Economia

Apoios dos governos na zona euro reduzem o disparo dos preços, indica estudo do FMI apresentado em Sintra

Os governos da zona euro vão gastar 3,3% do PIB em 2022 e 2023 na proteção contra o disparo dos preços da energia e isso reduzirá o nível de inflação em 1,4 pontos percentuais, indica um estudo apresentado no Fórum do BCE

Ralph Orlowski

As medidas de apoio orçamental contra os efeitos negativos nas famílias e empresas do disparo dos preços da energia não só vão ter um efeito positivo nos destinatários desses apoios como já reduziram o próprio nível de inflação em 2022 e vão continuar a ter um efeito de abrandamento da inflação em 2023.

A conclusão foi apresentada esta quarta-feira num painel no Fórum anual do Banco Central Europeu (BCE) por Pierre-Olivier Gourinchas, economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Num artigo publicado por uma equipa dirigida pelo académico da Universidade da Califórnia, em Berkeley, demonstra-se que o custo orçamental de 3,3% do Produto Interno Bruto da zona euro provocado pelas medidas tomadas em 2022 e em vigor durante 2023 vai ter um efeito acumulado de redução do nível de inflação em 1,4 pontos percentuais, com uma distribuição de 0,9 pontos percentuais em 2022 já verificada e de mais meio ponto percentual em 2023.

Os cálculos apresentados por Gourinchas apontam um caso concreto desse efeito benéfico da atuação governamental: na ausência de medidas orçamentais de contenção do disparo de preços na energia, “a inflação [na zona euro] teria tido um pico de 13,7% em outubro de 2022, 3,2 pontos percentuais acima do verificado de 10,6%”.

Em suma, a inflação média anual na zona euro em 2022 teria sido muito superior a 8,4% e a projeção para 2023 seria superior a 5%. Se os governos não tivessem conseguido esse efeito de abrandamento na vaga inflacionista, o BCE teria de ter sido muito mais agressivo no combate ao disparo inflacionista, teria de ter apertado muito mais em 2022 (quando em julho iniciou o ciclo de aumento dos juros) e também em 2023.

No entanto, o economista do FMI adianta que a zona euro contou com dois factores positivos: o choque energético acabou por ser mais temporário em virtude do conjunto de medidas tomadas para fazer face à dependência energética da Rússia e o contexto foi de menor “sobreaquecimento económico” do que nos Estados Unidos.

Pierre-Olivier Gourinchas avisa, no entanto, que depois do efeito positivo de abrandamento em 2022 e 2023, a inflação em 2024, quando as medidas já estiverem descontinuadas, poderá ficar 1,5 pontos percentuais acima do nível em que estaria sem o tal pacote de medidas.