Economia

Crédito à habitação: Deco quer que Governo recupere linhas de financiamento e dedução de juros no IRS

A Deco recomenda ao Governo que recupere duas medidas de 2008/2009, altura em que a Euribor bateu recordes: que os encargos com o crédito sejam dedutíveis no IRS, e que sejam concedidas moratórias para desempregados há mais de três meses, asseguradas pelo Estado, através de linhas de financiamento

Dougal Waters / Getty Images

Como ajudar as famílias na atual situação de subida de taxas de juro? Para a Deco, seria interessante recuperar duas medidas do passado: uma delas passa por criar linhas de financiamento que facilitem aos bancos oferecer moratórias às famílias vulneráveis que queiram negociar o crédito à habitação; outra passa por permitir à generalidade das famílias deduzir no IRS os custos com o crédito para a casa própria.

Natália Nunes, coordenadora do Gabinete de Proteção Financeira (GPF) da Deco - Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor falava, esta quarta-feira, no Parlamento, na Comissão de Orçamento e Finanças (COF), onde começou por explicar que, efetivamente, as atuais taxas de incumprimento são baixas, uma vez que a população “recorre a toda a poupança e ajudas” e a casa é a última coisa a deixar de ser paga.

“Viemos de dois anos de pandemia, em que as famílias tiveram algumas medidas que não tinham de pagar, o que permitiu que não entrassem em incumprimento. Por outro lado, as famílias conseguiram poupar”, notou também a responsável.

Mas, apesar da taxa de incumprimento ser ainda baixa, não é necessariamente o que acontecerá no futuro. “Se as prestações aumentarem agora e [as pessoas] conseguirem pagar, podem não conseguir daqui a seis meses e não se perspetiva que o aumento salarial faça face a estes aumentos”, disse.

Para tal há medidas que deveriam ser implementadas - ou pelo menos estar ‘em cima da mesa’. Uma delas já o Governo propôs, e a Deco elogia: a renegociação do crédito para algumas famílias, que estejam em dificuldades financeiras. Segundo noticiado, os bancos devem avançar com a renegociação imediata para aqueles que tenham uma taxa de esforço (percentagem do rendimento familiar destinada ao pagamento de todos os créditos contraídos - e não só habitação) de, pelo menos 50%, e renegociar a quem tenha uma taxa de esforço superior a 40% e um aumento de cinco pontos percentuais, no último ano de financiamento.

A Deco alertou, contudo, que “deve haver elasticidade do lado dos bancos” para a renegociação.

Outra medida é “voltar a 2009, quando foi criada uma linha de financiamento" para apoiar as famílias. Na altura, o Governo socialista criou “uma medida extraordinária e transitória destinada a criar as condições para que seja concedida aos mutuários, desde que se encontrem na situação de desemprego há, pelo menos, três meses, uma moratória no reembolso dos empréstimos à habitação própria e permanente”, segundo se lê no decreto-lei respetivo (103/2009). Para tal, foi criada uma linha de crédito, disponibilizada pelo Estado, que financiava a referida moratória, durante um prazo máximo de 24 meses. Ou seja, caso a Deco se refira a uma medida igual à de 2009, o que é pretendido é que o Governo financie os bancos para que estes possam oferecer moratórias aos clientes.

Apoios financeiros?

Questionada por Fátima Correia Pinto, deputada socialista, se a Deco concorda com os apoios financeiros implementados pelo Governo e propostos para o Orçamento do próximo ano, Natália Nunes indicou que os apoios, como os 125 euros que chegam este mês às famílias, “são importantes, mas não ajudam a minimizar o impacto do aumento do crédito à habitação”.

As medidas do IRS propostas no Orçamento do Estado para 2023, como a redução da taxa de retenção na fonte para as pessoas pagarem menos de IRS - por forma a reduzir os reembolsos após a entrega do IRS - são positivas, mas atentou que “ou as pessoas têm controlo e capacidade de gestão financeira, ou pode provocar algum descontrolo”, pois usavam o dinheiro do reembolso para pagar o IMI ou outros encargos.

No entanto, Vinai Pranjivan, responsável do departamento jurídico da Deco, que também estava presente na Comissão, indicou que seria interessante “voltarmos ao passado, com a medida de dedução no IRS” dos encargos com crédito à habitação, aplicável à generalidade das famílias que pagam juros.

Questionado pelo Chega, quanto à possível continuação do apoio de 125 euros em 2023, mas todos os meses (proposta do partido), o responsável indicou que “um aumento de liquidez é sempre bem vindo, desde que haja critérios”, mas num contexto em que “o Orçamento do Estado tem de ser bem gerido, há medidas que poderiam ser mais interessantes, como replicar o modelo de 2009”, insistiu.