Seis meses antes nem nos cenários mais pessimistas se previa uma pandemia que quase fez parar o mundo e arrastou a economia portuguesa para a maior crise desde 1890. A riqueza do país encolheu mais de 8% e a amplitude do trambolhão do PIB per capita, do rendimento por cada português, desde o final de 2019 até ao ponto mais baixo da atividade económica no segundo trimestre de 2020, foi brutal, de 19,2%, segundo o Comité português de datação dos ciclos económicos portugueses.
Para se ter uma noção comparativa sobre a gravidade do desastre económico de 2020, basta olhar para a amplitude da depressão do tempo da troika, durante três anos, que foi quase três vezes inferior, ou da crise de 2009, que foi quase cinco vezes inferior, ainda segundo as contas do referido Comité para o PIB por habitante. As previsões, ainda que medíocres, que o Fundo Monetário Internacional divulgou em outubro do ano anterior, foram viradas do avesso pela realidade: a economia mundial em vez de crescer 3,4%, caiu quase 3%. No caso de Portugal, os pressupostos do Orçamento do Estado para 2020 esperavam um crescimento de 1,9%, acima da média da zona euro, e acabou por registar-se um afundamento de 8,3%, maior do que a média do espaço da moeda única.