Economia

Investigação em Portugal: um mundo que enfrenta o pouco envolvimento das empresas e a precariedade

Ser investigador traz consigo diversos desafios, nomeadamente o limitado envolvimento das empresas e as condições de trabalho precárias, nota um estudo do Observatório Social da Fundação “la Caixa”

Jonas Gratzer/LightRocket/Getty Images

Como é ser investigador em Portugal? Uma profissão que enfrenta diversos desafios, nomeadamente o limitado envolvimento das empresas, condições de trabalho precárias e falta de oportunidades de emprego no setor empresarial. São estas as principais conclusões do estudo “Recursos humanos para investigação em Portugal e Espanha”, estudo que faz parte do dossier investigação e inovação em Portugal e Espanha do Observatório Social da Fundação “la Caixa”.

Segundo o estudo - realizado pelos investigadores Tiago Santos Pereira (Universidade de Coimbra), Cláudia Sarrico (Universidade do Minho), Laura Cruz Castro e Luis Sanz Menéndez (do Instituto de Políticas e Bens Públicos do Conselho Superior de Investigações Científicas, do governo espanhol) - o número de investigadores em Portugal tem vindo a aumentar, mas a participação de Portugal no total de investigadores da União Europeia (UE) diminuiu nos últimos dez anos.

Não só em Portugal, o mesmo aconteceu na Finlândia, França e em Espanha.

Qual o desafio? Segundo o estudo é “aumentar o número de investigadores que trabalham no setor privado”, pois em Portugal a maioria dos investigadores encontra-se no ensino superior. Aqui as empresas também perdem, pois caso investissem em investigação e desenvolvimento (I&D) seria uma aposta na inovação.

A despesa empresarial em I&D em percentagem do PIB (produto interno bruto) em Portugal é cerca de metade da média da UE. “E a média da UE, de 1,46% do PIB, está muito aquém da média dos principais concorrentes da Europa, como os Estados Unidos (2,05%) e o Japão (2,60%)”, indica o estudo.

A tudo isto se junta um dos maiores problemas - global, mas particularmente em Portugal - que é a precariedade que caracteriza esta profissão. Em Portugal mais de metade dos investigadores tinha um contrato a termo certo, com a consequente insegurança no emprego.

Para resolver estas questões, nos próximos anos, Portugal precisa que haja cooperação entre Ciência e empresas e parcerias público-privadas para se conseguir absorver eficazmente os novos fluxos de financiamento europeus disponíveis no contexto do Plano de Recuperação e Resiliência. É também necessário adotar políticas de procura, para não deixar fugir doutorados e investigadores para o estrangeiro.

O Observatório Social da Fundação “la Caixa” visa fornecer diagnósticos da realidade social nas áreas do conhecimento relacionadas com as grandes linhas de atuação da fundação: social, educativa, cultural e de investigação. A fundação entrou em Portugal em 2018, consequência da entrada do BPI no Grupo CaixaBank.