O ano de 2022 foi catastrófico para a maioria das empresas do setor tecnológico. A mudança brusca de ciclo económico, com a forte inflação e a subida rápida das taxas de juro, despoletou fortes desvalorizações em Bolsa destas empresas. O número de clientes recuou, as receitas caíram, despedimentos massivos seguiram-se.
O ritmo de subida dos lucros foi, neste segundo trimestre, ainda morno. Mas há razões para otimismo entre as chamadas FAANG, as tecnológicas com maior crescimento no mercado norte-americano, e incumbentes como a Microsoft, dizem os analistas ouvidos pelo Expresso.
Algumas das FAANG - acrónimo que denota a Meta (antes Facebook); a Amazon; a Apple; a Netflix; e a Alphabet, dona da Google - já apresentaram resultados do segundo trimestre de 2023. A Amazon e a Apple reportam resultados no dia 3 de agosto. Entretanto, a Meta, a Netflix, e a Alphabet já têm as suas contas divulgadas ao mercado, tal como a Microsoft.
A Meta anunciou na quarta-feira uma subida de 11% das receitas no segundo trimestre para os 31.999 milhões de dólares (cerca de 28.494 milhões de euros ao câmbio atual). Já acumula ganhos em bolsa de 154% desde o início do ano, superando as perdas catastróficas registadas no ano passado que se traduziram no desaparecimento de mais de 60% do seu valor de mercado.
O regresso dos anunciantes depois dos cortes do ano passado alçaram os lucros da dona do Facebook, apesar de ainda continuar a “queimar” dinheiro na sua divisão de realidade virtual, alertam no comunicado aos mercados. Os lucros subiram 16% para os 7788 milhões de dólares (6935 milhões de euros).
A Netflix, que em 2022 chegara a perder num só dia um quarto da sua capitalização de mercado, já se valorizou mais de 43% desde o início do ano tendo aumentado o número de assinantes no segundo trimestre graças ao controverso fim da partilha de palavras-passe.
A Alphabet e a Microsoft, por sua vez, beneficiaram ambas do aumento da procura por serviços na “nuvem” (cloud, ou armazenamento remoto de dados), registando ambas subidas nas receitas e subidas de 49% e 40%, respetivamente, em bolsa desde o início do ano.
IA a motivar otimismo
As razões para este otimismo ainda cauteloso são múltiplas, e analistas arriscam dizer que a aposta de empresas no desenvolvimento de plataformas com base em Inteligência Artificial (IA) pode ser um dos fatores para esta aposta dos mercados.
“Existem algumas razões para este otimismo, mas mais seletivas, ou seja relativas a algumas empresas e não a todo o setor, nomeadamente um futuro mais risonho no segmento mais ligado à inteligência artificial”, diz Mário Martins, analista da ActivTrades, num comentário ao Expresso.
“Por enquanto, é ainda mais uma promessa de aumento de receitas e de lucros, do que concretização efetiva do potencial, que só deverá chegar nos próximos cinco anos. Portanto, a dada altura a promessa terá de demonstrar que tem fundamento para existir, ou a desilusão rapidamente se irá instalar e com ela a pressão vendedora”, acrescenta.
"As empresas tecnológicas têm surpreendido pela positiva. Os resultados do segundo trimestre da Alphabet foram muito sólidos em todos os segmentos de negócio, com os lucros do YouTube a aumentarem, bem como o negócio principal da empresa, a publicidade e a pesquisa no navegador Google. Os investidores também se mostraram positivos em relação ao impacto da IA e do Google Cloud, constata Nuno Mello, da corretora XTB, ao Expresso.
A Microsoft e a Alphabet, as duas com apostas fortes em IA, também foram beneficiadas por esta “onda” de esperança nos frutos desta tecnologia. “Os resultados da Microsoft para o segundo trimestre fiscal de 2023 saíram, na sua maioria, em linha com as expectativas do mercado. Já os resultados da Meta superaram as expectativas dos analistas tanto na receita quanto no lucro por ação. Os investidores receberam com euforia os comentários da empresa sobre o desenvolvimento da IA e a recuperação do sector da publicidade”, descreve o analista.
Futuro risonho?
“Para o segundo trimestre, as estimativas sugerem que os ganhos do S&P 500 devem diminuir 7,2%, o que será o terceiro trimestre consecutivo de crescimento negativo dos ganhos e o maior declínio dos ganhos desde o segundo trimestre de 2020”, segundo Nuno.
O pessimismo tem sido tão generalizado que qualquer sinal positivo nos próximos tempos brilhe de outra forma: “No entanto, tal como se verificou no último trimestre, as expectativas de lucros mais reduzidas podem também proporcionar um obstáculo menor para um desempenho superior e espaço para surpresas positivas”, considera.
“A orientação futura das empresas também tem sido fundamental. A meio da atual recessão de lucros, as estimativas são de que o segundo trimestre marcará o fundo do poço no crescimento dos lucros para o S&P 500, sendo esperada uma recuperação a partir do terceiro trimestre”, arrisca o analista.