Economia

Novos choques inflacionistas obrigarão a subir os juros, avisa Isabel Schnabel, do BCE

Há riscos de novo surto inflacionista. “Se se concretizarem, poderão ser necessárias novas subidas de juros em algum momento”, afirmou esta sexta-feira ao diário croata Jutarnji List (Jornal da Manhã) a alemã Isabel Schnabel, que integra a comissão executiva do Banco Central Europeu.

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“Ainda vejo riscos ascendentes para a inflação”, afirmou Isabel Schnabel, da comissão executiva do Banco Central Europeu (BCE) em entrevista esta sexta feira ao diário croata Jutarnji List (Jornal da Manhã). Riscos “ascendentes”, na linguagem técnica dos banqueiros centrais, são riscos de novos surtos inflacionistas.

“Se [esses riscos] se concretizarem, poderão ser necessários novos aumentos nos juros em algum momento”, reforçou a economista alemã, tida como um dos ‘falcões’ na comissão executiva onde têm assento a presidente Christine Lagarde, o vice-presidente Luis de Guindos, o economista-chefe Philip Lane, e mais três outros membros, incluindo Schnabel.

As decisões de política monetária do BCE são tomadas num conselho onde têm assento os seis membros da comissão executiva (entre eles, Schnabel) e os governadores dos bancos centrais nacionais do sistema do euro (entre eles Mário Centeno, do Banco de Portugal), que votam num sistema de alternância.

Este aviso de que há um risco de mais aumentos nos juros do BCE não é novo. A presidente do BCE, Christine Lagarde, já o havia dito claramente na sua recente audição perante a Comissão de Assuntos Económicos e Monetários do Parlamento Europeu. Em resposta ao eurodeputado português Pedro Marques, frisou que uma pausa nas subidas dos juros admitida na última reunião a 14 de setembro só ocorrerá se não houver outros choques inflacionistas.

Na entrevista ao diário croata, Schnabel chamou a atenção para a necessidade de monitorizar esses riscos potencialmente ‘ascendentes’ nos casos da evolução dos aumentos dos salários e dos lucros empresariais, que influenciam o andamento da inflação doméstica, e de problemas nos circuitos da oferta que pressionem os preços em alta.

Os problemas na oferta global recrudesceram nomeadamente na área da energia, onde o petróleo - sujeito à pressão geopolítica do novo cartel OPEP+, liderado pela Arábia Saudita e a Rússia - e o gás natural têm registado subidas de preço. O preço do gás natural de referência na Europa (TTF, cotado nos Países Baixos) disparou 50% de julho a setembro. O preço em dólares do barril de Brent (de referência na Europa) subiu 6% em setembro (e 9% em euros).

A descida significativa da inflação global na zona euro, de 5,2% em agosto para 4,3% em setembro, um abrandamento de quase um ponto percentual, é um sinal “encorajador”, refere Schnabel. Um sinal de uma trajetória descendente no surto inflacionista que poderá sustentar uma decisão do BCE de fazer uma paragem na subida dos juros nas próximas reuniões até final do ano.

A concretizar-se seria a primeira pausa desde que o ciclo de subida dos juros se iniciou em julho do ano passado e elevou as taxas diretoras a um recorde histórico na remuneração dos depósitos do sector bancário (em 4%) e a um máximo desde outubro de 2000 na taxa de refinanciamento (4,5%).