A localização Santarém foi considerada “inviável” pela Comissão Técnica Independente (CTI) que avaliou as localizações do novo aeroporto, devido a problemas de navegação e à proximidade à Base Aérea de Monte Real. Mas a opção Santarém poderá voltar a jogo.
A reavaliação de Santarém é possível porque as conclusões do relatório estão agora em consulta pública, e pode haver alterações. Maria Rosário Partidário, a coordenador global da CTI, admitiu a possibilidade esta quinta-feira, em Santarém, numa sessão de esclarecimento sobre as "Opções Estratégicas Aeroportuárias para a Região de Lisboa". Mas para que a reavaliação da CTI aconteça, é preciso que haja "alterações das condições", avançou Partiário em declarações aos jornalistas.
Rosário Partidário explicou, em declarações transmitidas pela RTP 3, que as limitações da opção Santarém são visíveis num parecer da NAV, onde a empresa responsável pelo tráfego aéreo diz que aquela localização está limitada a 24 voos por hora, o que deixa esta opção fora do pretendido. Este "número de voos é demasiado baixo para poder constituir um hub intercontinental, o que se torna um constrangimento”, detalhou.
“Se um dos nossos mandados é justamente avaliar o potencial e a capacidade para um hub intercontinental e a NAV nos diz que Santarém não consegue ter, com o layout aeroportuário que está a preparar, então, a nossa conclusão só pode ser, que nestas circunstâncias, para um hub intercontinental, não há condições para Santarém poder vir a desempenhar essa função”, explicou Partidário.
E explicou que é a proximidade à Base Aérea de Monte Real, uma base da NATO onde estão os F-16, que limita o número de voos a 24 movimentos por hora. Uma questão que já tinha sido abordada pela CTI. O aeroporto de Lisboa que funciona com um hub para a TAP, e está esgotado, tem 38/40 movimentos por hora.
Os promotores da opção Santarém, cujo rosto é Carlos Brazão, têm contestado critérios usados pela Comissão, e voltaram a dizê-lo esta quinta-feira. Mas já reuniram com responsáveis da NAV e da Força Aérea para se inteirarem das referidas limitações, e para trabalharem para encontrar soluções.
Em declarações à RTP, Carlos Brazão reconhece que há “muito trabalho a fazer para afinar do ponto de vista técnico essas soluções”. E adiantou que está a trabalhar com a NAV e a Força Aérea para apresentar soluções.
Já Partidário salienta que a base de Monte Real, muito relevante para a NATO, tem "exigências muito concretas" e a Força Aérea considera-a "absolutamente estratégica". Daí, salienta, "desde o início, quando fizemos a primeira fase de avaliação, excluímos Monte Real, que era uma das possibilidades”.
Esclareceu ainda que há um "constrangimento em Santarém que é provocado pelo desenho das pistas e pela forma como o layout aeroportuário está a ser apresentado” a reação é a de que não é exequível, acrescentou.
Confiante, Carlos Brazão acredita que é possível desenvolver soluções "já são usadas noutros aeroportos por toda a Europa", alguns com "bases aéreas próximas”. A consulta pública termina a 26 de janeiro, e os promotores de Santarém estão a trabalhar para responder às limitações levantadas.
Promotores de Santarém contestam critérios da CTI, nomeadamente a distância
Na mesma sessão Carlos Brazão criticou os critérios de análise da Comissão Técnica Independente, nomeadamente em relação conceito da zona de influência, que considera ser 100 quilómetros, Santarém está a cerca de 75 quilómetros.
"Uma das coisas que percebemos é que esta análise da CTI não é conforme com as recomendações da União Europeia. Ficámos surpreendidos porque há uma recomendação da União Europeia que diz que a zona de influência de um aeroporto é uma hora de carro ou de comboio a partir do aeroporto, ou 100 km. A Comissão Técnica Independente inventou um conceito restritivo que é 30 minutos de carro", afirmou citado pela Lusa.
Carlos Brazão defendeu que a Comissão “inventou um critério restritivo" e não o aplicou de forma "uniforme". Por isso, pediu uma revisão do conceito de zona de influência.
"Esse critério não é aplicado de forma uniforme. No caso de Alcochete, são 55 km até Amadora, atravessando Lisboa. Não se consegue atravessar o campo de tiro de Alcochete e Lisboa toda até Amadora em 30 minutos. Pedimos uma revisão da forma como as zonas de influência foram definidas e calculadas", apelou.
O presidente da Câmara de Santarém, Ricardo Gonçalves, alinhou nas críticas, e em declarações à Lusa, afirmou que os critérios "não beneficiaram Santarém”. É, defende, a localização que melhor aproveita "as acessibilidades já existentes” e que “promove uma melhor coesão territorial”.