a partir deste domingo em Milão, Itália, nos certames internacionais MICAM, MIPEL e Lineapelle, procurando inverter a quebra de 5,1% das exportações da fileira em 2023.
"Este será um ano importante para a nossa atividade" afirma o presidente da Associação Portuguesa dos Industriais do Calçado, Componentes, Artigos de Pele e Seus Sucedâneos (APICCAPS), que organiza a participação nacional na feira de calçado MICAM, na de acessórios de pele MIPEL e na de componentes para calçado e curtumes Lineapelle.
"O nosso setor exporta mais de 90% da sua produção e, depois de um 2023 muito difícil para toda a fileira da moda à escala internacional, temos a expectativa de que este seja um ano de afirmação do calçado português nos mercados externos", sublinha Luís Onofre.
No ano passado, a fileira nacional de calçado e artigos de pele exportou 2.222 milhões de euros, o que representa uma quebra de 5,1% face a 2022. O setor do calçado exportou 66 milhões de pares de calçado, no valor de 1.839 milhões de euros, registando uma quebra de 11,3% em quantidade e de 8,2% em valor ao ano anterior. Quanto ao preço médio do calçado exportado, subiu 3,45%, para 27,70 euros o par.
Já o setor de artigos de pele e marroquinaria aumentou as exportações em 14%, para 310 milhões de euros, enquanto o setor de componentes para calçado viu as vendas ao exterior crescerem 13,6%, para 73 milhões de euros.
Nesta edição das três feiras - que decorrem no espaço de uma semana, entre domingo e quinta-feira - Portugal estará representado por 35 empresas na MICAM (que compara com as 33 na edição homóloga do ano anterior), por uma na MIPEL e por 32 na Lineapelle, 14 das quais de componentes para calçado.
Na edição passada, 2.000 marcas apresentaram as suas coleções na Semana da Moda de Milão e os três certames acolheram, em conjunto, 42.273 visitantes profissionais, oriundos de 129 países, um crescimento de 21% face à edição anterior.
De acordo com a organização, "as feiras revelaram uma procura crescente por parte dos compradores estrangeiros" e "comprovaram a importância das exportações no fortalecimento da recuperação da indústria".
A APICCAPS detalha que os números finais dos eventos mostram "um número crescente" de visitantes de Espanha, França e Alemanha, enquanto, entre os países não pertencentes à União Europeia, se assinala "o regresso há muito aguardado" da China e confirmações do Japão e da América do Norte.
O 'cluster' português do calçado -- que abrange os setores do calçado, componentes e artigos de pele -- é constituído por 1.500 empresas, responsáveis por mais de 40.000 postos de trabalho e que exportam 90% da produção para 173 países dos cinco continentes.