Economia

Como reagiram os partidos à privatização da TAP? "Falta de planeamento", "crime" ou insuficiente

Governo aprovou o decreto-lei para avançar com a privatização da TAP em pelo menos 51%. Há quem fale em "crime", quem peça a privatização total da companhia e uma pergunta que foi repetida: os postos de trabalho estão seguros?

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Nuno Botelho
PS

“O conteúdo do que a oposição diz é, independentemente do assunto, a mesma crítica, o mesmo azedume, e a mesma incapacidade de construir”, disse Eurico Brilhante Dias. Defendendo que o plano do executivo é de “construir um processo de privatização que permita à TAP ter viabilidade económica, continuando a ser um ativo estratégico”, o líder parlamentar do PS reafirmou: “Vamos esperar por este processo, processo que é aberto mas em que nós não nos mexemos um milímetro. Apesar das circunstâncias, a TAP continua a ser um ativo estratégico fundamental para o desenvolvimento do país”.

PSD

"Oito anos depois de tempo perdido, António Costa copiou a privatização que foi obrigado a desfazer. Do nosso ponto de vista é um crime, político, económico e financeiro", disse Miguel Pinto Luz, vice-presidente do PSD, em resposta ao plano hoje apresentado pelo governo.

Considerando o processo em torno da companhia aérea como estando “cheio de contorcionismos”, o vice-presidente atribuiu-lhe um rosto e um preço: "O rosto, do senhor primeiro-ministro António Costa, e um preço, mas de 3,2 mil milhões de euros dos contribuintes".

Lembrando que o governo socialista recebeu a "uma tap privatizada, com novas rotas, uma capacidade de operação em crescendo e, pela primeira vez, um rumo e uma estratégia que não passava por injeções de capital do estado", o vice-presidente social democrata acusa o executivo socialista de ter transformado a companhia aérea na sua “coutada”, gerida “por fins políticos”.

"O importante para o governo de António Costa é a propaganda e hoje cai a máscara, as caravelas já não são necessárias. A prioridade é livrar-se da TAP porque hoje é um ativo tóxico comunicacional", disse ainda Pinto Luz antes de considerar a companhia aérea "o espelho do governo de António Costa e do PS, um governo sem rota, sem visão, sem coerência política".

Chega

“Falha brutal de planeamento”, disse André Ventura após o anúncio feito por Fernando Medina quanto à privatização da TAP. “Ontem tivemos notícias, hoje não desmentidas, que entre os consórcios interessados na aquisição da TAP estaria um que envolve uma companhia britância e a Ibéria, é a maior companhia aéra espanhola. Como todos sabem, quer tornar Madrid num dos maiores centros aeroportuários da Europa e ainda não percebemos se Lisboa vai ou não ser um dos hubbs principais”, disse Ventura, apontando ainda outra dúvida: “os postos de trabalho estão em causa nesta operação?”.

Iniciativa Liberal

Para a IL, “o Governo reconheceu que errou” ao nacionalizar a TAP e defendeu que o dinheiro da privatização deve ser integralmente devolvido aos portugueses, através de um cheque ou descida de impostos. Bernardo Blanco lembrou que a IL defendeu a privatização da companhia aérea nos últimos quatro anos, “muitas vezes sozinha”, tendo apresentado diplomas com esse objetivo “que mais nenhum partido votou a favor”.

O deputado liberal defendeu que a companhia aérea deve ser privatizada na sua totalidade, lembrando que caso a venda seja abaixo dos 3,2 mil milhões “o Governo tem de admitir que os portugueses estão a perder dinheiro”. “Não faz sentido que o valor da venda fique nos cofres do Estado”, disse Blanco, antes de sugerira a criação de um ‘cheque’ TAP, num modelo semelhante ao que permitiu ao Governo pagar a muitos portugueses 125 euros no natal passado.

PCP

O PCP requereu hoje a audição urgente do ministro das Infraestruturas, João Galamba, sobre a privatização da TAP, considerando que se trata de “um crime contra a economia do país e contra a soberania nacional”. “Uma decisão que é tomada em convergência com o que PSD, CDS, Chega a Iniciativa Liberal têm vindo a defender e que se insere num caminho de abdicação nacional, com dezenas de privatizações que deixam o país mais pobre e dependente”, disse Bruno Dias.

“Hoje, a TAP está capitalizada, a dar lucros, e a gerar uma riqueza imensa para o país, sendo um dos mais importantes parceiros da maior aliança de companhias aéreas do mundo, a ‘Star Aliance’”, disse ainda o deputado comunista para quem "privatizar a TAP não é uma garantia de futuro, antes pelo contrário. Privatizar a TAP é o caminho para a destruição de um dos últimos instrumentos de soberania nacional”.

Bloco de Esquerda

Mariana Mortágua falou sobre a anunciada privatização da TAP ainda antes do final do Conselho de Ministros. “A história das privatizações neste país é a história de um assalto, um assalto que não fez bem ao país e que não melhorou o serviço em nenhum setor. E eu penso que os portugueses têm isso bem presente”, disse a líder bloquista.

Para o BE, “a TAP está salva” com dinheiro público, lembrando os mais de 3.000 milhões de euros injetados na companhia aérea, bem como os “cortes salariais brutais”, despedimentos e “saídas forçadas da empresa”. “Estando ela salva porque é que se vai entregar um ativo desta importância e que justificou este investimento, a um qualquer acionista privado? Não cabe na cabeça de ninguém", insistiu.

PAN

“É um processo que já custou muitos milhares de euros ao erário público português”, disse Inês Sousa Real, falando "de cinco mil milhões de euros desde a pandemia". “Por isso mesmo, o PAN propôs que este processo seja acompanhado e fiscalizado pela Entidade das Contas para que possa existir um maior cuidado na fiscalização e avaliação deste processo de venda”. Sousa Real ainda destacou que sobre a “segurança dos trabalhadores, nada foi anunciado pelo Governo”, um motivo de “preocupação” para o partido.