Emmanuel Macron batizou Davos de “lugar de comunicação mundial”, mas a quase totalidade dos líderes das principais potências não vieram ao Fórum Económico Mundial este ano. Com duas exceções: o próprio Presidente francês, que defendeu a agenda de “uma Europa soberana” (ver artigo na página 16), e da presidente da Comissão Europeia Ursula von der Leyen, que veio reafirmar que a Rússia “falhou nos objetivos estratégicos” que tinha para a invasão em larga escala do seu vizinho, a Ucrânia, em 2022. As ausências mais notadas foram Joe Biden, que enquanto Presidente ainda não veio ao evento, e Xi Jinping, que em 2017 fez um brilharete defendendo a globalização. Mas também não veio Narendra Modi, da Índia, nem Lula da Silva, do Brasil. A Rússia está excluída desde 2022.
Pequim mandou, este ano, o primeiro-ministro Li Qiang, que arrancou três rondas de aplausos na audiência no Fórum. O atual segundo homem-forte do regime antecipou em um dia a boa-nova que a economia chinesa cresceu 5,2% em 2023, mais do que o oficialmente desejado, O que tranquilizou a elite multinacional e financeira presente em Davos, a quem se dirigiu diretamente acenando com um mercado gigante que “não é um risco, mas uma oportunidade”. O dirigente chinês pegou numa buzzord avançada pelo Fórum para dizer que Pequim defende a “coopetição”, uma competição “saudável” com cooperação, nomeadamente na tecnologia e no clima, e garantiu que na China há “um ambiente de negócios de classe mundial”. Na dimensão geopolítica, não se abriu sobre nenhum tema das crises que varrem o mundo, mas lamentou que haja atualmente “um défice de confiança” e garantiu que quanto ao multilateralismo só adere ao “verdadeiro”. Não por acaso, António Guterres voltaria a defender, esta semana, em Davos que um mundo multipolar — como o que se desenha atualmente — “é uma coisa boa”, mas que tem de ser complementado pelo multilateralismo apoiado em instituições que o defendam. Ora, o risco atual, disse o secretário-geral das Nações Unidas, é o desprezo pelo multilateralismo e a tendência crescente para decisões unilaterais.
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