Economia

Crise no Mar Vermelho agrava-se. Mais de 500 navios desistem da rota pelo Suez

Um quarto da capacidade mundial em transporte marítimo por contentores já desistiu da rota pelo Mar Vermelho e pelo Canal do Suez desde o início dos ataques Hutis na região, segundo o balanço mais recente publicado pelo blogue da Flexport

Anadolu

Os ataques Hutis nas águas do Mar Vermelho desde a primeira operação em novembro já provocaram o desvio daquela rota por parte de 524 navios mercantes, 25% da capacidade global de transporte de contentores, segundo o balanço da Flexport no seu blogue a 12 de janeiro.

No final do ano passado, o desvio da rota pelo estreito do Bab-el-Mandeb e pelo canal do Suez somava 300 navios e representava 18% da capacidade global. Em apenas duas semanas, a situação de reorientação da rota agravou-se em 75%.

A rota pelo Mar Vermelho e pelo Canal do Suez envolve 12% do comércio marítimo mundial e 30% do tráfego global de contentores.

A região está, agora, envolta numa onda de ataques hutis (aliados do grupo terrorista Hamas e considerados peões do Irão no xadrez do Médio Oriente), é patrulhada por navios de guerra de uma coligação internacional de 10 países (Operação Guardiões da Prosperidade) que pretende proteger a rota comercial e registou um ataque militar massivo a alvos hutis no Iémen desde sexta-feira liderado pelos Estados Unidos e o Reino Unido.

Entretanto, a autoridade que gere o Canal do Suez desmentiu oficialmente que tenha havido uma suspensão da navegação nos dois sentidos, apesar do risco do sul do Mar Vermelho se transformar numa zona de guerra.

Os analistas do comércio internacional chamam, ainda, a atenção para o recrudescimento da pirataria somali no Corno de África e para uma primeira operação de pirataria no Golfo de Omã com um navio mercante grego desviado para o Irão.

Impacto colateral no custo do transporte marítimo

O efeito colateral desta reorientação das rotas que vêm da Ásia para o Mediterrâneo foi o disparo do custo dos contentores nas duas principais rotas de Xangai para Roterdão (nos Países Baixos) e para Génova (em Itália). Entre 21 de dezembro e 11 de janeiro, aqueles custos subiram 164% e 166% respetivamente. Um contentor de 40 pés passou a custar mais 2700 dólares no percurso para Roterdão e mais 3257 na rota para Génova, segundo o índice Drewry a 11 de janeiro. A reorientação da rota obriga a uma viagem muito maior pelo Cabo na África do Sul, o célebre caminho marítimo da Europa para o Índico criado por Vasco da Gama no final do século XV.

As duas rotas chinesas para a Europa são, agora, mais caras do que o transporte de contentores de Xangai para Nova Iorque pela via do Pacífico. O custo do contentor na semana passada para Roterdão alcançou 4406 dólares e o para Génova está acima de 5200 dólares. No caso da rota de Xangai para Nova Iorque, o custo está em 4170 dólares. No final do ano passado, a rota de Xangai para Nova Iorque registava os preços por contentor mais caros, superiores a 3000 dólares, em virtude dos problemas no canal do Panamá, fustigado pela seca. Na altura, os preços de Xangai para a Europa eram inferiores a 2000 dólares por contentor.