A terceira semana de agosto nos mercados financeiros foi surpreendida pela subida de emergência dos juros pelos bancos centrais da Argentina e da Rússia. Buenos Aires foi sacudida pelo choque político da vitória do ultraliberal Javier Milei nas primária das eleições presidenciais e Moscovo pelo colapso súbito da moeda russa com o dólar norte-americano a trocar-se por mais de 100 rublos. O colapso do rublo levou o Kremlin a pressionar o banco central dirigido por Elvira Nabiullina que acabou por realizar esta terça-feira uma reunião de emergência.
As respostas de emergência levaram o Banco Central da República Argentina a aumentar a taxa diretora (para as Letras de Liquidez - Leliq - a 28 dias) em 2100 pontos-base (21 pontos percentuais) para 118%, o que, em termos efetivos anuais, corresponde a uma taxa de 209%, já acima do anterior recorde mundial de 150% pelo Banco da Reserva do Zimbabué. As autoridades argentinas decidiram ainda desvalorizar oficialmente o peso em 22%, com o câmbio do dólar a subir para 365 pesos no mercado oficial e 685 no mercado paralelo.
Em Moscovo, o Banco da Rússia optou por aumentar a taxa em 350 pontos-base (3,5 pontos percentuais) para 12%. O mercado cambial reagiu esta terça-feira com um recuo no colapso do rublo, que, quatro horas depois da decisão ser anunciada, registava o câmbio do dólar abaixo de 100 rublos. No entanto, depois de uma primeira reação com uma descida até 95 rublos por dólar, a trajetória cambial voltou a subir, situando-se, agora, acima de 98 rublos. Recorde-se que, na segunda feira, o dólar chegou a trocar-se por quase 102 rublos e o euro por perto de 112 rublos. O banco central justificou a aceleração do aperto monetário com a chegada da inflação a 4,4% em julho.
A ironia da decisão de emergência do governo argentino, cujo candidato ficou em terceiro lugar nas primárias presidenciais, é que se registou no mesmo dia em que o Fundo Monetário Internacional (FMI) comunicou que chegou a acordo para o fecho da 5ª e 6ª revisões do andamento do programa ligado ao empréstimo feito em março do ano passado. O FMI deverá aprovar a 23 de agosto o desembolso de novas tranches do empréstimo feito em março do ano passado e que durará até setembro do próximo ano. A linha já foi usada em 67% do seu montante. A Argentina realiza eleições presidenciais a 22 de outubro e o candidato ultraliberal Milei pretende, entre outras medidas, dólarizar a economia e fechar o banco central.