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Economia

2006: o ano em que OPA à PT fez xeque aos poderes instituídos

Sonae enfrentou em 2006 o statu quo e foi derrotada por uma teia de poderes, onde pontuavam o banqueiro mais influente do país, Ricardo Salgado, e o primeiro-ministro José Sócrates, que ainda hoje aguardam julgamento

A 6 de fevereiro de 2006, Paulo e Belmiro de Azevedo surpreenderam o país com uma OPA sobre a poderosa PT, deixando os poderes político e económico em alvoroço

Nos primeiros anos da viragem do século XXI, Belmiro de Azevedo, o patrão da Sonae, e o seu filho Paulo tinham um sonho: comprar a Portugal Telecom (PT), juntar-lhe a Optimus (hoje NOS) e transformá-la no grande operador de telecomunicações do continente africano. Uma estratégia disruptiva. A consolidação nas telecomunicações estava ao rubro, mas a PT não tinha escala para ser um grande operador na Europa, a América hispânica, dominada pela espanhola Telefónica, era um destino inviável e no Brasil, onde a operadora portuguesa dava cartas com a Vivo, havia uma concorrência forte, com o mercado a ser disputado por espanhóis, italianos (TIM) e mexicanos (Claro). O plano estava pré-acordado com a Telefónica, com a qual a PT partilhava a Vivo. Os espanhóis, conta fonte conhecedora do negócio ao Expresso, venderiam a sua participação na marroquina Meditel à PT e esta cederia a sua participação na Vivo — como, aliás, acabou por acontecer.

Consciente de que seria uma luta de David contra Golias, Belmiro e Paulo, de quem tinha sido a ideia, rumaram a Lisboa para informar o então primeiro-ministro, José Sócrates, de que a Sonae ia avançar com uma Oferta Pública de Aquisição (OPA) sobre a PT, então uma espécie de bloco central, onde gravitavam os interesses económicos e políticos do país. São recebidos em São Bento, e Sócrates, fresco no poder e apanhado de surpresa, dá luz verde à ousadia. Garante que o Estado será neutro. Chegara a primeiro-ministro com ímpetos reformistas e terá visto com agrado a operação — foi essa a impressão com que os Azevedos saíram do encontro.