Economia

Ex-líder executiva da TAP defende-se, acusa Medina de a chantagear e a companhia de tentar "destruir" a sua reputação

Christine Ourmières-Widener diz-se "insultada" pela TAP, que acusa de “mentir” na sua defesa contra o processo da gestora. Garante ter sido "ameaçada" pelo ministro das Finanças, acusando-o de a obrigar a demitir-se por "razões políticas". “Não sou um monstro, sou uma mulher de negócios”, afirmou, defendendo os méritos da sua gestão, espelhados nos lucros históricos da companhia

ANTÓNIO COTRIM

Exonerada, a 6 de março de 2023, do cargo de presidente executiva da TAP por "justa causa", depois de um relatório da Inspeção Geral das Finanças ao despedimento da administradora Alexandra Reis, com uma indemnização de 500 mil euros, Christine Ourmières-Widener vem, numa entrevista à TVI/CNN, tecer duras críticas ao ministro das Finanças, Fernando Medina, a quem acusa de a ter "chantageado" e "ameaçado", obrigando-a a demitir-se, sem que houvesse justificações para isso. Acusações graves, feitas a menos de um mês das eleições legislativas, em que é candidato o antigo ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, o governante que a contratou, e a quem Ourmières-Widener não crítica.

“Ele aconselhou-me veementemente a demitir-me por causa da minha reputação. Chamo a isso chantagem e estar a ameaçar-me e foi o que ele fez“, lamenta a gestora francesa, referindo-se ao ministro das Finanças, Fernando Medina. Assumindo-se como vítima, e uma mulher sozinha, Ourmières-Widener afirma que a sua demissão foi política e não por questões profissionais. “Durante o tempo em que estive na TAP só tive felicitações de todas as partes, incluindo daquele que me despediu“, salientou, afastando qualquer leitura política do momento escolhido para romper o silêncio sobre o caso.

A gestora assegura que não aceitou o pedido de Medina porque seria injusto e humilhante, mas também porque perderia os seus direitos. Na sua defesa contra a TAP, Ourmières-Widener pede uma indemnização de 5,6 milhões de euros, um valor que admite ser alto, mas justo. "Quando nos demitimos perdemos todos os direitos”, diz. Justificando também que não aceitou, apesar de Fernando Medina lhe ter assegurado que “podia receber um bónus" e que isso seria discutido após a sua demissão. “Como se pode confiar em alguém que nos pede para nos demitirmos, que ameaça a nossa reputação? Senti-me humilhada, insultada. Foi horrível”, lamentou.

Defesa da TAP está cheia de “ataques e mentiras”

Também não poupa a TAP, dizendo que a companhia mente na sua defesa no processo levantado por Christine Ourmières-Widener. A transportadora acusa a gestora de "violação grosseira dos estatutos" da companhia e diz que esta é suspeita dos alegados crimes de “tráfico de influência”, na sequência de uma proposta de serviços de uma empresa a que estava ligado o marido da gestora.

“A resposta da TAP [no processo contra Ourmières-Widener] está cheia de mentiras, ataques e insultos“, afirmou. “Sou um monstro para eles. Um verdadeiro monstro. Como acreditam sequer que isso é verdade?”, pergunta a gestora. E prossegue: “Estão a tentar destruir a minha reputação, destruir o meu passado. Dizem todo o tipo de coisas a meu respeito que não são verdade, que não tive nada que ver com o sucesso da empresa e com os resultados positivos”. Lembrou que foi ela e a sua equipa que defenderam que a TAP devia aumentar a oferta para satisfazer a forte procura, quando havia dentro da companhia quem defendesse que não era uma boa ideia.

“Estão a tentar convencer as pessoas de que o meu percurso na indústria está repleto de fracassos e que não sou uma pessoa honesta”, lamenta ainda. Lembra que tem 30 anos de profissão, afirmando que foi a sua experiência como gestora do setor que permitiu que a Comissão Europeia acedesse minimizar a redução dos slots a perder pela TAP.

Acordo com a TAP não está afastado


Se há lição que a gestora tirou deste processo, confessou na entrevista à TVI/CNN, é a de que não voltaria a trabalhar numa empresa pública. Regressou ao setor privado, e em setembro avancou com um processo contra a TAP - e não contra o Estado - , onde contesta a sua demissão, e pede uma indemnização de 5,9 milhões de euros. É o valor a pagar pelos danos à sua reputação, que considera "enormes". "Prejudicaram a mim, à minha família e a todos os meus amigos”, justifica. “As pessoas nem se apercebem como esta experiência foi difícil. Não o desejo a ninguém nem ao meu pior inimigo“, afirmou.

Assegura que os contratos que manteve com outras empresas, que levaram a que seja acusa de deslealdade, eram do conhecimento de quem a contratou e estavam vertidos no contrato que assinou.
Apesar de acusar a TAP de mentir, Ourmières-Widener admite um acordo amigável para acabar com o processo. “Acredito na justiça. Pessoas razoáveis poderão ter uma discussão produtiva. Vamos ver”, diz.

“Faço isto pelos meus filhos. Espero que a minha reputação seja limpa. Isso é o mais importante para mim”, afirma. Assegura que “não tem nada contra Portugal. É um grande país”. E conta que o marido continua a viver em Portugal.