Economia

Global Media: comissão executiva nega qualquer transferência de dinheiro para administradores

Trabalhadores exigiram esclarecimento das denúncias feitas pelo advogado Garcia Pereira relativas a alegadas transferências financeiras para empresas e familiares dos gestores executivos. José Paulo Fafe ameaça processar o advogado

TIAGO MIRANDA

A Global Media disse esta segunda-feira que "é totalmente falso que qualquer membro da comissão executiva do Global Media Group (GMG), ou qualquer empresa a eles, diretamente ou indiretamente ligada, tenha alguma vez recebido qualquer transferência bancária que seja do GMG".

A comunicação da comissão executiva - que se encontra reduzida ao seu presidente, José Paulo Fafe -, é a reação ao que classifica de "algumas notícias sem fundamento vindas a público nos últimos dias sobre supostas verbas alegadamente recebidas por administradores" do grupo que detém o Jornal de Notícias, o Diário de Notícias, a TSF e O Jogo, entre outros meios de comunicação social.

As notícias referiam as acusações feitas pelo advogado Garcia Pereira que na passada sexta-feira publicou um artigo no site Notícias Online, no qual denunciava a existência de transferências de dinheiro, no valor total de 150 mil euros, para empresas e familiares de alguns administradores do grupo, entre os quais José Paulo Fafe e os agora ex-administradores executivos Diogo Agostinho, Paulo Lima Carvalho e Filipe Nascimento. Foram, denunciou o advogado, transferências feitas a meio de dezembro, depois de o grupo ter decidido suspender o pagamento dos subsídios de Natal e anunciado que pretendia reduzir o número de trabalhadores, atualmente de cerca de 530, para um intervalo entre 380 e 330 pessoas. Nessa altura a comissão executiva invocou uma situação financeira "gravíssima" - disse mesmo que estava a tomar medidas para evitar a "mais do que previsível falência do grupo”, uma declaração que segundo os trabalhadores provocou um forte rombo nas receitas do grupo.

Mas Garcia Pereira falou também de transferências para esses administradores feitas no início de janeiro, numa altura em que já havia atrasos graves nos salários de dezembro - neste momento ainda estão por pagar essas remunerações de dezembro a parte significativa dos trabalhadores, nomeadamente aos da área da imprensa que trabalham no JN, DN e O Jogo.

O Expresso contactou a Global Media há uma semana, questionando quais os serviços prestados pelos membros da administração ao grupo, além dos que são conhecidos e que dizem respeito a Marco Galinha e ao seu grupo BEL. Marco Galinha é presidente do conselho de administração da Global Media, mas até meio de novembro era também o presidente executivo do grupo. Cedeu o lugar a Fafe na sequência da venda da maioria da posição de controlo que detinha ao World Opportunity Fund, o fundo de investimento que tem estado a ser investigado pela Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) e que controla 50,25% do capital. Foi o fundo que nomeou Fafe e os outros administradores executivos.

Sem comentários

A Global não fez comentários sobre o tema da prestação de serviços nem na segunda-feira da semana passada nem na sexta-feira, quando o Expresso voltou a contactar a empresa, depois de Garcia Pereira ter publicado a informação sobre as alegadas transferências. O Expresso também contactou diretamente José Paulo Fafe assim como Diogo Agostinho, que se demitiu a meio de dezembro, Paulo Lima Carvalho e Filipe Nascimento - ambos demitiram-se na semana passada após ser conhecido que o World Opportunity Fund tinha suspendido transferências de dinheiro para pagar salários enquanto não houvesse uma decisão da ERC sobre o procedimento administrativo que abriu contra o fundo e enquanto Marco Galinha não retirasse o procedimento cautelar de arresto que intentou a 4 de janeiro. Apenas Filipe Nascimento respondeu, negando qualquer transferência do grupo para a sua empresa.

Esta segunda-feira a comissão executiva decidiu então reagir, após ser noticiado que os trabalhadores do grupo querem esclarecer o assunto, que, segundo afirmam, parece configurar no mínimo uma situação "imoral". Pediram ao Sindicato dos Jornalistas que avalie a situação em termos jurídicos, admitindo mesmo fazer uma denúncia formal sobre o assunto.

A Global Media diz, sobre as alegadas transferências, que "qualquer afirmação nesse sentido, além de falsa e mentirosa, terá a competente e devida resposta em local próprio, ou seja, nos tribunais e instâncias competentes", ameaçando assim agir contra Garcia Pereira.