O Instituto Nacional de Estatística (INE) confirmou esta quarta-feira, 14 de junho, a estimativa para a inflação de maio nos 4%, o sétimo mês consecutivo de abrandamento do ritmo de subida dos preços. Em abril a inflação tinha sido de 5,7%.
O INE justifica a desaceleração em parte com o “efeito de base resultante do aumento de preços da eletricidade, do gás e dos produtos alimentares verificado em maio de 2022” e “a isenção de IVA num conjunto de bens alimentares essenciais”, esta última com um impacto de 0,8 pontos percentuais.
Este registo não significa, porém, que os preços estão a descer. Continuam a aumentar em comparação com o ano passado, mas a um ritmo muito abaixo das taxas registadas nos últimos meses de 2022, altura em que a taxa de inflação atingiu picos que não se viam em Portugal há várias décadas.
A taxa de inflação subjacente, que exclui bens alimentares não-processados e energia, por serem mais propensas a oscilações de preço, foi de 5,4% em maio, diminuindo em relação a 6,6% de abril. O comportamento da inflação subjacente tem sido alvo de particular atenção por ser um indicador mais fidedigno para prever a persistência do surto inflacionista.
Os preços dos bens e serviços analisados neste indicador tendem a ser menos voláteis, isto é, menos propensos a mudanças rápidas de preço, do que dos alimentos crus, como fruta, legumes, carne e peixe; e da energia em geral, como gasolina e eletricidade.
Contributo do “IVA zero” estimado em 0,8 pontos
Depois da primeira estimativa avançada no final de maio, o INE atualizou com mais detalhe os números da inflação e mostra quais foram os setores que mais contribuíram para este novo abrandamento. A energia está à cabeça: os preços dos produtos energéticos reforçaram o ritmo de queda em maio, recuando 15,5% face a maio de 2022. Em abril, a queda homóloga tinha sido de 12,7%.
Já o preço dos bens alimentares não transformados continuou a crescer em maio, mas menos: o IPC destes produtos abrandou para os 8,9%, quando um mês antes estava nos 14,1%.
Por classes de despesa, os bens alimentares e bebidas não alcoólicas viram a taxa de inflação desacelerar para os 9,4% em maio, quando em abril estava nos 15,4%, tendo sido a rubrica que mais contribuiu para a taxa de inflação geral.
Ainda assim, o INE destaca o abrandamento, que diz ser “em consequência da anteriormente referida isenção de IVA num conjunto de bens alimentares essenciais”. O INE estima que a medida que isenta um leque de bens alimentares de pagamento de IVA tenha reduzido a taxa de inflação geral em 0,8 pontos percentuais.
A queda de preços na rubrica de habitação, água, eletricidade, gás e outros combustíveis contrabalançou a inflação na alimentação, apresentando uma taxa negativa de 3,1% depois da variação nula de abril; contribuindo para uma redução do índice geral.
Já nos setores de lazer, turismo e restauração a tendência foi diferente, com os preços a aumentarem mais depressa. Na classe de despesa de lazer, recreação e cultura a taxa de inflação de maio foi de 5%, face a 4,6% em abril; e na dos restaurantes e hotéis esta foi de 12,1%, quando em abril se fixara nos 11,8%.
Bancos centrais ainda em alerta
A tendência de abrandamento da inflação é geral entre as grandes economias do Ocidente, o que terá impacto nas decisões de política monetária dos próximos tempos.
Nos EUA, a taxa de inflação abrandou em maio para os 4%; uma dinâmica que a Reserva Federal deverá refletir esta quarta-feira na sua decisão de política monetária, prevendo-se que interrompa o ciclo de subidas nas taxas diretoras e optando por mantê-las, em junho, no intervalo 5%-5,25%.
Já o Banco Central Europeu, na quinta-feira, deverá continuar a aumentar as taxas de juro de referência. O banco de Frankfurt considera que a inflação na zona euro ainda não está totalmente controlada, antecipando mais subidas em 2023 que terão um impacto significativo na vida das famílias com créditos junto da banca.